quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Kenneth Ring e o Projeto Ômega


Recentemente, foi lançada a obra Project Omega [Projeto Omega], de autoria de Kenneth Ring, contendo relatos sobre abduções e experiências de quase morte, conhecidas como ECD. Ring dedicou ao assunto grande parte de sua vida, por crer que ambos os tipos de experiências fossem muito semelhantes. Seu livro retrata não só a realidade da abdução, analisando sua ocorrência entre pessoas em diversas partes no mundo, como também o impacto que esse fenômeno vêm causando na vida de seus protagonistas. E fez uma correlação com experiências de quase morte, aquelas em que uma pessoa passa alguns instantes – de alguns segundos até horas – com morte clínica. Qual é a relação existente entre esses dois acontecimentos? Que paralelismo surge entre a abdução propriamente dita e as experiências de quase morte? Ou ainda, que semelhanças existem entre a abdução e as denominadas experiências fora do corpo (EFC)? Em meados de 1993, com o lançamento do livro Secret Life, de David Jacobs [Vida Secreta, recém publicado no Brasil pela Rosa dos Tempos.], contendo abundantes depoimentos de pessoas que afirmam ter sido seqüestradas por extraterrestres, muita coisa nova se aprendeu sobre as abduções.

Entre os casos narrados, havia vários que se tratavam de experiências de quase morte ou fora do corpo. Certos casos se parecem mais com uma viagem astral do que a uma abdução convencional, pois diversas testemunhas alegam atravessar janelas (apesar destas estarem fechadas), ou afirmam flutuar através de túneis luminosos. Outro exemplo da semelhança entre ambos os fatos aparece quando testemunhas afirmam que atravessaram objetos sólidos como se a matéria não representasse obstáculos para elas. Logo, é necessário apurar se realmente esses casos têm de fato ligação com o fenômeno da abdução. No caso das experiências fora do corpo, assim como das também populares experiências próximas à morte, vários trabalhos documentados de investigadores como Raymond Moody, Elizabeth Kübler-Ross ou Melvin Morse parecem demonstrar que existe um toque de realidade nestes fatos, principalmente no que concerne às abduções. Moody entende que através da hipnose – uma ferramenta muito importante para as investigações – o estudo dos raptos por alienígenas tem sido desenvolvido mais facilmente, apesar de ser objeto de controvérsias em relação à veracidade das recordações que os abduzidos relatam.

Após uma experiência de abdução, o raptado pode padecer ou apresentar uma amnésia temporária, e somente uma hipnose regressiva pode ser capaz de recuperar as informações perdidas. Até hoje, ninguém havia pesquisado a relação existente entre fenômenos tão díspares como as experiências próximas à morte e as abduções, apesar de muitos pesquisadores anunciarem que a inteligência escondida atrás desses fenômenos era a mesma. É o caso de Ignacio Darnaude, conforme publicado em uma matéria na revista espanhola Más Allá de La Ciencia. Na publicação, Darnaude reconhece similaridades marcantes entre ECD, EFC e os seqüestros por alienígenas. “Não escapa a qualquer atento observador que esse quebra-cabeças fenomenológico é sempre o mesmo através dos séculos, causado por energias intencionais dedicadas a interagir com o ser humano”, disse o autor. Para ele, tais inteligências por trás de todos estes fenômenos vêm se adaptando à nossa realidade, mediante um disfarce simbólico aplicado a cada época, cultura e costumes.

Consciência Planetária

A esta conclusão também chegou Kenneth Ring, professor emérito de Psicologia na Universidade de Connecticut. De acordo com as investigações deste autor, “a Humanidade como um todo está lutando coletivamente para despertar um tipo de consciência nova e superior, à qual muitos já vêm chamando de consciência planetária. As experiências próximas à morte, assim como as abduções, a partir desta perspectiva seriam um instrumento evolutivo para provocar esta transformação ao longo dos anos em milhões de pessoas”. O próprio Whitley Strieber, conhecido escritor norte-americano e vítima de abdução, reconhecia no prólogo do livro de Ring que, para a vida das vítimas, as abduções têm um efeito posterior imediato e estranho. Tanto as experiências próximas à morte como os supostos encontros com extraterrestres representam um poderoso material psicológico para estudos nesse campo.

Neste sentido, também o professor de Psiquiatria John E. Mack advertiu que muitas das pessoas que têm vivido experiências de abduções ou contatos com seres extraterrestres vêm desenvolvendo uma profunda consciência ecológica e uma intensa preocupação pela sobrevivência de nosso planeta. Na opinião de Ring, a chave para solucionar o caso dessas experiências de contato com a morte e as abduções realizadas por alienígenas reside no estudo de seus efeitos posteriores, ou seja, está precisamente ligada às conseqüências que tais fatos ocasionam nas vítimas futuramente, o que resulta numa grande revelação. Poderíamos resumir essa hipótese dizendo que a pessoa que passou por qualquer das duas experiências amadureceu notavelmente. Ring se refere a esta transformação como a uma semente, devido a sua capacidade de crescer e se desenvolver com o passar do tempo.

“As experiências próximas à morte podem modificar drasticamente a personalidade do indivíduo, pois as pessoas que estiveram diante de tais vivências têm desenvolvido uma extrema fé religiosa, demonstrando que passaram a perceber melhor o que o ser humano representa no Universo”, afirma Ring. Pode ser que tal crença seja falsa ou supersticiosa, mas evidencia que tal mudança no modo de ver o mundo caracteriza o ponto de origem de uma nova crença religiosa. Normalmente, o indivíduo que passou tanto por uma experiência de contato com a morte quanto por uma visita de ETs a relata primeiramente a um investigador, pois este é visto como um verdadeiro confessor, disposto a escutar o que os abduzidos têm a dizer e a conhecer suas sensações mais profundas. Quem passou por tais experiências evita relatá-las a seus familiares ou amigos. Frases como “o mais impressionante que me aconteceu” ou “foi simplesmente indescritível” são habituais quando examinamos ambos os casos de EFC, ECD e de contatos com alienígenas.

Atualmente, várias fundações de ajuda a testemunhas ou vítimas dessas situações têm oferecido terapias para auxiliá-las a compreender melhor suas experiências. Mas existe o risco de que essas instituições contribuam para que todas as pessoas que viveram EFC e ECD creiam ter vivido unicamente experiências relacionadas com contatos extraterrestres. É preciso que se separe os assuntos e que os mesmos sejam tratados de forma diferenciada. Em um apêndice de Project Omega, Strieber diz que testemunhas de uma experiência próxima à morte, que passam pelo constumeiro “túnel de luz”, fazem praticamente o mesmo trajeto pelo qual flutuam os abduzidos até uma eventual nave extraterrestre. Não seriam dois caminhos para se chegar a um mesmo fim?

Artigo de Josep Guijarro, que é escritor da revista espanhola Mas Allá de La Ciencia

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Courtney Brown e a Visão Remota


Um fascinante campo de estudos surgido há pouco mais de uma década e em franco crescimento em todo o mundo, promete facilitar a pesquisa ufológica. Ainda que com muita polêmica. Trata se da visão remota ou RV, do inglês remote viewing. A disciplina, como todas as novidades que desafiam o conhecimento ortodoxo, aglutina curiosos e cientistas de vanguarda, que buscam descobrir mistérios à distância apenas com o uso da mente. Um expert no assunto é o professor Courtney Brown, catedrático de ciências políticas da Emory University, em Atlanta, Estados Unidos. Autor de dois livros pioneiros na área, Brown não apenas investiga e divulga o assunto, como garante que a faculdade de visão remota pode ser exercida pela maioria das pessoas.

“Em geral, não há necessidade da pessoa ter alguma capacidade paranormal, mas ela ajuda e é essencial que o interessado em praticar visão remota tenha muito tratamento e disciplina”, diz Brown. Seu primeiro livro, Cosmic Voyage [Viagem Cósmica], foi recebido com espanto pela comunidade científica dos EUA. Mas a obra foi considerada por eminentes ufólogos como uma viagem extraordinária a um dos mais profundos mistérios sobre contatos extraterrestres e o futuro da humanidade, como definiu Budd Hopkins.

Livro Cosmic Voyage [Viagem Cósmica]

Cosmic Voyage descreve o que Brown e um grupo de pessoas descobriram sobre os UFOs e extraterrestres através da visão remota – entre outras coisas, que há possibilidade de contatos com ETs através do método. Mas o autor não parou por aí e em seu segundo livro, Cosmic Explorers [Exploradores Cósmicos], aprofundou-se ainda mais na questão, discutindo com os leitores técnicas que desenvolveu para a prática da visão remota. Confira a entrevista concedida à Revista UFO.

UFO — Professor Brown, em 1996 houve um grande alarde sobre visão remota. Pela primeira vez, a CIA e o Pentágono liberaram documentos em que declararam ter feito serviços de espionagem por intermédio de médiuns para descobrir alvos inimigos. O senhor especializou-se nessa área e lançou dois livros. Como desenvolveu seus estudos e quais foram os resultados?

BROWN — Esta capacidade extra-sensorial foi inicialmente estudada por Ingo Swann, um médium e gênio que a possuía RV abundantemente, e passou a investigar o tema. Swann alega ter descoberto o que seu espírito fazia quando recebia impressões das mais remotas regiões do planeta, usando a técnica. Viessem as impressões do quarto ao lado ao seu ou de regiões longínquas do globo, a pergunta continuava sendo: como se consegue receber estas informações? Mentalmente? Após desenvolver essa capacidade, a questão se tornou bastante clara e ele, então, passou a defender que qualquer um podia fazer o mesmo. E colocou-se a ensinar a técnica aos outros. Em seguida, Swann ofereceu seus serviços aos militares e estes se interessaram, pois podiam obter informações sobre bases militares inimigas sem expor a vida de agentes e espiões, evitando assim riscos como prisões e torturas dos mesmos. Swann foi solicitado a formar 19 militares norte-americanos de uma unidade especial, que usaram suas faculdades para adquirir informações específicas à distância – e muitos obtiveram sucesso. Os generais estavam preocupados se poderia haver nos campos de batalha inimigos novos modelos de tanques, novas armas que ainda não conheciam e sobre as quais não estariam preparados à altura. E todas estas informações foram obtidas por Swann e seus homens. Estes “espiões PSI” chegaram a ter uma quota de acerto de 80% a 85% das tentativas.

UFO — Como o senhor soube desta unidade militar e de que forma chegou até ela?

BROWN — Foi acidentalmente que entrei em contato com alguns ex-associados desta unidade, e fiquei espantado. Não sabia que ela existia... Hoje em dia todo mundo tem conhecimento deste projeto do governo, pois muitos documentos foram liberados pela CIA durante a administração Carter. Até o ex-diretor da Agência, o almirante Stanfield Turner, deu uma entrevista pela tevê em que falou sobre programas antes secretos, como Grillflame, Hourglass, Stargate etc. Esse assunto também foi veiculado em várias revistas. Na época, isto tudo era novidade para mim, e acabei descobrindo que a pesquisa da RV não era propriamente coordenada pela CIA, mas pela Agência de Inteligência de Defesa, a DIA [Defense Intelligence Agency]. Queria saber mais sobre o assunto e um dos integrantes me convidou para fazer o curso, baseado em princípios militares. Porém, não quis usar os conhecimentos que vim a adquirir para fins bélicos e sim científicos – principalmente voltados para o Fenômeno UFO. E tudo que consegui através desta técnica está em meu livro Cosmic Voyage.

UFO — Quais foram os resultados obtidos com os procedimentos de SRV em Marte?

BROWN — O assombroso é que algo que eu chamo de “espírito do espaço” ou “alma do espaço”, seja lá o que for, aparece em nossas prospecções. Por exemplo, pedimos aos praticantes que captem um número específico que esteja associado e esse espírito, para efeitos de comparação. E todos captam o mesmo número. Então, todos os resultados são analisados seguindo normas idênticas: um técnico do instituto faz uma série de perguntas selecionadas do manual, a cada sensitivo. Assim é que era feito pelos militares, uma técnica que nós revisamos, adaptamos e sistematizamos para nosso trabalho. O sensitivo deve seguir todos os protocolos do manual, para que suas respostas constituam uma seqüência lógica de fatos, com começo, meio e fim. A SRV é um tanto complicada de se analisar. Por isso, é necessária muita cautela.

UFO — O senhor vê possibilidade de contatos com seres extraterrestres através da SRV?

BROWN — Sim, desde que feito cientificamente, para que seja aceitável. A linguagem da SRV serve como uma forma de comunicação entre nós e este espírito do espaço, de onde quer que seja. Cada vez mais nos assombramos com a exatidão dos resultados obtidos por diversos sensitivos, quando fazemos nosso trabalho tendo como alvo Marte. Mantemos um arquivo destas sessões e comparamos os resultados.

UFO — O senhor analisou diversos aspectos da fenomenologia ufológica. Quais são suas conclusões quanto ao Caso Roswell?

BROWN — Analisamos Roswell cuidadosamente, com prospecção do exato local e data onde e quando tudo aconteceu, empregando SRV. Para termos certeza dos resultados, primeiro empregamos praticantes iniciantes da técnica e guardamos seus resultados. E depois usamos os mais experientes, comparando em seguida o que descobriram. É impressionante como as informações batem e os mais treinados captam exatamente o mesmo que os novatos, que descrevem os fatos com precisão, apesar de não saberem do que se tratava. Durante meu treinamento, junto dos militares, levei 15 minutos para descobrir o que era aquilo que eu captei e me assombrei. Era Roswell, algo que só conhecia vagamente. Descrevi a nave que caíra no deserto, vi as pessoas andando de cá para lá, catando pedacinhos de metal no chão, e os sobreviventes extraterrestres sendo levados. Só podia ser o Caso Roswell. Depois descobri até para onde foram transportados os destroços da nave e em que laboratórios foram analisados.

UFO — Onde ficam esses laboratórios e como o senhor pode ter certeza de que captou coisas reais?

BROWN — Tenho certeza porque confrontei tudo o que captei e o que outros captaram com a literatura sobre o tema. As informações são incrivelmente coincidentes. Quanto aos laboratórios, eles estão localizados nos locais mais secretos dos Estados Unidos. Eu poderia dizer em que estados, cidade etc, porém estaria violando segredos militares do governo, o que não posso fazer. No Farsight Institute, queremos que o governo nos aceite, que confie em nós, para que possamos oferecer-lhe nossos serviços. Principalmente no que se refere ao contato com extraterrestres. Queremos ajudar a preparar o povo para este contato. E, revelando segredos governamentais, estaríamos perdendo a confiança de quem precisamos conquistar. Alguns dos antigos praticantes da visão remota deixaram vazar informações e isto deu muito trabalho a Washington. Para mim, esses vazamentos foram bons, porque assim que soube dessa área de pesquisas e comecei a investigar a técnica.

UFO — O que o senhor descobriu, através da SRV, sobre os seqüestros feitos por alienígenas?

BROWN — Em 1994, antes de sair o livro de John Mack, Abduction, Human Encounter with Aliens [Abduções, Encontros de Humanos com Aliens], ocorria um fato. Sempre que os militares ou um de nós queria pesquisar através da SRV algum caso de abdução, simplesmente não conseguíamos acessá-lo. Parecia que os ETs bloqueavam nossa capacidade de captação, nosso sinal. Sim, descobrimos que eles têm este poder. E às vezes nos davam uma informação diversa da que queríamos, com certeza para que a pesquisássemos e percebêssemos que alguém estava interferindo. Porém, isto tudo começou a mudar a partir do momento em que foi lançado o livro de Mack, quando percebemos que o “embargo alienígena” havia cessado. Acredito que foi porque o livro apresentou uma faceta mais positiva dos grays [Cinzas], mostrando-os mais compreensivos, misericordiosos e simpáticos de como eram vistos antes. Mack ajudou a evitar que muitos leitores entrassem em pânico. Então, a partir daí, não tivemos mais dificuldade em acessar e prospectar casos de abduções.

UFO — O senhor passou então a trabalhar com os casos de abdução?

BROWN — Sim, a partir desse momento começamos a trabalhar cada vez mais com casos de contato direto com seres extraterrestres. E uma coisa que percebemos logo de cara era que, quando entrávamos no consciente dos abduzidos, eles pareciam entrar em pânico. Mas em seu íntimo, observávamos que sabiam que estavam servindo para um objetivo muito grande, uma missão. E isto faz sentido, pois se o praticante da SRV volta no tempo – e pode fazer isto –, ele observa que aquela pessoa já tinha relacionamento com grays desde sua infância. Estas pessoas sabiam que em sua fase adulta eles interagiriam novamente com elas

UFO — Quais outros grupos de extraterrestres nos visitam, além dos grays?

BROWN — Só detectamos dois grupos até agora: os grays e uma outra raça, que viveu um Marte, no passado. Eu sei que essa informação é assombrosa. Onde já se viu, falar em ETs marcianos? Mas o fato é que Marte já teve uma forma avançada de vida e temos percepções muito nítidas dela através da SRV, de sua existência e atuação. Há muito tempo, quando os dinossauros ainda viviam na Terra, havia em Marte uma civilização que tinha a mesma evolução cultural dos egípcios, há 5 mil anos, quando foram construídas as pirâmides. Esta civilização foi destruída por um holocausto planetário natural e inevitável, produzido por um corpo errante. Essa informação é cientificamente válida e o resultado da explosão extinguiu quase toda a vida que havia em Marte, gerando o cinturão de asteróides entre a órbita do planeta e Júpiter. Mas nem todos os membros da civilização marciana morreram, muitos migraram para outros orbes. Segundo nossas informações, eles estariam hoje, tecnologicamente, uns 150 anos a nossa frente.

Courtney Brown pode ser contatado através do endereço: Department of Political Science, Emory University, Atlanta, Georgia 30322, Estados Unidos. E-mail: polscb@emory.edu.

Confira na íntegra a entrevista comprando agora mesmo a Revista UFO, edição 92, de outubro de 2003.

Autor: Equipe UFO
Fonte: Revista UFO, outubro de 2003, edição n° 92
http://www.ufo.com.br/index.php?arquivo=notComp.php&id=926

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Universos Paralelos



(Press Association Ltd 2007.)

De acordo com cientistas de Oxford os universos paralelos realmente existem e a descoberta matemática é descrita por um dos especialistas como um dos mais importantes desenvolvimentos na história da ciência.

A teoria dos universos paralelos, inicialmente proposta em 1950 pelo físico norte-americano Hugh Everett, ajuda a explicar os mistérios da mecânica quântica que se alega causam perplexidade aos cientistas por décadas.

No universo de "múltiplos mundos" de Everett toda vez que uma nova possibilidade física é explorada o universo se divide. Dado um número de acontecimentos alternativos possíveis, cada um se apresenta em seu próprio universo.

Um motorista que cometeu um quase erro, por exemplo, pode se sentir aliviado por sua sorte em escapar. Mas em um universo paralelo, outra versão do mesmo motorista morrerá. Outro universo todavia verá o motorista se recuperar após tratamento em um hospital. O número de cenários alternativos é infinito.

É uma idéia bizarra que foi descartada como fantasiosa por muitos especialistas. No entanto, as novas pesquisas de Oxford mostram que ela oferece a resposta matemática para os dilemas quânticos que não podem ser descartados com a mesma facilidade e sugere que o Dr Everett, que era um estudante de Phd na Princeton University quando apresentou a teoria, estava no caminho certo.

Em comentário no New Scientist magazine, o Dr Andy Albrecht, um físico da University of California em Davis, afirmou: "este trabalho será considerado como um dos mais importantes desenvolvimentos na história da ciência."

De acordo com a mecânica quântica, nada na escala subatômica pode ser considerado existir até ser observado. Até então, a partícula ocupa um estado nebuloso de "superposição" girando para "cima" ou para "baixo" ou parecendo estar em lugares diferentes ao mesmo tempo.

A observação parece "estabelecer" um estado particular da realidade, da mesma maneira que uma moeda que foi atirada ao ar somente pode ser considerada estar em "cara" ou "corôa" depois de capturada.

De acordo com a mecânica quântica, partículas inobservadas são descritas como "funções de onda" representando um conjunto de múltiplos estados "prováveis". Quando o observador realiza a medição, a partícula então se fixa em uma destas múltiplas opções.

A equipe de Oxford, liderada pelo Dr. David Deutsch, mostrou matematicamente que a estrutura tipo "arbusto" - criada pelo universo que se divide em paralelas versões de si mesma - pode explicar a natureza de probabilidades dos resultados quânticos.

sábado, 15 de novembro de 2008

Waldo Vieira e a Projeciologia


Waldo Vieira é médico, pesquisador e veterano das chamadas EXPERIÊNCIAS FORA DO CORPO. Dirige o mais importante centro mundial de estudos sobre PROJEÇÃO ASTRAL, o INSTITUTO INTERNACIONAL de PROJECIOLOGIA do R. de Janeiro. Membro da SOCIETY FOR PSYCHICAL RESEARCH de Londres, e da AMERICAN SOCIETY FOR PSYCHICAL RESEARCH de Nova Iorque, entre outras, Waldo resumiu tudo que se sabe sobre o assunto num volume com mais de 900 paginas. O livro "PROJECIOLOGIA" está hoje espalhado por todo o mundo. Dois desses exemplares encontram-se na estação brasileira de pesquisas científicas na Antártida. Alguns pesquisadores ali baseados buscam alívio para a solidão dos longos dias e noites do Pólo Sul visitando suas famílias através de viagens astrais.

AZ - Waldo, o que a Projeciologia estuda?

WV - A projeção consciente e seus fenômenos correlatos. A projeção é uma experiência extracorpórea que também chamamos desdobramento lúcido, viagem astral, projeção astral, O.O.B.E (out-of-the-body experience). Mas a coisa não se restringe à experiência em si. A Projeciologia visa o autoconhecimento profundo. Ela evita que o misticismo religioso, o fanatismo, a ignorância ou que qualquer tipo de superstição nos tire a liberdade individual de manifestação. Nada de lavagens cerebrais ou quaisquer tipos de sacralização. O fanático é interferente, radical e quase sempre desrespeitoso. Livre desses condicionamentos a pessoa cresce como ser humano e percebe que deve respeitar os outros.

AZ - Quer dizer que a Projeciologia é contra a doutrinação?

WV - Nós respeitamos todas as doutrinas, mas o conceito principal do nosso estudo é: "Não acredite em ninguém e em nada. Experimente". Parece uma afirmação materialista, mas não é. Pelo contrário, é espiritualista, porque nós estamos exaltando a consciência. A pessoa deve viver a experiência direta e por conta própria. Através de sua vivência, única e personalizada, ela vai superar o obstáculo da inciência, ou seja, a ignorância a respeito de si mesma.

AZ - Aparentemente isso afasta a Projeciologia do que, em geral, se entende por pesquisa científica.

WV - Nós apenas não estamos presos ao mecanismo do paradigma newtoniano-cartesiano, que é materialista e fisicalista. Isto não significa, necessariamente, a negação da Ciência. Pelo contrário, nós precisamos dela. Aliás, de todas as linhas do pensamento humano, ela é a menos pior. A Ciência só não é ainda ideal porque não tem respeitado a ética tanto quanto se poderia esperar. Veja os problemas que o mundo enfrenta no momento, principalmente na área da ecologia.

AZ - Mas isso é causado pela Ciência ou pelo uso inadequado dela?

WV - A administração também é uma ciência. É por aí, geralmente, que nos afastamos da ética. É necessário que tenhamos autocrítica para conquistarmos a liberdade de determinar a trajetória da sociedade.

AZ - O que é projeção astral?

WV - O homem se compõe de várias camadas superpostas de energia chamadas "corpos". O corpo físico é a camada percebida pelos sentidos físicos, o que não impede a detecção das demais através de vários processos. A sede da individualidade, da inteligência, encontra-se no corpo físico quando todas as demais camadas estão em coincidência, isto é, quando a pessoa está acordada. Com o sono, é como se o corpo ligasse o "piloto automático" das funções autônomas, e a sede do eu, juntamente com as outras camadas, sai do corpo físico. As funções normais do indivíduo estão inibidas pelo sono e tudo se passa como se nada tivesse acontecido. O que pode ocorrer é que a pessoa, de repente, se ache "boiando" pelo quarto, como um balão, ou observando o seu próprio corpo adormecido. Quase sempre esse fenômeno ocorre espontaneamente e quem o experimenta, muitas vezes evita comentá-lo, com medo da reação dos outros. A projeção astral é muito comum na adolescência. Quando o jovem conta aos pais que fez uma projeção, geralmente eles tentam tranqüilizar o filho procurando convencê-lo de que tudo não passou de um sonho. Em certos casos, procuram imediatamente um médico. Atualmente, com a maior divulgação dos estudos sobre esse tipo de fenômeno, ficou mais fácil falar do assunto sem correr o risco de ser internado numa clínica.

AZ - Em linhas gerais, o que se deve fazer para experimentar uma Projeção astral?

WV - Não se deve tentar sem conhecimento ou assistência competente. Mas não é tão difícil de ser conseguida quanto parece. Todos nós realizamos a projeção astral involuntariamente a noite durante o sono. As instruções elementares, ministradas em nosso curso, são simples. De início, é preciso aceitar o fato de que o seu limite não se restringe ao corpo físico. A força inibidora mais poderosa está justamente nesta falsa noção. É preciso também aprender a relaxar. Há vários métodos para isso. O mais comum consiste em deitar-se de barriga para cima usando roupas leves e sem cobertores. Em seguida inclinar levemente a cabeça para o lado, para evitar a boca aberta durante a projeção. Isto impede que a garganta fique ressequida. Deve-se concentrar a atenção em todas as partes do corpo, verificando se elas estão livres de tensão. Não é muito fácil, mas com exercício constante se pode obter rapidamente o relaxamento. Este processo deve principiar a partir dos pés, até o couro cabeludo. Os músculos devem ser relaxados individualmente. Em seguida, conte de 50 até 1. É necessário manter a respiração compassada, procurando esvaziar a mente e concentrar-se exclusivamente nos números. É fundamental também que não exista qualquer sentimento de culpa por não conhecer profundamente a si mesmo. Isto acontece apenas porque você foi programado desde que nasceu para viver encarcerado em seu próprio corpo. Outra questão básica é saber quando estamos acordados ou dormindo. Pode parecer tola esta observação, mas, em certas circunstâncias, a coisa não é muito fácil. Conseguindo distinguir se estamos acordados ou dormindo, um grande passo já foi dado.

Recomendamos então, que a pessoa repita, durante um mês, pelo menos umas 20 vezes ao dia, a seguinte pergunta: "Eu estou dormindo ou estou acordado?". Depois, responda: "Eu estou acordado". Esta pergunta deve ser feita cada vez que você mudar de ambiente. Através dela o raciocínio acostumara sua mente a se conscientizar permanentemente do estado de vigília. Em geral, na terceira semana deste exercício você terá a surpresa de se perguntar "estou acordado ou dormindo?", e responder "meu corpo está dormindo mas eu continuo acordado".

Você estará fora do corpo e não teria percebido isso antes. Quando isto acontece, deve-se controlar os sentimentos de medo ou euforia. Não há, em hipótese alguma, perigo de prejuízo para o seu corpo durante uma saída. Nenhuma força de ordem espiritual pode tomar posse do seu corpo em sua ausência. O que pode acontecer é um fenômeno comum às primeiras experiências: o desinteresse temporário pela vida física e suas dificuldades cotidianas. Mas isso, quando ocorre, é passageiro. Logo a pessoa aprende a dar o devido valor ao milagre da vida e à prestigiosa oportunidade de ocupar essa maquina fantástica que é o corpo humano.

AZ - Afinal, como foi que tudo começou?

WV - Aos 9 anos, eu tive uma projeção consciente, comprovada pela família e pessoas ligadas a ela. Meu irmão estava muito doente, já desenganado pelos médicos. Ficou provado que eu tinha saído do meu corpo, ido até o quarto ao lado e visto, não só o que estavam fazendo com meu irmão, como também o que iria acontecer com ele. Dai em diante, muitos outros fatos semelhantes foram acontecendo, cada vez mais freqüentes. Com o passar do tempo, comecei a dominar o processo. Nessa época, eu tinha uma visão essencialmente espírita do fenômeno. Editei, juntamente com Chico Xavier, vários livros psicografados que ajudaram a divulgar o espiritismo por todo o País e o exterior.

AZ - Sua família era religiosa?

WV - Era espírita. Minha formação começou com aulas de moral cristã kardecista. Logo fui mergulhando num conflito muito grande, porque a exaltação da mediunidade é parte integrante do movimento espírita. E eu falava pra todo mundo: "Olha, é bom que, ao invés de mediunidade, vocês entrem no desdobramento". Sair do corpo e ir lá, ver a coisa diretamente. Se podemos eliminar o intermediário, por que ficar dependente de uma entidade que se manifesta por um médium? Eu já tinha retrocognicões desde menino, recordação de encarnações passadas, com muita lucidez. Foi aí que conclui: estou repetindo o que já fiz. O contexto era o mesmo, mas o cenário e a linguagem eram diferentes. Quando cheguei a esse nível, pensei: outras pessoas devem estar passando por isto. E comecei a procurá-las. Conversava com muita gente e desde os 17 anos passei a anotar num caderno, dados sobre projeção astral. Minha família tinha poucos recursos. Sai de casa aos 12 e nunca mais voltei porque pretendia pagar os meus estudos e os dos meus irmãos.

Fui para Uberaba. Enquanto estudava, comecei a trabalhar com Mário Palmério, que hoje é um escritor de renome. Fiz curso de Odontologia e depois de Medicina. A partir dos conhecimentos adquiridos, tive condições de desenvolver um estudo mais consciente dos fenômenos chamados paranormais. A essas alturas, comecei a viajar por todo o Brasil, sempre pesquisando e trocando idéias. Passei a ver a projeção astral como um fenômeno fisiológico, assim como comer ou respirar. Decidi me dedicar ao seu estudo específico aos 34 anos, em 1966. Larguei tudo para dedicar-me em tempo integral à projeção. Publiquei trabalhos e passei a fazer parte das sociedades internacionais de parapsicologia da Europa, Estados Unidos e América Latina.

AZ - Qualquer pessoa pode ser capaz de realizar uma projeção astral?

WV - Sem dúvida. É uma conquista inarredável. Qualquer pessoa é um "projetor".

AZ - Há alguma pesquisa que comprove isso?

WV - Segundo as estatísticas internacionais, 89% das pessoas têm projeções inconscientes, pois quase todo mundo sai do corpo enquanto dorme. Restam 11%. Destes, 9,8% têm as chamadas projeções semiconscientes, ou o "sonho lúcido". É quando o sujeito sabe que está sonhando e chega mesmo a imprimir alguma intenção ao sonho para modificá-lo. Ele está fora do microuniverso consciencial localizado no corpo humano. Somente 1,2% da população mundial consegue efetuar projeções totalmente lúcidas, ou seja, são projetores conscientes. É o caso da maior parte das pessoas que trabalham aqui no Instituto.

AZ - Como são comprovadas as projeções?

WV - Uma pessoa faz uma projeção e sua consciência vai, por exemplo, até uma outra cidade, onde alguém conhecido está realizando alguma tarefa. Telefonamos, então, para essa pessoa e confirmamos se na hora tal ela estava fazendo o que foi percebido pelo projetor, se estava usando uma roupa assim-assado, etc. Às vezes, durante as projeções, a visão é impressionantemente detalhada. Isso é sempre estarrecedor para quem tem pouca experiência. Trata-se de um fenômeno que convence por si mesmo.

AZ - Quais os principais objetivos da projeção?

WV - Ela não é nenhuma panacéia, mas as suas possibilidades podem ser vislumbradas: o autoconhecimento em sua totalidade, a possibilidade de viajar no tempo e no espaço sem barreiras, o acesso às diversas dimensões da realidade, o contato com entidades de todos os níveis de esclarecimento, a capacidade crescente de doação de energia para os necessitados... Muita coisa que aponta para um universalismo abrangente e iluminado.

AZ - A projeção astral poderia ser utilizada por pessoas de interesses duvidosos?

WV - O imediatismo do nosso mundo doentio poderia desviar o sentido da pesquisa. Por exemplo, penetrar em locais estratégicos em busca de segredos militares ou industriais, espionar a vida alheia, procurar meios que permitam o enriquecimento rápido, como descobrir informações confidenciais no mundo dos negócios, da bolsa de valores, etc. Felizmente, as saídas do corpo são monitoradas por espíritos iluminados. Eles nos ajudam a compreender a transitoriedade das coisas terrenas. Alguns desses seres que executam essa tarefa são os "serenões".

AZ - O que é um serenão?

WV - Ao longo das minhas "viagens", estive nos lugares mais surpreendentes, como outros planetas e outras dimensões. Acabei tendo contato com toda sorte de entidades. Algumas, ainda mergulhadas na ignorância, parecem foragidas de filmes de ficção científica. São normalmente doentias e traumatizadas por experiências violentas vividas na vida física. Por outro lado, tive a oportunidade de entrar em contato com seres desenvolvidíssimos, tranqüilos e despojados de dogmas religiosos, identidades nacionalistas, doutrinações, etc. Escolhi o nome de serenão para designá-los por causa de sua aparência de beatitude dinâmica. Os serenões existem desde o aparecimento da humanidade na terra. Assim como os homens, eles vieram, em levas espirituais sucessivas, de vários recantos do universo. Estão completando o círculo reencarnatório e desenvolveram uma cosmo-ética aperfeiçoada, baseada principalmente no amor universal, na ajuda impessoal ao próximo. Honrarias e paixões já não têm sentido em seu plano vibratório. Os serenões são absolutamente anônimos e não buscam recompensa para os seus atos.

AZ - Podemos evoluir até esse nível?

WV - Sim, eu poderia resumir a nossa evolução em 4 níveis. Primeiro o nível medíocre: consciência sonambulizada, presa à roda comum das encarnações compulsórias sucessivas. Segundo, o amparador: aquele que, conscientemente, num constante trabalho, assiste aos seres encarnados e as entidades desencarnadas. Terceiro, o pré-serenão: quem já vive as suas últimas encarnações mas ignora as demais. Quarto, o serenão: aquele que vive suas derradeiras encarnações plenamente consciente deste fato. Após essas fases, o espírito estará puro, isto é, livre da ciranda encarnatória.

AZ - A projeção é uma experiência recente?

WV - Não. Havia gente saindo do corpo há muito mais de dois milênios, como está registrado na Bíblia. Também há registros de que a projeção tem acontecido freqüentemente durante as experiências de quase-morte.

AZ - O que é a quase-morte?

WV - Fala-se muito, hoje em dia, das experiências de quase-morte, quando o moribundo acaba tendo uma saída do corpo com intensidade espantosa. Depois disto o doente geralmente se restabelece e, a partir dai, nunca mais será o mesmo. A maioria passa a desenvolver poderes psíquicos paranormais que até então nunca se haviam manifestado. Há uma publicação internacional especializada neste assunto e que circula há sete anos. Mas a quase-morte é apenas uma das 52 manifestações da projeção astral.

AZ - Essa experiência tem limites?

WV - A consciência tem como conquista evolutiva mais preciosa o nível de sua lucidez. A Projeciologia visa a lucidez em qualquer estado consciencial em que estivermos nos manifestando, dormindo ou acordados. O ideal é estar consciente 24 horas por dia.

AZ - Por que nem todos os médiuns buscam desenvolvimento através da Projeciologia?

WV - Provavelmente tratasse de um problema de egrégora. As pessoas, em geral, seguem uma tradição e não conseguem sair com facilidade dela. Isso coagula o pensamento, tornando-o neófobo.

AZ - Não seria aquela coisa de que o homem agride o que não conhece?

WV - Exatamente. É neofobia, o medo do novo. Hoje, no entanto, a psicologia já admite tudo. Kune, o grande cientista da revolução do paradigma, diz que, para haver mudança de modelo em certas áreas do conhecimento, e necessário que pelo menos uma geração desapareça, porque as pessoas estão presas ao processo de idéia fixa. Em Projeciologia chamamos isso de monoideísmo.

AZ - Até que ponto a Projeciologia desafia a tradicional pesquisa cientifica?

WV - O que fazemos aqui é utilizar a consciência como instrumento. Não estamos preocupados em que a ciência convencional saia do dilema no qual entrou. Comprovadamente, nós saímos do corpo humano e vemos que, em outra dimensão, podemos dispor de muitos outros veículos de manifestação. Só que nosso instrumento não é material, é consciencial. Não é possível "medir" o fenômeno da projeção em termos científicos.

AZ - De que argumentos se serve a Projeciologia para se proclamar uma neociência?

WV - É como o ovo de Colombo. Não dispondo de instrumentos para analisar a consciência, utilizamos a própria consciência como instrumento. A ciência convencional não admite que você faça a experiência em você mesmo, ou seja, a introversão. Aqui no Instituto, cada um escuta a própria consciência, raciocina, aprende com ela, e troca esse conhecimento com outros. Aí se chega a um consenso, como uma solução holística para o dilema mente versus matéria. A Projeciologia permite superar a divisão entre cérebro e consciência.

AZ - A ciência tradicional demonstra alguma dificuldade de aceitar a Projeciologia?

WV - Isso não é exatamente uma preocupação nossa. Há muito tempo a ciência deixou de estudar o fenômeno da consciência. Ela deveria ter a obrigação de estudar qualquer tipo de fenômeno envolvido nesse processo, mas não tem instrumentalidade para tanto. Tínhamos de optar por seguir a ciência assim mesmo ou buscar outra forma de procedimento. Então resolvemos adotar o caminho cientifico. Nossa maior afinidade com a ciência é que, apesar de todos os seus senões, ela exige refutação. Vocês podem ver o lembrete que ostentamos aqui no Instituto: "Não acredite em nada do que lhe dizem, nem mesmo o que é dito aqui. Experimente."

Editora ANO ZERO; Redação; Projeciologia: Uma Neociência Nascida no Brasil;

Entrevista; Rio de Janeiro, RJ; Revista; Mensário; Ano 1; Maio, 1991; p. capa, 40-43.

Fonte: http://www.viagemastral.com/templates/conteudo.php?id=1&c=684

sábado, 8 de novembro de 2008

Reencarnação: história de vidas passadas

Um documentário da Discovery Channel mostrando alguns trabalhos dos cientistas Jim Tucker e Erlendur Haraldsson sobre histórias de crianças que lembram fatos de uma suposta vida passada, por vezes até relacionando evidências físicas de marcas de nascimento com determinados acontecimentos daquela outra vida.









quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Raymond Moody e as Experiências de Quase-Morte


Helcio de Carvalho

Em meados dos anos 70, a investigação científica da vida após a morte ganhou um novo e poderoso aliado com as pesquisas do dr. Raymond Moody Jr. envolvendo pessoas consideradas clinicamente mortas.

A preocupação em desvendar o que existe depois da morte talvez seja uma das mais antigas da história humana, originando vários tratados filosóficos, esotéricos, religiosos, científicos e uma infinidade de discussões. Contudo, nos anos 70 do século XX, essas discussões começaram a pisar em terreno mais firme com a publicação do livro Vida Depois da Vida (Life After Life, 1975), do psicólogo e filósofo Raymond Moody. Nesse trabalho, ele apresentou dezenas de relatos fornecidos por pacientes que, durante alguns minutos, foram declarados como clinicamente mortos, e voltaram a viver.

Esse tipo de acontecimento ficou conhecido como EPM (Experiências Próximas à Morte), ou ainda EQM (Experiências de Quase-Morte). O dr. Moody deixou claro que não estava tentando provar a existência da vida depois da morte e nem considerava que fosse isso possível, pelo menos no atual estágio das pesquisas científicas. Outros estudiosos da área, como a dra. Elisabeth Kubler-Ross, receberam o livro com grande entusiasmo, acreditando que as experiências ali apresentadas confirmavam o que o espiritualismo vem afirmando há milhares de anos: existe vida após a morte.

Hoje, a descrição básica do que acontece com esses pacientes é mais conhecida graças à quantidade de livros e também de filmes que trataram do tema. Segundo o dr. Moody, nas EPMs existem inúmeros pontos de similaridade, independentemente das pessoas envolvidas, de seu grau de conhecimento ou cultura. "Tenho recebido relatos da China, Japão, Índia", explica Raymond Moody, "de pacientes e médicos que estudaram inúmeros casos. Existem antropólogos que encontraram EPMs em populações que sequer conheciam a escrita. As experiências eram muito parecidas com aquelas presenciadas nos prontos-socorros das grandes cidades".

O médico e pesquisador identificou quinze elementos presentes em quase todos os relatos, mas ressaltou que, apesar da semelhança, não existem dois exatamente iguais. Da mesma forma, ninguém chegou a vivenciar todos os quinze – algumas pessoas identificaram no máximo doze – e a ordem em que surgiram nem sempre foi a mesma.

Estágios

Os quinze elementos ou estágios que o dr. Moody encontrou e que são apresentados em seu livro Vida Depois da Vida são:

Inefabilidade – as pessoas costumam dizer que não conseguem explicar o que sentiram. O dr. Moody entende que a compreensão da linguagem depende de uma série de vivências comuns das quais todos participam. Como a EPM não faz parte de nosso dia-a-dia, os que passaram por ela não sabem como explicar a experiência pela qual passaram.

Ouvir a notícia – é comum alguém acidentado ou em uma mesa de operações ouvir o médico ou outra pessoa no local declará-lo morto.

Sentimentos de paz e quietude – geralmente, após um momento de dor causada por um grave ferimento ou outro problema físico, a pessoa tem uma sensação extremamente agradável logo no primeiro estágio da experiência.

O ruído – os primeiros momentos podem ser acompanhados de ruídos desagradáveis ou sons de campainha muito altos. Em alguns casos, esses ruídos podem ser agradáveis, até mesmo algum tipo de música.

O túnel escuro – certas pessoas sentiram, junto com os ruídos, a sensação de estarem sendo puxadas por um túnel escuro e longo, ou através de um espaço vazio, negro.

Fora do corpo – após a experiência no túnel escuro a pessoa sente-se fora do corpo, olhando para sua forma física como se fosse outra pessoa. Ela também percebe tudo que acontece à sua volta, e o estado emocional varia de pessoa para pessoa: alguns ficam confusos e preocupados, querendo voltar ao corpo, mas sem saber como; outros não sentem medo e se dão conta do que está acontecendo, mantendo-se calmos. É comum a pessoa perceber que está morta e notar as qualidades de seu novo "corpo", que ninguém vê, e que começa a flutuar. A pessoa também pode ter uma noção do tempo totalmente diferente.

Encontrando outras pessoas – muitos dos que passaram pela EPM tiveram consciência de que outras pessoas ou o que chamaram de "seres espirituais" estavam no local para ajudar na passagem para o outro lado, ou para dizer que a hora da pessoa ainda não havia chegado. Alguns encontraram familiares ou amigos que tiveram em vida; outros viram pessoas totalmente desconhecidas.

O ser de luz – o encontro com a Luz é considerado o elemento mais marcante das experiências. Ela surge como uma suave claridade que se vai intensificando até tornar-se totalmente brilhante, mas sem prejudicar a visão. Essa Luz é descrita como um ser, do qual emana um amor impossível de ser descrito e que atrai as pessoas de forma irresistível. Nesse caso específico, a descrição do ser varia de acordo com as crenças religiosas. Em seguida, a entidade começa a se comunicar, a perguntar o que a pessoa fez de sua vida sem o menor tom recriminatório. Isso acontece por intermédio do pensamento, sem que seja possível qualquer engano ou mentira na comunicação.

A recapitulação – o contato com o ser de luz desencadeia uma recapitulação visual da vida da pessoa, não com o objetivo de julgar ou de conhecê-la, mas para provocar uma reflexão. Além das imagens serem extremamente reais, elas surgem todas de uma vez, como se toda uma vida se passasse num instante.

A barreira ou limite – muitos relataram a impressão de estar se aproximando de uma espécie de barreira ou fronteira que, dependendo da pessoa, se apresentava de forma diferente: uma porta, uma névoa, uma extensão de água.

Regresso – o momento em que se inicia a volta ao corpo físico geralmente é o mais complicado. Após os momentos iniciais, em que existe a vontade de retornar ao corpo físico, no restante da experiência as pessoas se acostumam ao ambiente e chegam a não querer mais voltar. Essa situação é acentuada nos que vêem o ser de luz.

Contar aos outros – quem passa por uma EPM não a descreve como um sonho, mas como uma experiência real e importante. A pessoa também entende que seus relatos, de forma geral, não serão bem aceitos pelos outros, e muitas vezes ela se cala para não ser considerada louca. Alguns preferem não falar sobre o assunto por achar que a experiência pela qual passaram não pode ser descrita pela nossa linguagem.

Efeito sobre a vida – apesar da resistência em falar sobre o assunto, a maioria sente que suas vidas foram modificadas, ampliadas pela experiência. Elas passam a buscar um sentido mais espiritual ou dão mais valor à existência humana, e quase todas ressaltam a importância de cultivar o amor pelo próximo.

Nova visão da morte – geralmente, quem passa pela EPM deixa de ter medo da morte física. Não que elas procurem a morte ou deixem de temer o sofrimento que certas formas de morrer podem causar – elas perdem o medo do que vai acontecer depois. O suicídio também é desaconselhado por todos como forma de chegar ao lugar do qual tiveram um vislumbre. Elas passam a ver a vida pós-morte como uma continuação desta, na qual as pessoas seguem aprendendo.

Corroboração – uma questão importante se refere à possibilidade de obter provas de que a pessoa realmente teve uma EPM. Na pesquisa do dr. Moody, ele obteve vários relatos de gente que soube repetir tudo o que estava acontecendo à sua volta durante a EPM e, em alguns casos, até em aposentos distantes.

Críticas

Alguns médicos e cientistas dizem que a experiência de quase-morte é só o resultado da falta de oxigênio no cérebro, mas o dr. Moody não concorda. "Também pensei que fosse isso", ele explica. "Sei de muitos médicos do mundo todo que investigaram o fenômeno partindo desse princípio, mas depois de falar com os pacientes, todos acabaram mudando de opinião. A definição clássica de alucinação implica que a pessoa esteja vendo ou ouvindo algo que não existe. Nas experiências próximas à morte tivemos vários casos de pacientes que, enquanto estavam fora do corpo, observavam o que ocorria fora da sala. Isso não poderia ser explicado por um mero efeito fisiológico ou bioquímico".

Ultimamente, o número de relatos sobre as EPMs aumentou consideravelmente e, segundo o dr. Moody, isso se deve ao avanço médico e às refinadas técnicas de ressuscitação. O dr. Fred Schoonmaker, chefe de medicina cardiovascular do maior hospital de Denver, entrevistou um grande número de pacientes que ele próprio ressuscitou, e descobriu que 60% haviam tido a experiência. “Pode-se comparar esse número”, ele explica, “com o do levantamento dos drs. Ken Ring e Mike Sabom. Eles estudaram um grupo de pacientes que, embora inconscientes e perto da morte, apresentavam um quadro clínico menos grave. Nesse grupo, 45% tiveram as experiências”.

Os dados podem ser importantes, segundo o dr. Raymond Moody, mas não ajudam a entender por que alguns têm a experiência e outros não. “Os fatores que poderiam estar correlacionados – como idade, doença ou traumatismo que quase levou à morte, sexo, crença religiosa e assim por diante – não parecem fazer qualquer diferença. Num estudo realizado há alguns anos, o dr. Bruce Grayson reuniu algumas evidências de que um fator decisivo é o paciente se entregar ou não no momento. Ele acredita que certos pacientes chegam a um ponto em que simplesmente aceitam a morte, e são estes que vivem a plenitude da experiência”.

Vidas Passadas

Ultimamente, o dr. Raymond Moody tem se dedicado bastante ao estudo da regressão a vidas passadas e desenvolveu sua própria teoria sobre a reencarnação, que ele entende como uma metáfora e à qual se refere com certo cuidado. “Eu não sei se reencarnação existe de fato”, ele explica. “Do ponto de vista científico, das evidências, não posso afirmar que sim, nem que não. Do ponto de vista dos meus sentimentos e intuição, eu diria que existe. Na dimensão em que vivemos, usamos uma forma linear de expressão e para elaborar conceitos. Conceitos como linha do tempo, causa e efeito, etc. são completamente diferentes. Talvez a reencarnação seja um processo muito mais complexo do que possamos imaginar”.

O dr. Moody também diz ter visto a regressão a vidas passadas fazer muito bem às pessoas. “Quando comecei a estudar o assunto eu abordava a regressão como um estado alterado de consciência e me surpreendi quando, ao me aprofundar, vi pessoas que passaram pelo processo, se sentirem muito beneficiadas, entendendo melhor certas dificuldades e conflitos que têm na vida”.

Mas o foco central de seu trabalho continua sendo as experiências de quase-morte. Mais de vinte e cinco anos após a publicação de seu primeiro livro sobre o assunto, Raymond Moody acredita que a sociedade está aceitando a discussão do tema com mais facilidade. “Estive recentemente em oito países da Europa e, em cada um, médicos me trouxeram artigos que tinham escrito para publicações científicas locais relatando suas pesquisas com EPMs.”

O próximo passo deverá ser a interpretação das experiências, ou seja, entender seu verdadeiro significado. “Isso nem é um assunto para a comunidade médica resolver”, ele entende. “Não cabe aos médicos definir se existe vida após a morte. O que interessa à medicina é que, independentemente das interpretações que se dê às EPMs, elas realmente ocorrem. Nós devemos estar preparados para discutir o fato com os pacientes e lhes dar todo o apoio possível”.

Fonte: http://www.espirito.org.br/portal/publicacoes/esp-ciencia/004/epm.html

Filme "Vida depois da Vida":

O Universo Holográfico


http://video.google.com/videoplay?docid=8143461915008673259

Um video bem interessante a respeito da relação entre a consciência - ou aquela que vê - e todo o universo de percepções que compõe as múltiplas sensações do que se denomina de realidade. Uma verdadeira busca até o âmago, até a essência de nossa experiência de estarmos vivos.

Humberto Maturana e o Pensamento Sistêmico


Por Humberto Mariotti *

Pouco antes de sua morte, em 1980, o antropólogo inglês Gregory Bateson, um dos criadores do que hoje conhecemos como pensamento sistêmico, foi questionado sobre quem continuaria a sua obra. Respondeu: “No Chile há um pesquisador chamado Humberto Maturana. Ele é a pessoa a quem vocês se referem”.

Entre as várias vertentes que deram origem ao atual pensamento sistêmico inclui-se a cibernética ou ciência dos sistemas de controle. A cibernética surgiu nos EUA e se consolidou durante uma série de conferências patrocinadas pela Fundação Josiah Macy Jr. A partir de 1942, pesquisadores de várias procedências e diferentes áreas de interesse começaram a se reunir com regularidade. Esses eventos congregaram, entre outros, o fisiologista Warren McCulloch (de quem Maturana foi aluno), o psicólogo social Kurt Lewin, os antropólogos Gregory Bateson e Margaret Mead, o matemático Norbert Wiener e o físico Heinz von Foerster.

Há vários livros de Maturana traduzidos no Brasil. Dois merecem destaque, por sua relação com o pensamento sistêmico: "A árvore do conhecimento", (escrito com Francisco Varela) e "Amar e brincar", (escrito com a psicóloga alemã Gerda Verden-Zöller). São obras importantes, nas quais Maturana e seus co-autores introduzem a visão sistêmica em especial na biologia, na psicologia social e na antropologia.

A abordagem sistêmica deu a Maturana subsídios para que ele elaborasse o que considero o seu conceito fundamental: a autopoiese.

Poiesis é um termo grego que significa produção. Autopoiese quer dizer autoprodução. A palavra surgiu pela primeira vez na literatura internacional em 1974, num artigo publicado por Varela, Maturana e Uribe para definir os seres vivos como sistemas que produzem a si mesmos de modo incessante. São sistemas autopoiéticos por definição, porque sempre recompõem seus componentes desgastados. Assim, um sistema autopoiético é ao mesmo tempo produtor e produto.

Em termos filosóficos, o conceito de autoprodução já havia aparecido no século 17 na obra do filósofo holandês Baruch de Espinosa. No século 18 ela reapareceu no livro "Crítica da faculdade do juízo", do pensador alemão Immanuel Kant, que se refere ao organismo como “um todo que se autoproduz”.

No entanto, mesmo antes de Kant e Espinosa já existia a idéia de autoprodução, esboçada por Aristóteles e sugerida pelos filósofos estóicos e por Sêneca. Plotino, expoente da filosofia neoplatônica – período que encerrou a filosofia grega antiga – já havia falado em autocausalidade no sentido de autoprodução.

Tudo isso visto, se é certo que a idéia de que o produtor é ao mesmo tempo o produto já existia antes dele, é também correto que Maturana a desenvolveu, deu-lhe o nome de autopoiese e a reformulou, sobretudo em termos biológicos. Nesse sentido, ele é um pensador fundamental.

Para Maturana, o termo "autopoiese" traduz o "centro da dinâmica constitutiva dos seres vivos". Para exercê-la, estes precisam de recursos do ambiente. Portanto, são sistemas ao mesmo tempo autônomos e dependentes. Maturana e Varela utilizaram uma metáfora didática para falar dos sistemas autopoiéticos. Para eles, tais sistemas são máquinas que produzem a si próprias. Nenhuma outra espécie de máquina é capaz de fazer isso, pois todas elas produzem sempre algo diferente de si mesmas.

Segundo esses autores, os seres vivos são determinados por sua estrutura. Assim, o que percebemos e o que nos acontece num determinado instante depende de nossa estrutura nesse instante. A estrutura de um sistema é a forma como seus componentes interligados interagem sem que mude a organização. Vejamos um exemplo, referente a um sistema não-vivo — uma mesa. Ela pode ter seus pés encurtados, alongados ou recolocados e seu tampo modificado de retangular para circular sem que isso interfira na sua configuração. O sistema continuará a ser identificado como mesa. Manterá a sua organização apesar dessas modificações estruturais.

No entanto, se desarticularmos os pés e o tampo e os afastarmos, o sistema se desorganizará e deixará de ser uma mesa. Da mesma maneira, num sistema vivo a estrutura muda o tempo todo, o que mostra que ele se adapta às modificações do ambiente, também contínuas. Mas a perda da articulação levaria à desorganização e, portanto, à morte. O mundo em que vivemos é o que construímos com base em nossas percepções. É a nossa estrutura que permite essas percepções. Nosso mundo é a nossa visão de mundo. Se a realidade que percebemos depende da nossa estrutura, existem tantas realidades quantas pessoas percebedoras. É o que diz um antigo provérbio árabe: “Não vemos o mundo como ele é, mas como nós somos”.

Maturana e Varela observam que o sistema vivo e o ambiente se modificam de forma congruente. Na sua metáfora, o pé sempre se ajusta ao sapato e vice-versa. É uma boa maneira de dizer que o meio produz mudanças na estrutura dos sistemas, que por sua vez agem sobre ele, alterando-o numa relação circular. Quando um organismo influencia outro, este replica influindo sobre o primeiro. Desenvolve uma conduta compensatória. O primeiro organismo, por sua vez, dá a tréplica e volta a influenciar o segundo, que por seu turno mais uma vez retruca e assim por diante.

Sempre que um sistema influencia outro, este passa por uma mudança de estrutura. Ao retrucar, o influenciado dá ao primeiro uma interpretação de como percebeu essa mudança. Há, portanto, um diálogo, no qual o comportamento de cada organismo corresponde a uma descrição do comportamento do outro. Cada um "conta" ao outro como recebeu e interpretou a sua ação.

De um modo geral, as principais idéias de Maturana e sua contribuição ao pensamento sistêmico podem ser assim resumidas:

a) enquanto não entendermos o caráter sistêmico da célula não conseguiremos compreender os organismos;

b) a autopoiese define com clareza os fenômenos biológicos;

c) os fenômenos sociais podem ser considerados biológicos, porque a sociedade é formada por seres vivos;

d) a noção de que os sistemas são determinados por sua estrutura é de fundamental importância para muitas áreas da atividade humana.

Além das já citadas, as aplicações dessas idéias são extensas. Englobam áreas como o management, a psicoterapia (em especial a familiar), a área jurídica e as ciências cognitivas, entre muitas outras.

* Humberto Mariotti - Professor e Coordenador do Centro de Desenvolvimento de Lideranças da Business School São Paulo. Consultor em desenvolvimento pessoal e organizacional. Coordenador do Núcleo de Estudos de Gestão da Complexidade da Business School São Paulo.

Fonte: http://www.fnq.org.br/site/ItemID=1072/366/default.aspx

domingo, 2 de novembro de 2008

Ruppert Sheldrake e A Mente Ampliada


Resumo

Aqui tratarei do paradoxo da consciência segundo a visão científica e a história do pensamento sobre a psique ou a alma, na Europa. E a seguir aparesentarei um exame de alguns experimentos realizados recentemente que demonstram que a consciência é muito mais abrangente que o cérebro.

***

Depois de um longo período em que os cientistas preferiam nem falar sobre ela, hoje a consciência retorna à pauta científica. E, por mais estranho que pareça, mesmo na psicologia, o estudo da consciência tem um certo ar de vanguarda um tanto perigoso. Em uma reunião na Sociedade Britânica de psicologia a que assisti recentemente haviam acabado de criar um grupo sobre consciência e todos os membros estavam temerosos de estarem no limite e se arriscando; haviam muitas pessoas contrárias porque psicólogos falavam sobre consciência. Para as pessoas alheias à psicologia, isso pode parecer um estranho paradoxo, mas o fato é que, embora a consciência tenha se transformado em um tópico de moda e realmente importante, no campo da ciência, grande parte do pensamento sobre a consciência ainda está limitado pela visão materialista que equipara consciência ao cérebro. Como cientistas, todos nós fomos criados acreditando que a consciência está localizada dentro de nossa cabeça e na ciência institucional, a maioria das pessoas acha que a consciência é apenas uma atividade do cérebro. É bom lembrar que, ao contrário, as tradições espirituais e religiosas sempre tiveram uma visão muito mais ampla da consciência e têm muito pouco contato com a visão científica muito mais restrita.

Falarei por alguns minutos sobre a história da visão científica do pensamento europeu sobre a psique ou a alma. A seguir, falarei sobre alguns experimentos que venho realizando recentemente que demonstram que a consciência é muito mais ampla que o cérebro e que a mente vai muito mais além do cérebro. Durante esta palestra, explicarei por que acho que a mente está interconectada tanto através do espaço quanto do tempo, e é muito mais extensa que os limites físicos do cérebro. A idéia de que a alma - ou a psique - é muito mais que o cérebro é obviamente aceita sem discussão em qualquer parte e essa visão ampla da psique era a visão normal na Europa. Na Grécia Antiga, Aristóteles a formulou de uma maneira mais sistemática. Para ele, todos os seres vivos tinham uma psique ou alma. A alma das plantas, a alma vegetativa organizava a forma da planta e, portanto, um carvalho em crescimento era estimulado pela psique da planta a se transformar na forma madura do carvalho. Seria algo como um plano invisível da árvore. Os animais também têm almas vegetativas, que organizam o crescimento do embrião, o desenvolvimento do corpo e sua manutenção em um estado saudável. Mas, além disso, os animais tinham almas de animais relacionadas com os movimentos, a sensibilidade e os instintos. E, é claro, a palavra animal vem do latim anima que quer dizer "um ser com alma". Nós os seres humanos, além de termos uma alma vegetativa, que nos liga a todas as plantas, teríamos uma alma animal, que nos liga a todos os animais e uma alma intelectual, aquele aspecto especificamente humano da psique, que tem a ver com o pensamento, a razão e a linguagem. Essa era a visão adotada na Europa Medieval e por Santo Tomás de Aquino. Essa visão grega da psicologia foi incorporada pela teologia cristã. E essa foi também a visão dos seres humanos e da natureza que foi ensinada nas universidades por toda a Europa até o século dezessete.

A revolução cartesiana no século dezessete mudou o curso do pensamento acerca da psicologia na tradição científica. Para Descartes, todos os animais e plantas, como todo o universo, eram apenas máquinas. Assim, a alma foi retirada de toda a natureza, já não havia qualquer princípio dando vida aos animais e às plantas.

Portanto, se o mundo é uma máquina, se os animais são máquinas, podemos ter uma ciência totalmente mecânica e essa ainda é a base com que se apóia toda a ciência institucional. Se pensarmos que os animais são máquinas sem sentimento, sem pensamentos, então, é claro, podemos tratá-los de qualquer maneira: cientistas podem cortá-los para experimentos, os agricultores podem criá-los em fábricas; o fato é que muitas das bases do pensamento moderno sobre animais, agricultura e vivisseção apóiam-se nessa visão. Para Descartes, a única coisa que não se enquadrava nessa visão mecânica era a mente racional dos seres humanos. O corpo humano passou a ser uma máquina como a de qualquer animal mas, em algum lugar do cérebro, essa misteriosa mente racional interagia com o tecido nervoso de uma maneira que Descartes não conseguia entender. Ele imaginou que essa interação ocorria na glândula pineal. A teoria moderna da natureza humana e da consciência é essencialmente a mesma que a de Descartes e, a não ser pelo fato de que o local da alma andou uns 5 centímetros até o córtex cerebral, esse ainda é o tipo de visão que encontramos predominantemente hoje em dia. Os materialistas dizem: "bem, como ninguém pode dizer o que é essa misteriosa alma humana e como ninguém pode dizer como ela interage com o cérebro, vamos partir do princípio que ela simplesmente não existe, e que o cérebro é apenas maquinaria, é apenas um computador e a consciência é, de alguma forma, gerada pela atividade da maquinaria computacional do cérebro". Essa metáfora com o computador, uma versão atualizada da antiga metáfora que comparava a vida a uma máquina, passou a dominar uma grande parte do pensamento sobre consciência, particularmente nos departamentos de psicologia. Todas essas perspectivas, ou seja, tanto a visão interacionista, que diz que a consciência interage com uma parte do cérebro, como a visão materialista, localizam a consciência dentro da cabeça. O resto do corpo é apenas maquinaria, e todo o nosso sistema médico baseia-se nesse paradigma, ou nesse modelo do meio ambiente e da natureza humana.

O que vou lhes sugerir esta manhã é que essa visão é demasiado limitada. É claro, já descobrimos muita coisa sobre o funcionamento do cérebro e dos nervos e esse é um conhecimento valioso e importante, e obviamente a consciência está diretamente relacionada com o cérebro, mas acho que ela é muito mais do que isso. Para começar, gostaria que pensássemos sobre o que ocorre na consciência durante a percepção, é um começo por meio de uma experiência muito simples e direta. Usemos como exemplo vocês me vendo parado aqui. A explicação normal é que a luz, refletida de mim, viaja através do campo eletromagnético, através da lente de seus olhos, a imagem é invertida na retina, muda nas células retinianas, os impulsos seguem pelos nervos ópticos, gerando mudanças complexas no córtex óptico e em outras partes do cérebro. Até aí tudo bem. Tudo o que pode ser analisado, foi analisado pelos métodos da neurofïsiologia, e assim por diante. Mas então algo muito estranho ocorre: vocês formam uma imagem subjetiva de mim, em algum lugar dentro de sua cabeça. Bem, não existe nenhuma explicação para que você deva formar essa imagem, na verdade, algumas pessoas chamariam isso de 'hard problem', o problema difícil da consciência.

Mas ainda mais misterioso é o fato de que você não sente que a minha imagem está localizada dentro de sua cabeça. O que imagino é que você vivência sua imagem de mim, como se ela estivesse localizada no lugar onde eu estou. O que vou sugerir agora é uma idéia tão simples que fica muito difícil de entender. Essa idéia é que sua imagem de mim é uma imagem - ela está na sua mente. Mas ao mesmo tempo, sua imagem de mim está localizada exatamente onde parece estar, ou seja, aqui, e não dentro de sua cabeça. Ela está localizada fora de sua cabeça, no ambiente, onde a imagem parece estar. Esse fato tão simples da experiência é algo que todos nós aprendemos a negar ou a rejeitar. Os dados mais imediatos de nossa experiência foram rejeitados a favor de uma teoria atribuída a Descartes e a outros filósofos, e o curioso é que essa visão das coisas domina nosso pensamento, e com isso faz com que neguemos nossa experiência mais imediata.

Os alunos de psicologia, pelo menos na Grã-Bretanha, que foram criados tendo essa rejeição reforçada - no primeiro ano de seu curso lhes ensinam que, no passado, pessoas burras e ignorantes pensavam que a percepção ocorria porque algo saía de seus olhos enquanto que nós, modernos, pessoas inteligentes e instruídas, sabemos que ela ocorre porque a luz entra nos olhos. A teoria da intromissão da percepção é tratada como se fosse a única verdade. É claro, as teorias tradicionais não negam que algo entra nos olhos, mas na maior parte do mundo acredita-se que a visão envolve um movimento para fora, bem assim como um movimento para dentro.

E essa idéia de que algo entra e sai é o que estou lhes sugerindo agora. Acho que quando vemos coisas nós projetamos imagens daquilo que estamos vendo, que normalmente coincidem com o lugar onde as coisas que estamos vendo estão, ou seja, sua imagem de mim projetada coincide com o lugar onde eu estou. Se não fosse assim, ela seria uma ilusão ou uma alucinação. Eu acho que, em certo sentido, nossas mentes literalmente se estendem para tocar tudo que vemos e se olhamos as estrelas no céu à noite, nossas mentes literalmente se estendem por distâncias astronômicas para tocar aquilo que estamos olhando. E se isso não é apenas um jogo de palavras, se nossas mentes realmente se estendem para tocar o que estamos olhando, nós deveríamos ser capazes de influenciar as coisas simplesmente olhando-as. Quando pensei nisso pela primeira vez, pensei, "bem, como é que podemos provar isso?" E então pensei "bem, que tal se escolhermos algo que possa ser bastante sensível, por exemplo, as pessoas". Será que o fato de serem olhadas poderia influenciar as pessoas? É claro, se você vir que estou lhe olhando, você será influenciado pelas razões psicológicas normais, mas e se olharmos uma pessoa pelas costas e ela não souber que estamos ali? As pessoas sentem quando estão sendo olhadas pelas costas? No momento em que você faz essa pergunta, você compreende que a sensação de ser olhada fixamente pelas costas é uma experiência cotidiana, muito comum. Levantamentos na Grã-Bretanha mostraram que 90% da população já tiveram essa experiência. Existem pequenas diferenças de gênero - mais mulheres do que homens tiveram a experiência de serem olhados e de se virarem e mais homens que mulheres tiveram a experiência de fazer com que outras pessoas se virassem olhando para elas. Cerca de 90 por cento da população já teve essa experiência e eu imagino que a maioria das pessoas nesta sala já vivenciou esse fenômeno de uma forma ou de outra. Temos aqui um fato muito interessante: inúmeras pessoas crêem poder influenciar outras simplesmente olhando para elas, ou que elas sabem quando uma outra pessoa está olhando para elas pelas costas.

O que é que a ciência tem a nos dizer sobre esse fato tão conhecido? A maioria dos cientistas acha que só porque a maioria das pessoas acredita nesse fato, ele deve ser falso. Isso é um argumento muito estranho: é claro que se muitas pessoas acreditam em alguma coisa isso não prova que ela é verdadeira, mas certamente também não prova que ela é falsa, e é uma boa justificativa, se ela é uma ilusão, pelo menos para examinar como surge essa ilusão. No entanto, esse fenômeno é uma espécie de tabu, e esteve totalmente fora da pauta científica. É possível ler toda a literatura publicada sobre esse assunto no espaço de uma única tarde ou, se lermos o sumário dele em meu livro “Seven experiments”, levaremos uns 10 minutos. Há menos que 10 trabalhos publicados sobre o assunto desde 1890 e essa é uma área que foi incrivelmente negligenciada. Acho que os psicólogos a negligenciaram porque tiveram todas essas aulas em seu primeiro ano lhes dizendo que só pessoas burras e ridículas acreditam na idéia de que algo sai do olho, e eles não querem parecer burros, é claro, e por isso nunca mencionam o fato em público. Mas penso que o verdadeiro motivo para isso ter sido um tema tabu é porque, à época do Iluminismo, quando muitos intelectuais na Europa tiveram a idéia da marcha do progresso da ciência e da razão, o que eles queriam deixar para trás eram coisas como a religião, a superstição e a irracionalidade, e esse fenômeno da influência dos olhos foi classificado como superstição e rejeitado pelos cientistas.

Acho que uma das razões que contribuiu para que ele fosse classificado como superstição é que no mundo todo existe muito folclore sobre o poder dos olhos, do olhar. Acreditam que você pode influenciar as pessoas ou animais, ou crianças, ou coisas olhando para elas, apenas olhando para elas. Na índia, acreditam que se um homem santo ou uma mulher santa olhar para você, você recebe uma bênção desse olhar, do darchan porque darchan significa literalmente olhar, e, portanto, há um efeito positivo no olhar. Mas no mundo todo encontramos também muitas crenças populares que dizem que se uma pessoa olha para outra, ou para uma criança, ou para um animal, com raiva, ou especialmente com inveja, o olhar dela terá um efeito prejudicial naquilo que foi olhado. Em inglês, chamamos isso de evil eye (olho mau); em português diz-se "mal olhado" e há um nome em quase todas as línguas para esse fenômeno. E por que existe uma crença tão forte nisso, e por que ela era tão forte em toda a Europa e ainda é forte em muitas partes da Europa e por todo o mundo árabe, na índia e na África, encontramos essa crença em praticamente todos os lugares, eu acho que essa é uma das razões pelas quais os cientistas nunca quiseram lidar com o assunto. Eles a classificaram como superstição e a rejeitaram totalmente.

Acho que essa criação de tabus e rejeição de áreas inteiras de investigação é uma das maneiras de limitar o conhecimento científico. O que quero dizer agora é que esse fenômeno, se é verdadeiro, tem muita coisa a nos dizer sobre a natureza da mente. Sugere que nossa mente realmente se estende para influenciar aquilo que estamos olhando. Se nossa mente pode influenciar outras pessoas ou outras coisas à distância, isso é uma coisa muito, muito importante a ser levada em consideração, porque mostra que a mente pode ter efeitos não-locais.

Será, então, que as pessoas realmente sabem quando estão sendo olhadas pelas costas? É possível elaborarmos experimentos extremamente simples para testar essa idéia. Em meu livro 'Seven experiments that could change the world' um de meus experimentos está voltado para esse fenômeno, a sensação de estar sendo olhado pelas costas. Meu objetivo no livro era pensar sobre experimentos radicais que pudessem mudar nossa visão da realidade e que pudessem ser realizados com orçamentos de 20 dólares ou menos porque, a não ser pela oferta maravilhosa que tivemos essa manhã da Fundação Bial, normalmente não é possível conseguir fundos para pesquisas científicas radicais.

Portanto, a forma de lidar com essa situação é realizar experimentos tão baratos que não necessitem de doações. E o experimento para testar a sensação de estar sendo olhado fixamente é praticamente grátis - esse, na verdade, é de graça. É algo que todos nesta sala podem fazer e tem as mais profundas consequências. Já foi realizado em grande escala: os resultados foram extraordinariamente positivos e significativos; é um experimento que pode ser facilmente repetido. Eu o descreverei para vocês rapidamente. Nesse experimento básico, as pessoas trabalham em pares. Uma pessoa senta de costas para a outra; as duas usam uma venda - eu uso essas vendas da Virgin Atlantic Airways, uma forma conveniente de venda. A outra pessoa senta atrás da primeira e, em uma sequência aleatória, elas ou olham para a nuca da outra ou não. Há uma série de 20 tentativas. Para indicar o começo de uma tentativa elas dão um sinal, que é feito com um clique mecânico, para evitar que sejam dadas deixas - eu uso essas coisas de plástico que tiro de cabides que vêm das lojas de roupas Marks and Spencer e eles indicam o começo de um teste. A pessoa que está sentada ali tem de adivinhar se está ou não sendo olhada. Nos testes de olhar, a pessoa olha fixamente para a nuca da outra e nos testes de não olhar olha para o outro lado e pensa em outra coisa. Esses experimentos muito simples são os testes básicos, que eu tenho realizado. Mais tarde falarei sobre versões mais sofisticadas. Mas esses experimentos dão resultados incrivelmente consistentes.

Vocês podem ver aqui os resultados da percentagem de suposições corretas em alguns experimentos. Esses foram os primeiros experimentos que fiz com grupos de adultos em oficinas e seminários. Os resultados gerais - 50% é o nível de probabilidade e normalmente 55% das suposições estavam corretas e 45% erradas. Não é um efeito muito grande, mas algumas pessoas são muito mais sensíveis que outras. Esse é um efeito médio em grandes grupos de sujeitos não selecionados, com observadores também não selecionados, porque algumas pessoas olham melhor que as outras, têm um olhar mais intenso. Mas aqui vocês vêem uma marca muito característica desse efeito. Nos testes de olhar, os sucessos eram cerca de 60% e nos testes de não olhar é mais ou menos no nível da probabilidade. Esses experimentos foram repetidos em uma série de escolas na Alemanha e na América, realizados por professores sob minha orientação. Nesse caso vocês vêem exatamente o mesmo padrão outra vez, só que o efeito é maior. As crianças são mais sensíveis a esse teste do que os adultos e agora faço esses experimentos principalmente com crianças, porque elas são melhores.

Aqui vocês vêem uma vez mais que o efeito do olhar nos testes é grande, e que não há nenhum efeito nos testes de não olhar; os totais são a média dos dois. A princípio, quando pensei nisso, fiquei intrigado, mas faz sentido: se realmente existe uma sensação de ser olhado, é de se esperar que a sensação funcione quando a pessoa está sendo olhada. Nos testes de não olhar, nos testes de controle, você está pedindo aos participantes que descubram a ausência de uma sensação. Na vida real, normalmente não temos prática em descobrir quando não estão nos olhando. Essa é uma situação completamente artificial e irrealista, e nos testes de não olhar as pessoas estão apenas adivinhando, os resultados não são melhores que a probabilidade. Esse padrão, que é uma marca característica desses resultados experimentais, é interessante de outro ponto de vista, porque também atua como um controle interno contra fraudes ou deixas sutis.

Se os alunos estivessem trapaceando falando baixinho um com o outro, ou fazendo sinais, seria de se esperar que melhorassem sua contagem no caso de olhar, e também no caso de não olhar, não se poderia esperar um efeito seletivo indicando que eles só teriam trapaceado nos testes de olhar e, de alguma forma, fosse lá qual fosse o sinal, as pessoas não reconheceriam a ausência nos testes de não olhar. Isso não seria coerente nem com trapaça nem com deixas sutis. Ora, esses experimentos já foram feitos em uma escala gigantesca e eu sintetizei os resultados cumulativos, até agora, um total de cerca de 18.000 suposições. Aqui estão os testes de não olhar e esses são os totais de suposições, corretas e incorretas.

Essa aqui é uma outra maneira de fazer a contagem dos resultados. Aliás, estatisticamente essa é melhor, ela me foi sugerida por um cético, o Professor Nicholas Humphrey, um dos mais importantes estudiosos do assunto, mas, como ele também é amigo meu, nós muitas vezes discutimos esses resultados. Ele sugeriu que a melhor maneira de fazer a contagem é a seguinte: pegar cada um dos participantes que faz 20 testes, descobrir quantos participantes obtêm 11 ou mais suposições corretas, pessoas que acertam mais vezes do que erram - quantos participantes obtêm 9 ou menos corretas - pessoas que erram mais do que acertam - e ignorar as pessoas que obtêm exatamente meio a meio. Quando examinamos os testes dessa maneira, os participantes que acertaram mais do que erraram por comparação aos que erraram mais do que acertaram são os dos testes de olhar.

A significância estatística desse efeito é l em 10 elevado a 37 que representa uma probabilidade de trilhões e trilhões contra um. São efeitos incrivelmente significativos. No caso dos testes de não olhar, a significância foi nula. Então, nesse caso, temos uma enorme significância e no outro nenhuma signifícância, essa é uma diferença dramática. E nesses resultados aqui, que, é claro, são a combinação dos outros dois, o efeito geral, a significância é de 100 para l, contra a possibilidade de casualidade. Portanto, aqui temos um método experimental que é extremamente fácil de ser repetido, que não custa nada, que pode ser feito nas salas de aula dos colégios ou universidades e já está sendo realizado em escolas em todo o sistema escolar do estado de Connecticut na América, e na Grã-Bretanha em escolas no norte da Inglaterra como uma aula prática padrão para as crianças explorarem fenômenos que não estão no mapa psicológico comum. As crianças adoram fazer esses experimentos porque estão interessados no fenômeno, todas elas já ouviram falar dele. Os professores também gostam porque as crianças têm um experimento que realmente querem fazer. Todo o mundo gosta porque é de graça, e eu gosto porque obtenho muitos dados produzidos de graça, porque as pessoas me enviam seus dados. Se algum de vocês quiser fazer esses experimentos, com seus amigos ou alunos, pode baixar o procedimento completo, inclusive as folhas para a contagem dos pontos já ponderadas, do meu site na Internet e eu gostaria de encorajá-los a tentar fazer o experimento porque é um procedimento que pode ser repetido. É claro, para obter resultados estatísticos são necessárias amostragens bem grandes. O resultado não seria estatisticamente significativo com apenas dez ou vinte pessoas fazendo o teste uma única vez, seria preciso um pouco mais do que isso, mas se alguém aqui fizer o experimento, por favor, me mande os resultados. Sobre os dados que eu incluí aqui, os céticos dizem: "Bem, se as pessoas mandaram os resultados, então elas só irão mandar se obtiverem resultados positivos, e com isso você teria um viés". Na verdade, os dados que incluí aqui são aqueles em que eu tinha séries completas. Em Connecticut, a universidade estadual fez com que os professores realizassem esse experimento como parte do curso e com isso eu tenho todos os dados de lá, e em meus próprios experimentos eu incluí todos esses dados. Portanto, esse fenômeno é realmente passível de repetição.

Recebi muitos comentários de céticos sobre isso e um desses comentários é um argumento sutil, que diz que se as pessoas estão na mesma sala poderia haver mudanças na respiração, pequenos sons, etc. Portanto, para testar essa possibilidade, fizemos os últimos experimentos através de janelas. Colocamos as crianças em uma sala de aula e as outras crianças sentadas na outra direção, a uns 100m de distância, usando aquelas máscaras, portanto não há possibilidade de que elas possam ouvir ou ver as crianças na sala de aula ou sentir o cheiro delas e esses efeitos funcionam através de janelas, funcionam através de espelhos, e até mesmo através da televisão de circuito fechado. Esses experimentos agora já foram realizados em um número de universidades através da televisão de circuito fechado e em vez de perguntarem às pessoas se elas estão sendo olhadas ou não, monitora-se a resistência de sua pele automaticamente. E há mudanças na resistência da pele quando as pessoas estão sendo olhadas de uma tela de televisão por alguém numa outra sala. O interessante é que na vida real há muito conhecimento sobre esse efeito.

Entrevistei alguns detetives particulares, pessoal da vigilância na polícia, pelotões antiterrorismo da Irlanda do Norte e outras pessoas cujo negócio é olhar outras pessoas. A maioria das pessoas fica constrangida de olhar fixamente para outra pessoa durante muito tempo, mas há pessoas cujo trabalho é fazer exatamente isso o dia todo e, é claro, elas têm muito mais experiência que a maioria. A maior parte dessas pessoas que são observadores profissionais dos demais está muito consciente desse fenômeno, e alguns daqueles que operam sistemas de segurança em shoppings, edifícios, aeroportos e hospitais também estão muito conscientes desse efeito. Em uma das principais lojas de departamento de Londres, os detetives da loja disseram que podiam olhar as pessoas na loja através de uma TV e quando viam alguém roubando, um gatuno, muitas vezes perceberam que se olhassem para essa pessoa muito intensamente pela tela da TV, a pessoa começava a olhar a seu redor procurando as câmeras escondidas e depois devolvia o que tinha tirado e saía da loja. Um segurança em um hospital disse que onde isso dava mais certo era com uma câmera oculta que cobria uma área onde as pessoas iam fumar, embora não fosse permitido fumar no hospital, mas quando ele observava os fumantes através da televisão de circuito fechado eles imediatamente começavam a parecer constrangidos e apagavam seus cigarros e saíam dali. Portanto, há muitas experiências práticas. No SAS britânico, que são as forças especiais usadas para tomar de assalto terroristas em embaixadas e lugares semelhantes, parte do treinamento ensina que se você está se aproximando cuidadosamente de uma pessoa por trás, para esfaqueá-la nas costas, você não deve olhar fixamente para as costas dela, porque é quase certo que, se o fizer, ela vai se virar e lhe fazer alguma coisa horrível. E a primeira lição que um detetive particular aprende sobre seguir alguém é que você não olha para quem está seguindo, porque se olhar ele vai se virar e seu disfarce terá sido descoberto, a pessoa o verá e você já não poderá segui-la. Por isso, não se deve olhá-los fixamente.

Existe uma enorme quantidade de experiências práticas sobre esse fenômeno. Pessoas comuns já o vivenciaram, e existe também muita experiência individual. Tenho coletado relatos que as pessoas fazem desse fenômeno. Portanto há uma grande quantidade de história natural, há forte evidência experimental, e acho que se existem no reino humano, também existem entre os animais. Comecei recentemente alguns experimentos nos quais examino pássaros e outros animais para ver se eles sabem quando estão sendo olhados. Parece que sim. Acabei de mencionar o procedimento que elaboramos para isso: temos uma câmera de vídeo, para uma situação real, que fica ligada continuamente observando pássaros, por exemplo; a seguir, um observador se esconde em algum lugar, ou fica atrás de um espelho de duas faces ou de vidro enfumaçado, e esse observador fica olhando os pássaros por um minuto e depois não olha por um minuto; com isso você terá uma sequência aleatória de testes de um minuto. Ao analisar o vídeo depois, que pode ser contado por uma terceira pessoa neutra, você descobre se os pássaros ficaram mais agitados durante os períodos em que estavam sendo olhados do que quando não estavam. Os resultados preliminares sugerem que ficam. Animais parecem ser sensíveis ao olhar e, no momento em que você pensa nisso, você vê que os animais sabem quando outros animais estão olhando para eles, e se uma presa souber quando um predador está olhando para ela, isso teria valor evidente para a sobrevivência. E isso é de importância fundamental no reino animal provavelmente porque as pressões da seleção seriam muito fortes para que eles desenvolvessem essa sensibilidade. Ela poderia estar presente por pelo menos cem milhões de anos, ou, talvez, 200 milhões de anos, desde a evolução dos olhos. Eu acho que o que a princípio parece uma curiosidade, um fenômeno secundário na vida humana, essa sensação de ser olhado pelos outros, pode ter uma importância biológica significativa. É claro, na evolução dos relacionamentos presa/predador, se as presas ficassem boas demais na arte de saber quando os predadores estavam olhando para elas, os predadores passariam fome. Portanto, é de se esperar que os predadores desenvolvem meios de não se trair, talvez eles possam atuar como os membros do SAS britânico, ou como detetives particulares, não olhando demasiado. Mas, essa é uma área a qual não se dá muita atenção, a etologia animal, portanto só podemos depender de relatos de naturalistas. Mas aqui há uma enorme área de biologia, de história natural, de psicologia que não foi explorada cientificamente e que poderia ser explorada sem grandes gastos e que tem imensas consequências para nossa compreensão da natureza da mente.

Acho que essas áreas são a conexão entre a pessoa que está olhando e aquilo que está sendo olhado, o que ocorre através daquilo que poderíamos chamar de campo perceptual, e no meu caso, eu penso neles como sendo campos mórficos e são um aspecto da minha hipótese geral sobre campos mórfícos, campos que conectam coisas que formam um todo. O observador e o observado, como os físicos muitas vezes nos dizem, estão conectados um ao outro. Na física já não é heresia dizer que o observador e o observado têm uma conexão entre eles. Na biologia, é claro, isso ainda é herético, mas, é claro, isso é realmente senso comum. E esses experimentos ajudam bastante a trazer o fenômeno para a biologia oficial e penso, portanto, que a idéia da mente, da percepção, precisa ir mais além da noção de que tudo se passa dentro da cabeça, e precisamos ver o processo como um processo muito mais amplo.

Bem esse é meu primeiro argumento, a primeira noção que aponta para a idéia da mente ampliada. O segundo ponto que eu quero expor sobre a mente ampliada é que nossa mente não está simplesmente localizada dentro de nossa cabeça. Acho que a idéia de que a mente está dentro de nossa cabeça nos dá uma idéia falsa de nosso relacionamento com nossos próprios corpos. As psicologias tradicionais achavam que a psique ou alma estavam espalhadas pelo corpo todo e até mesmo ao redor dele, conectando com o ambiente e até com os ancestrais. Portanto as psicologias tradicionais têm a idéia de que existem muitos centros psíquicos, não só a cabeça ou o córtex cerebral, mas que existem centros no coração, por exemplo. Os sistemas hindus e budistas falam de chacras, como sendo os centros psíquicos através do corpo. Na Europa Ocidental existia também uma idéia semelhante, nas liturgias cristãs, por exemplo ainda falamos dos "pensamentos do coração", as pessoas falam de "sentimentos viscerais". Portanto, a idéia de centros psíquicos ainda sobrevive e muito bem no Ocidente, embora não na agenda oficial. A partir de Descartes e da visão mecanicista, o coração passou simplesmente a ser uma bomba, não um centro de pensamentos. A idéia da psique permeando o corpo é fundamental na visão tradicional no mundo todo.

Acho que, de várias maneiras, no mundo moderno, o conceito científico que nos permite nos aproximarmos mais da idéia tradicional da alma é o conceito de campos. No mundo antigo as pessoas acreditavam que o universo inteiro mantinha-se unido graças à alma do mundo, a anima mundi. Hoje acreditamos que tudo se mantém unido graças ao campo gravitacional universal, que é o que mantém as estrelas em seu lugar, e mantém o universo integrado, portanto o campo gravitacional de Einstein ocupou o lugar da alma do mundo. Até o século dezessete as pessoas pensavam que os fenômenos elétricos e magnéticos dependiam da alma do imã. O campo magnético da Terra era considerado um aspecto da alma da Terra. Hoje os chamamos de campos magnéticos e elétricos, e assim como a alma que organizava as plantas e os animais que Aristóteles chamava de "alma vegetativa", uma idéia muito parecida foi incorporada desde a década de 1920 ao termo "campo morfogenético", campos formativos que organizam o embrião em desenvolvimento, e o corpo, e ajudam a manter o corpo saudável, e são a base de seus processos regenerativos. Como biólogo, comecei com biologia do desenvolvimento e passei uns vinte anos trabalhando com esse tipo de biologia e a idéia dos campos morfogenéticos foi meu ponto de partida para essa investigação mais ampla.

Quando começamos a tratar da relação do campo do corpo, que, a meu ver, podíamos imaginar como sendo uma espécie de psique, realidade psíquica, no velho sentido de alma, e, é claro, o campo do corpo e o próprio corpo, normalmente são relacionados, da mesma maneira que um campo magnético é relacionado com um imã. O campo magnético está dentro do imã, e também ao seu redor, mexendo-se o imã, o campo se mexe. Penso, por exemplo, que o campo de meu braço está dentro de meu braço e ao redor dele. Mas, o que é interessante é que se eu perdesse meu braço, se ele tivesse sido cortado como resultado de um acidente ou uma operação, eu ainda sentiria o braço. Pessoas que tiveram suas pernas ou braços amputados têm membros fantasmas, quase todas elas, e esses membros fantasmas parecem reais. Um dos grandes problemas em hospitais onde são feitas amputações de membros é que alguns dias depois da operação a pessoa tenta se levantar e andar, porque a perna ainda parece tão real que ela tenta andar apoiando-se nela, e cai no chão. Essas pernas e braços, esses fantasmas, continuam parecendo verdadeiros por muito tempo, na verdade, duram indefinidamente. Há pessoas ainda vivas hoje que têm braços e pernas fantasmas de membros que perderam na Segunda Grande Guerra, há mais de 50 anos. Quando alguém tem um braço ou uma perna falsa, uma prótese, na literatura médica o termo que usam para isso é dizer que, quando colocam um braço falso, o fantasma do braço dá vida à prótese, encaixa-se como uma mão em uma luva.

E as poucas pessoas que não tem fantasmas tem muita dificuldade de se adaptar à prótese, portanto, essa animação do membro artificial - animação é o próprio termo usado pelos médicos - acho que nos diz algo sobre a natureza do fantasma.

A visão médica, é claro, é que o fantasma é produzido dentro do cérebro e é meramente referido ou projetado para o lugar do braço, mas ainda está no interior do cérebro. Eu acredito que é possível que o braço ou perna fantasma está, na verdade, onde parece estar, é o campo do braço ou da perna. Normalmente não é possível separar o braço verdadeiro do campo do braço, mas no fenômeno do membro fantasma é possível separá-los, você tem o campo sem o braço ou perna materiais. Portanto, será que esse campo está realmente lá? Como podemos detectar esse campo? Essa é a maneira perfeita de detectar o campo do corpo, é uma situação extraordinária, maravilhosa para fazê-lo. É muito triste para os que tiveram seus membros amputados, mas é uma sorte para nós que estamos interessados nessas questões mais amplas, porque aqui temos uma separação clara entre a experiência subjetiva, o que eu chamaria de campo do membro, e a estrutura material. O que é que está realmente lá? Há algumas pessoas que afirmam serem capazes de ver corpos sutis, auras, há outras envolvidas na chamada medicina energética, ou medicina da energia sutil, que afirmam serem capazes de sentir esses campos corporais. Há até algumas pessoas que praticam a técnica chamada de "toque terapêutico", que descobrem que podem aliviar a dor nos membros fantasmas massageando-os. É claro, eles estão massageando um membro que não está lá, mas eles afirmam que podem sentir o membro que, com a prática, podem realmente detectar o membro.

Bom, eu desenvolvi um experimento muito simples para testar os membros fantasmas. Esse é um experimento que desenvolvi muito recentemente. Mencionei uma versão mais antiga dele no meu livro, mas recentemente elaborei uma versão melhor que, por enquanto, só tive tempo de experimentar uma vez e o experimento não deu certo. Mencionei isso porque a técnica é simples, e é algo que alguns de vocês podem querer tentar se tiverem a oportunidade. Acho que não funcionou porque eu estava trabalhando com um vedor, uma pessoa que normalmente procura água subterrânea ou tesouros enterrados, e ele nunca tinha feito esse tipo de coisa antes, teria sido melhor fazê-lo com algum terapeuta ou praticante de energia sutil. O experimento foi feito na casa de uma pessoa, atrás da porta pusemos pedaços de papel, seis pedaços de papel colados atrás da porta, numerados. A seguir a pessoa sem braço ficou atrás da porta com meu assistente, que jogou um dado, obtendo um número de um a seis, e a pessoa colocou o braço fantasma através da almofada da porta com o número correspondente. Imagine, então, que eu sou uma pessoa que amputou o braço e agora estou passando meu braço fantasma através de uma dessas almofadas, e você é um vedor ou um terapeuta de energia sutil, e você tem que me dizer o número da almofada. Se você puder fazer isso corretamente várias vezes, isso seria uma boa evidência tanto para a existência de braços fantasmas quanto para o resultado dessas técnicas de diagnósticos sutis. Portanto, é um procedimento bastante simples. No entanto, há um problema com isso: quando fizemos o experimento o vedor ficou dando as respostas erradas, que eram as respostas certas no teste anterior. Ele disse que a memória se agarrava à porta. Esses vedores muitas vezes dizem que a memória das coisas é um problema para eles, portanto, a solução para isso teria sido retirar os pedaços de papel e colocá-los em outra porta, e como a maioria das casas e instituições tem muitas portas, é possível usar uma porta nova para cada experimento.

Outro método seria tentar detectar o fantasma por meio de instrumentos. Se o fantasma interagir com qualquer tipo de instrumentação, haveria uma forma de colocar isso sobre uma base científica muito mais rigorosa, porque mostraríamos que essas coisas poderiam ser detectadas não só por pessoas, mas também por meio de instrumentos. O método mais simples seria se as pessoas com membros fantasmas os colocassem dentro de vários tipos de aparelhos científicos, por exemplo, um aparelho de televisão: se alguém colocasse seu braço fantasma no tubo catódico de um aparelho de televisão e se uma sombra de sua mão aparecesse na tela, isso seria muito dramático. Se eles os colocassem em um detector de cintilação ou em um espectrômetro de massa e se, em um deles, houvesse uma mudança no ponteiro, isso seria uma descoberta muito produtiva. Infelizmente, ainda não consegui convencer nenhuma pessoa com um membro amputado a fazer isso, porque, embora os médicos lhes tenham dito que é tudo imaginação e que o fantasma é uma ilusão, quando você lhes pede que coloquem o braço fantasma dentro de um aparelho de TV eles ficam com medo de levar um choque elétrico. Essa é uma área em que fiz apenas algumas investigações preliminares, porque tenho estado muito ocupado fazendo alguns dos outros experimentos, mas o menciono porque há muitas oportunidades para esse tipo de pesquisa, onde é possível expandirmos nossa visão das coisas, no momento em que abandonemos as limitações estreitas de uma visão convencional e possamos ver que há muitas oportunidades para pesquisas científicas usando métodos estatísticos que podem ampliar nossa visão. Isso teria imensa relevância para a medicina alternativa assim como para o conhecimento teórico sobre a relação mente/corpo.

Penso que nossas mentes podem também influenciar o que ocorre no mundo a nossa volta. Alguns pesquisadores psíquicos estudaram fênomenos de psicocinesia, a mente controlando a matéria, e a estudaram em relação a decaimento radioativo e em relação aos fenômenos que envolvem processos aleatórios. A meu ver, um dos experimentos mais interessantes é aquele que foi feito por Renee Pehoc, na França, que usou galinhas, aliás, pintinhos. Ele tem uma máquina robótica que se movimenta de acordo com um gerador de números aleatórios. Ele pega pintinhos com um dia de vida e eles se fixam (imprint) nessa máquina. Como vocês sabem os pintinhos com um dia de vida se fixam em qualquer objeto móvel, é um de seus primeiros procedimentos de aprendizagem. Eles se fixam em pessoas, em brinquedos, em qualquer coisa que mexa. Então, eles se fixam nessa máquina. A seguir ele põe os pintinhos em uma gaiola, em um lado da sala, e a máquina no chão. Como estão fixados na máquina, eles querem chegar perto dela, mas os movimentos da máquina são totalmente aleatórios, ela se movimenta pela sala aleatoriamente. No entanto, quando os pintinhos estão na sala, a máquina vai para aquele lado e passa a maior parte do tempo perto da gaiola. O desejo deles de que a máquina chegue mais perto influencia a máquina de tal forma que encontramos desvios padrões extraordinariamente altos nesses experimentos. Esses são experimentos fascinantes e foram repetidos por outras pessoas. Renee Pehoc também já fez o mesmo experimento com outros animais além de pintinhos, como coelhos.

Acho que esses são os resultados mais interessantes. Acho que a psicocinesia, os efeitos da mente sobre a matéria, se eles existem, ocorrerão quando a pessoa tem um motivo forte. O problema com a maioria das pesquisas parapsicológicas é que ela envolve tarefas bastante sem sentido. Ou seja, influenciar a direção de um gráfico no computador não é muito importante para a maior parte das pessoas e adivinhar cartas de um tipo totalmente insignificante que estão sendo olhadas por um estranho em uma outra sala, pensem bem, não poderíamos imaginar uma situação em que a probabilidade da coisa funcionar fosse menor. É surpreendente que eles consigam qualquer resultado, porque os fenômenos da vida real dependem de coisas que realmente importam para as pessoas. Se estamos procurando efeitos da mente sobre a matéria, o melhor lugar para procurá-los seria nos laboratórios científicos, especialmente laboratórios químicos, físicos e biológicos. Os cientistas têm fortes expectativas sobre o que querem encontrar. Eles têm um tabu extraordinariamente forte contra a possibilidade de que possam ter qualquer influência paranormal sobre aquilo que acontece em seus experimentos e têm uma crença ingênua em sua total objetividade. Isso cria condições ideais para a manifestação de fenômenos psicocinéticos. Ora, sabemos que no domínio da psicologia e da medicina os efeitos do pesquisador são bem descritos e documentados. Na medicina, o efeito placebo ocorre quando as pessoas esperam que uma pílula nova tenha poderes de cura maravilhosos, e médicos e pacientes acreditam isso. Se eles não sabem qual é a pílula falsa, e qual é o remédio, o efeito placebo muitas vezes funciona bem. É claro, se você disser às pessoas "essa é o placebo, é uma pílula falsa, e essa é o remédio maravilhoso", as pessoas que tomarem o placebo não se beneficiam dele. Só funciona se você não souber o que está tomando. De qualquer forma, os testes duplo-cegos são padrão na medicina clínica. Na psicologia, a importância de técnicas experimentais cegas é amplamente reconhecida, e há livros inteiros sobre o efeito experimental. Isso mostra que as pessoas, os pesquisadores, podem influenciar o que ocorre. Ninguém jamais explicou por que eles têm uma influência assim tão forte sobre o resultado de testes médicos e psicológicos, e, é claro, isso também funciona com animais. Como aqueles entre vocês que estudaram psicologia provavelmente sabem, Robert Rosenthal e outros fizeram experimentos em que as pessoas testam ratos ou outros animais, e se eles acreditam que os ratos que estão sendo testados são inteligentes, astutos, os ratos têm resultados melhores no teste do que no caso em que eles acreditam que os ratos são burros, mesmo que os ratos tenham sido tirados de um mesmo grupo e selecionados aleatoriamente. Portanto, existem grandes efeitos da mente sobre a matéria na psicologia e na medicina.

E nas demais ciências? Bom, ninguém sabe. Ninguém jamais testou a influência do pesquisador nas ciências físicas e aqueles que praticam a física e a química, normalmente consideradas as mais objetivas das ciências, são totalmente ignorantes de técnicas de simulação. A fim de examinar até que ponto elas são levadas em consideração na prática da ciência normal, eu fiz um levantamento recentemente de publicações científicas importantes para ver quantos trabalhos publicados envolviam o uso de técnicas cegas. No primeiro grupo de publicações importantes de física e química do tipo Journal of the American Chemical Society, dos 237 trabalhos que examinamos nenhum deles envolvia técnicas de simulação. Nas ciências biológicas, dos 914 trabalhos que examinamos apenas 7 envolviam essas técnicas. Em coisas como o Biochemical Journal, Cell Heredity, nenhum deles. Nas ciências médicas 5,9% dos experimentos publicados envolviam técnicas cegas. Mais do que a biologia, mas mesmo assim abaixo daquilo que seria de se esperar. Na psicologia e no comportamento animal, 4,9%, também muito menos do que seria de se esperar, considerando-se a consciência que os psicologistas têm desse fenômeno. Na parapsicologia foram 85%, portanto a parapsicologia está bem na frente de todas as outras ciências no uso de metodologias objetivas e rigorosas, e nas ciências físicas as técnicas são praticamente desconhecidas. Quando fizemos um levantamento das universidades, nas onze melhores universidades na Grã-Bretanha, Oxford, Cambridge, Londres, Edinburgh, e assim por diante, para ver quantos departamentos usavam métodos cegos em pesquisa ou os ensinavam a seus alunos, o resultado foi o seguinte: na química inorgânica, nenhum em 7; na química orgânica, nenhum em 7; na física l em 9 e esse departamento de física só os usava porque tinham um contrato industrial que estipulava seu uso.

Não sou o tipo de pessoa que diga "vamos falar mal dos outros", acho que devemos sempre tentar encontrar uma abordagem positiva, e o experimento que estou sugerindo aqui é para ver se existem efeitos da mente sobre a matéria na ciência regular. O experimento que proponho é o seguinte: em aulas práticas laboratoriais normais, do tipo que os estudantes fazem normalmente, digamos, uma aula prática de bioquímica - normalmente, numa aula prática desse tipo as pessoas comparam uma amostra do teste com uma amostra de controle, por exemplo, uma enzima ativada com uma enzima de controle - eu sugeriria que nessas aulas práticas metade dos alunos fizesse tudo como sempre faz, sabendo o que é o quê, e a outra metade faça um teste cego, e as amostras sejam rotuladas de A e B. Você verá que não há qualquer custo envolvido nisso; estamos fazendo a aula prática normal, a única diferença é a etiquetagem dos tubos. A seguir você faz uma análise da divergência entre os resultados para ver se há alguma diferença dos resultados do teste cego e do teste feito em condições abertas. Se os resultados nas condições cegas forem diferentes, isso mostraria a existência de um efeito do pesquisador. Essa técnica simples pode ser utilizada em qualquer ramo da ciência, e pode ser que em alguns ramos da física e da química não haverá efeitos do pesquisador, e então, pela primeira vez, haveria evidência experimental para a suposta objetividade das ciências físicas. Mas, se existirem efeitos do pesquisador, o que eu acho que haveria, então temos que ver o porquê. Será apenas tendência do observador? É porque as pessoas registram os dados de uma maneira tendenciosa, de acordo com suas expectativas? Ou são os próprios sistemas que dão resultados diferentes de acordo com suas expectativas? Poderia haver uma espécie de efeito psicocinético real nas enzimas ou nos próprios sistemas sob investigação, afinal de contas, já ficou demonstrado que eles influenciam os processos de decaimento radioativo.

Acho que esses efeitos da mente sobre a matéria, a interação entre o observador e a coisa observada, podem desempenhar um papel essencial na ciência. É claro, quando muitas pessoas esperam um resultado específico, quando se constrói um consenso científico, há uma tendência para que o resultado apareça repetidamente nos experimentos. Mas até que ponto a construção de consenso científico é a descoberta de uma realidade objetiva e até que ponto é a criação ou uma moldagem da realidade de acordo com nossas expectativas. Ninguém sabe a resposta para essa pergunta até o momento porque ninguém fez os experimentos. Acho que a mente ampliada poderia se ampliar até o próprio coração da ciência. Publiquei um trabalho recentemente com esses resultados no Journal of Scientific Exploration e tenho cópias se alguém quiser.

Entro agora em uma outra área de experimentação que acho particularmente importante e interessante.

Com relação a efeitos psíquicos - efeitos da mente à distância - a maior parte das pesquisas até o momento foram feitas na área de parapsicologia humana. Na verdade, alguns parapsicólogos definem sua disciplina como o estudo das capacidades humanas extraordinárias. A meu ver, no entanto, estamos olhando no local errado se quisermos realmente descobrir mais sobre esses fenômenos. Acho que se essas coisas existem, elas provavelmente serão muito mais frequentes em animais do que em seres humanos. Pessoas urbanas e modernas são provavelmente o último lugar onde devemos procurar fenômenos passíveis de repetição como esses. Quando comecei a pensar no assunto, pensei "como estudaríamos esses fenômenos nos animais?" É claro, os comportamentalistas de animais têm os tabus normais e não estudam essas coisas em animais selvagens. As pessoas que verdadeiramente as observam são as que têm animais domésticos. Metade dos domicílios na Grã-Bretanha, provavelmente um pouco menos em Portugal, tem animais domésticos, as pessoas têm animais porque gostam de tê-los por perto, têm algum tipo de ligação com eles. O relacionamento entre humanos e animais é algo muito antigo, e é claro, sociedades rurais tradicionais estão sempre envolvidas com animais, gatos, cachorros, carneiros, cavalos, burros, galinhas, etc. e antes disso, nas sociedades dos caçadores-coletores, as atividades xamânicas eram em grande parte relacionadas com animais e espíritos de animais. Portanto, acho que essa conexão com animais é essencial para nossa humanidade. Tem sido assim por toda a história humana, e creio que nossa consciência evoluiu junto a esse relacionamento com animais. Nas sociedades urbanas modernas as pessoas não têm necessidade de animais que trabalhem, como no caso dos agricultores, mas, apesar disso, elas têm animais domésticos em casa, embora seja um hábito caro, eles dão trabalho, têm cheiro forte, etc. As pessoas realmente querem esses relacionamentos com animais. As pessoas que têm animais domésticos os observam dia a dia, semana a semana, ano a ano, muito mais do que cientistas e laboratórios que apenas os examinam durante algumas horas. Donos de animais e agricultores estão estudando seus animais o tempo todo, e há um enorme corpo de informações sobre o comportamento animal entre esses donos. Mas essa informação foi completamente negligenciada pela ciência organizada, porque acham que não pode ser levada a sério e, uma vez mais, há a questão do tabu, essa arrogância que, a meu ver, foi um mal da ciência por tanto tempo: as mentalidades arrogantes dizem: "não escutem o que dizem os donos de animais, eles são apenas pessoas ignorantes e sem instrução que querem acreditar nessas coisas sobre seus animais, porque têm esse relacionamento emocional antinatural com eles". É muito fácil para as pessoas dizerem isso, e rejeitarem esse conhecimento, e esse tabu significa que uma fonte preciosa de informação que pode ser oferecida pelos donos de animais foi completamente menosprezada. Nas escolas e universidades veterinárias existe hoje uma área em crescimento chamada de "estudos de animais companheiros" mas o único financiamento para isso, na verdade, busca examinar o benefício que animais domésticos trazem para os seres humanos. Essa área estuda como ter animais domésticos reduz a probabilidade de ataques cardíacos ou faz as pessoas idosas se sentirem menos sozinhas, e assim por diante. Mas, na verdade, ela não examina os animais.

Portanto, essa área foi completamente menosprezada. Há um tabu sobre levar animais domésticos a sério, assim como sobre levar paranormais a sério. Mas quando examinamos as coisas que os donos de animais dizem, há uma fonte preciosa de informação. A maioria dos donos de animais acredita ter uma ligação telepática com seus cães ou gatos. Isso foi descoberto através de levantamentos, e há inúmeras histórias que podem ser coletadas, como eu venho coletando, de donos de animais sobre coisas que seus animais fazem, que sugerem uma sensibilidade para com o pensamento e a intenção humanos, que podem funcionar à distância. Por exemplo, a capacidade que muitos cães ou gatos têm de saber quando seus donos estão vindo para casa. Muitas pessoas observaram que cães, gatos ou outros animais, especialmente papagaios, ficam nervosos 10, 15 minutos, meia hora, às vezes até uma hora antes de seu dono chegar em casa. Os cães normalmente vão esperar perto da porta, ou os gatos vão olhar por uma janela, ou mostrar algum comportamento característico que significa que parece que sabem quando seu dono está a caminho de casa. A primeira vez que eu ouvi essa história fiquei muito surpreso. Pessoalmente eu nunca tinha observado isso com nenhum de meus animais, mas comecei a perguntar a amigos e parentes e descobri que isso é extremamente comum.

Então fiz um apelo nos Estados Unidos para que as pessoas enviassem histórias sobre isso e colecionei muitas delas, o que me fez pensar que era um fenômeno que realmente merecia ser investigado. Desde então venho colocando anúncios em jornais e revistas na Grã-Bretanha, na Alemanha, na Suíça e na França solicitando histórias desse tipo. Hoje tenho mais de 2.000 histórias, classificadas em várias categorias, em um banco de dados informatizado e isso me dá uma história natural básica desses fenômenos com animais domésticos. Deixe-me dar um exemplo, do tipo de histórias que recebemos neste banco de dados, sobre um cachorro que sabe quando seu dono está chegando em casa. Essa é de uma pessoa no Havaí: "Meu cachorro Debby sempre fica esperando na porta uma meia hora antes de meu pai chegar em casa do trabalho. Como meu pai estava no exército, ele tinha um horário de trabalho muito irregular. Não fazia diferença se meu pai ligava antes, e uma época eu achei que o cachorro reagia à chamada telefônica, mas isso obviamente não era o caso porque às vezes meu pai dizia que estava vindo para casa mais cedo, mas tinha que ficar até mais tarde. Às vezes ele nem telefonava. O cachorro nunca se enganava, portanto eu eliminei a teoria do telefone. Minha mãe foi a primeira pessoa que notou esse comportamento. Ela estava sempre preparando o jantar quando o cachorro ia para aporta. Se o cachorro não fosse até aporta, nós sabíamos que papai ia chegar mais tarde. Se ele chegasse tarde, o cachorro mesmo assim o esperava, mas só quando ele já estivesse no caminho de casa". Como vocês podem ver, temos agora em nosso banco de dados cerca de 580 relatos de cachorros que fazem isso, cerca de 300 relatos de gatos que fazem isso, com esse tipo de qualidades.

O cético de carteirinha irá dizer "bem é apenas uma rotina" mas na maioria dos casos não é uma rotina, se fosse as pessoas nem notariam. A maioria das pessoas não é idiota, e se fosse apenas uma rotina, elas estariam conscientes dessa possibilidade. Na maior parte dos casos é óbvio que não é uma rotina. O próximo argumento do cético de carteirinha é "bom, o que deve acontecer é que as pessoas da casa sabem quando o dono está vindo e com isso seu estado emocional muda, e o animal capta essa mudança através de deixas sutis". Bem, é claro que isso é possível se as pessoas realmente prevêem que alguém está vindo para casa, seu estado emocional pode mudar, elas podem ficar excitadas ou talvez deprimidas e o animal pode captar essa mudança emocional e reagir a ela. Mas, em muitos dos casos, as pessoas na casa não sabem quando a outra está vindo para casa, é o animal que lhes diz e não elas que dizem ao animal.

Quando eu estava discutindo esse assunto com Nicholas Humphrey, meu amigo cético disse: "bem, tudo isso ainda não elimina a possibilidade de que eles ouvem o barulho do motor do carro, um motor de carro familiar a 30, 40 quilômetros de distância", e eu disse: "isso é obviamente impossível". E ele: "pelo contrário, apenas demonstra como a audição dos cachorros é aguçada". Foi essa discussão que levou à idéia de fazer um experimento. Eu disse: "OK, e se eles vierem para casa de táxi, ou no carro de um amigo, ou de trem, ou de bicicleta da estação em uma bicicleta emprestada, para que não haja sons familiares?" E ele disse: "nesse caso, o cachorro não reagiria", e desde a publicação deste livro eu já descobri muitos cachorros, gatos e outros animais que fazem isso. Eu falarei do experimento em um momento, mas, primeiro, direi alguma coisa sobre o levantamento que fizemos. Já fizemos quatro levantamentos domiciliares usando amostras aleatórias que perguntavam aos donos de animais a respeito das habilidades de seus animais. Vemos aqui o resultado de dois levantamentos na Grã-Bretanha e dois nos Estados Unidos, um nos subúrbios de Los Angeles e um em Santa Cruz, Califórnia, um em Londres e outro em Rams-bottom, uma cidadezinha perto de Manchester, no nordeste da Inglaterra. Telefonamos para pessoas escolhidas aleatoriamente usando técnicas padronizadas de amostragem e perguntamos se elas tinham animais. Dos donos de animais, havia mais donos de cachorros do que de gatos na maior parte das localidades, a não ser em Santa Cruz onde havia mais donos de gatos do que de cachorros. Perguntávamos: então "seu animal parece saber previamente quando um membro da família está vindo para casa?" Aproximadamente 50% dos donos de cachorro em todas as localidades disseram que sim - em Los Angeles foram mais de 60% - e podemos ver através desses resultados que os gatos em todas as localidades fazem isso menos que os cachorros. Portanto há uma diferença clara entre gatos e cachorros, mas eu acho que não é necessariamente porque os gatos sejam menos sensíveis que os cães, apenas que a maior parte deles simplesmente está menos interessada. Portanto, há uma diferença óbvia entre gatos e cães, os gatos também fazem, mas no caso dos cachorros são muitos, pois cerca de 50% dos cachorros parecem mostrar esse comportamento prévio. Estamos falando de milhões de cães só na Europa. Todas as cidades e aldeias provavelmente têm um cão que faz isso, ou vários deles.

Portanto temos aqui um fenômeno muito bem conhecido. Há uma grande quantidade de experiências que sugerem que isso realmente ocorre, e o que estamos fazendo agora são experimentos em que realmente testamos se os cachorros sabem quando as pessoas estão vindo para casa. Nos primeiros experimentos que foram feitos, pedíamos às pessoas que anotassem em um caderno o comportamento do cachorro, mas os céticos disseram: "bem, assim você tem uma tendência subjetiva". Portanto, agora nós fazemos uma fita de vídeo de todos os experimentos. Temos uma câmera de vídeo em um tripé, apontando para o lugar onde o cachorro ou o gato esperam pela pessoa que vem para casa. Há um controle de tempo na câmera e ela fica funcionando por horas. Então, temos horas de filme que irão mostrar se o cachorro ou o gato vão até a janela, e por quanto tempo ficam lá, um registro objetivo e perfeito. É claro, esses filmes não são muito interessantes de ver, centenas de horas de capachos de portas da frente não são lá um tema muito emocionante, mas, felizmente, há um botão para acelerar e passar rapidamente pelos pedaços em que nada está acontecendo. O que vou lhes mostrar daqui a pouco é um vídeo de um desses experimentos que foi feito com um cachorro com que trabalhei principalmente na Inglaterra. O cachorro chama-se JT e o nome de sua dona é Pam. Quando Pam sai, ela deixa JT com seus pais, que vivem no apartamento ao lado do dela. Eles observaram há muitos anos que JT sempre ia para a janela quando Pam estava a caminho de casa, ou quase sempre. Esse experimento foi filmado profissionalmente pela televisão estatal austríaca, e por essa razão a trilha sonora é em alemão, embora seja um cachorro inglês. Portanto, eu explicarei o que está acontecendo em inglês para aqueles cujo alemão não é lá muito bom. O importante, aqui, é que o experimento foi genuíno, eu concordei em realizar esse experimento para a televisão estatal austríaca, se eles filmassem com duas câmeras, para que pudéssemos ver o cachorro e a pessoa que estava na rua ao mesmo tempo. E se eles escolhessem as horas de sua vinda para casa de maneira aleatória, que nem ela mesma soubesse previamente, que ninguém soubesse previamente; o operador filmando o cachorro, e nem ela nem seus pais sabiam previamente quando ela viria para casa, e ela viria para casa de táxi para eliminar a possibilidade de sons de carros familiares. Esse, portanto, é um experimento que foi realizado dentro dessas condições.

Na vida real, Pam não vem para casa em horas escolhidas aleatoriamente, e que ela própria desconheça previamente. Quando está no trabalho, ou quando sai para fazer compras ou visitar amigos, ela vem para casa em vários momentos diferentes, e nós monitoramos regularmente as horas em que ela volta, mais de 200 experimentos foram monitorados, temos dezenas deles em vídeo. O cachorro nem sempre reage, cerca de 85% das vezes JT realmente espera por ela quando ela está vindo para casa, cerca de 15% ele não o faz. Analisamos as ocasiões em que ele não faz, a maioria das vezes ocorreu quando a cadela do apartamento vizinho estava no cio. Isso mostra que JT pode se distrair. Isso também ocorreu algumas vezes quando havia visitas na casa ou outro cachorro, e algumas vezes sem nenhum motivo. De qualquer forma, JT normalmente reage quando Pam decide que vai para casa. Naquele filme vocês viram que ele não começa a reagir quando ela entra no táxi, e sim quando ela estava pronta para ir para casa. Na vida real ele não reage quando ela entra no carro para ir para casa, e sim quando ela começa a se despedir dos amigos e pensando "bem, vou-me embora". Ele parece captar essa intenção dela. E este é o número de segundos no período de dez minutos em que JT está esperando perto da janela. É bem verdade que ele vai até a janela ocasionalmente quando Pam não está a caminho de casa, normalmente porque vai latir para um gato que passa na rua ou está olhando alguma coisa que está acontecendo do lado de fora. Nesses gráficos incluímos todos esses casos, embora fique claro no vídeo que ele não está esperando, mas como os céticos dizem que se você usar evidência seletiva isso demonstra que você inventou a coisa toda, não fizemos nenhuma seleção aqui. Às vezes há uns trechos barulhentos, quando ele vai até a janela de qualquer maneira, mas podemos ver que isso é a média de 12 ocasiões diferentes quando ela estava fora por mais de 3 horas. O tempo que ele está esperando na janela é maior aqui e aqui, quando ela está no caminho de casa do que quando ela não está. Vemos um pequeno aumento antes de ela ir para casa, que, a meu ver, tem que ver com esse efeito antecipatório. O tempo em que ela está voltando é o tempo em que ela já está no carro, portanto, ela está se preparando para vir no momento imediatamente anterior a esse. Essas são ausências de tempo médio, seis ausências de tempo médio e uma vez mais aqui vemos essa antecipação nos dez minutos antes de ela sair.

É bastante claro, mas JT está obviamente esperando por ela principalmente quando ela está no caminho de casa. Essas aqui são ausências curtas, esses são alguns experimentos mais barulhentos, mas eles mostram o mesmo resultado. O que é claro nesses gráficos é que JT não vai para a janela com mais frequência quanto mais tempo ela estiver fora. Ele obviamente está muito mais na janela aqui, quando ela está no caminho de volta, do que nos períodos correspondentes aqui. Esses efeitos têm uma enorme significância estatística. Vários tipos de análise mostram significâncias que vão mais além da escala de meu computador. Esses efeitos são do tipo p é menor que .00001.

Esses resultados foram amplamente publicados na Grã-Bretanha, nos jornais, e é claro foram criticados pelos céticos, que estão sempre prontos para dizer que nada semelhante poderia ocorrer. Esses experimentos foram criticados por um dos céticos mais ativos na Grã-Bretanha, cujo nome é Richard Wiseman. Segundo ele, eu não tinha usado procedimentos adequados, não os tinha registrado de forma adequada, etc. Eu fiz também muitos experimentos com horas de retorno aleatórias. Pam tem um pager em seu bolso que eu ativei por telefone de Londres e ela vem para casa em momentos verdadeiramente aleatórios, usando um desses pagers da telecom. De qualquer forma, ele criticou os detalhes, então eu disse: "Tudo bem, por que você mesmo não faz o experimento? Eu organizo tudo para que você possa fazê-lo com o mesmo cachorro. Emprestamos uma câmera de vídeo, Pam irá onde você quiser, o seu ajudante ficará observando-a". Na verdade, então, o próprio Wiseman filmou o cachorro e ficou no apartamento dos pais da Pam, enquanto seu ajudante ia com a Pam para pubs, ou outros lugares, até que em um momento determinado aleatoriamente fosse decidido que eles voltariam para casa. Eles checavam o tempo todo para garantir que não haveria chamadas telefônicas secretas, nenhum meio de comunicação invisível, nenhuma fraude ou trapaça.

Wiseman é um mágico, e ele é um desses céticos que está sempre afirmando que tudo pode ser feito por trapaça ou ilusionismo. Bem, ele mesmo esteve lá, e eles estavam se protegendo de tudo, e ele realizou três experimentos com Pam na casa de seus pais, e esses foram os resultados dos três experimentos que ele fez, usando todos seus controles rigorosíssimos, seu próprio procedimento aleatório, e outras coisas mais (os resultados são exatamente iguais aos outros; o público ri). Portanto, esses resultados são sólidos, mesmo com um cético, que ao fazer o experimento na verdade não quer que ele dê certo. E agora estamos trabalhando com outros cachorros e gatos e encontramos resultados semelhantes, e se vocês estiverem procurando temas para projetos de pesquisas essa é uma área extremamente produtiva e interessante. As pessoas leigas a acham fascinante, porque elas geralmente estão interessadas em animais domésticos e as implicações são enormes, mas também é simplesmente divertido e pode ser feito com um custo muito baixo, você precisa de uma câmera de vídeo pra esses experimentos, mas câmeras de vídeo são bastante baratas hoje em dia e muitas pessoas as têm. Atualmente realizo uma série de experimentos em Santa Cruz, Califórnia, com um tipo de periquito italiano que mostra o mesmo tipo de reação: eles guincham quando o dono está vindo para casa, e obtemos quase o mesmo tipo de gráficos, mostrando que os guinchos vão aumentando de intensidade quando o dono está a caminho de casa em horas aleatórias.

Portanto, provavelmente aqui em Portugal, seria possível fazer esses experimentos com cães e gatos, na verdade acho que essa pesquisa pode ser feita em qualquer lugar. É uma pesquisa muito, muito interessante. Como o contribuinte paga pela maior parte da ciência, e como a maior parte dos contribuintes tem animais domésticos, se a ciência for refletir o interesse das pessoas que pagam por ela, esse tipo de pesquisa estaria no topo da agenda científica. Nas circunstâncias atuais chega a estar próximo ao último lugar. Mas eu acho que é o tipo de pesquisa que dá uma nova perspectiva à ciência, uma nova maneira de olhar o mundo, que faria a ciência muito mais importante e significativa, e certamente muito mais interessante, e daria grandes projetos para alunos de escolas e universidades.

Embora divertidos, esses experimentos nos mostram muita coisa sobre o comportamento animal e confirmam a maior parte das coisas que os donos de animais dizem que seus animais fazem. Isso faz com que eu leve muito mais a sério essas histórias de donos de animais. Existe conjunto enorme de experiências, cerca de 8 ou 9 fenômenos diferentes, que estamos investigando atualmente com animais domésticos, e também com cavalos. São divertidos, e também são evidência para fenômenos do tipo psíquico. Acho que esse fenômeno é semelhante à telepatia e, se quisermos estudar essas coisas, é muito melhor estudar animais do que pessoas.

Uma das dificuldades da pesquisa parapsicológica tradicional é que nesses experimentos um tanto monótonos os pontos geralmente vão diminuindo, porque os participantes ficam entediados. Bem, felizmente os cachorros nunca ficam entediados com a chegada de seus donos em casa, e podemos fazer esse tipo de experimento milhares de vezes. Esses são fenômenos muito mais sólidos do que os fenômenos meio efêmeros da parapsicologia.

Essa é uma área de pesquisa muito produtiva e o que demonstra é que cães ou gatos ou outros animais podem captar as intenções de seus donos. Eles captam essas intenções quando os donos estão em casa, mas nesse caso, é claro, é muito mais difícil eliminar os efeitos de sugestões sutis, linguagem corporal, efeito Clever Hans, e assim por diante. Quando eles estão a quilômetros de distância, como no caso desse experimento que acabamos de ver com o JT, que foi feito com distâncias maiores que 8 quilômetros, muitas com 15 ou 20 quilômetros, quando estão a uma larga distância, a idéia de sugestões sutis, efeitos Clever Hans e outras coisas mais é eliminada. O que eles mostram é que as intenções humanas podem ter um efeito à distância, a intenção de ir para casa irá afetar o cachorro e, se o cachorro pode reagir a uma intenção humana a muitos quilômetros de distância, pode ser que um ser humano também possa responder a uma intenção humana a muitos quilômetros de distância. A interconexão de pessoas através da intenção a grandes distâncias é, é claro, algo que as culturas tradicionais pressupõem. Mas é uma daquelas áreas que sempre foi um tabu para o tipo de dogmatismo racionalista da ciência moderna. Acho que esse estudo de intenção à distância abre uma enorme área de diálogo potencial com tradições espirituais. No decorrer dos últimos anos, venho mantendo uma série de diálogos com Mathew Fox, um padre e teólogo norte-americano, uma pessoa com mente aberta e interessante, e exploramos como essas novas idéias oriundas desse tipo de pesquisa pode nos dar uma idéia mais ampla da noção de alma e da psique em geral. Também abre uma nova possibilidade de pensamento sobre o poder da oração, que tem muito que ver com intenção. As pessoas que rezam acreditam que suas intenções podem ter resultados à distância sem saber bem como isso funciona e, se cães podem reagir a intenções à distância, então há uma nova área de diálogo abrindo-se aqui, que é extremamente interessante. Discutimos isso em nosso livro “Natural grace”, que é uma série de diálogos sobre questões desse tipo.

O ponto de vista convencional, é que, se você rezar, tudo o que acontece é uma série de pequenas mudanças elétricas e químicas em sua cabeça e é praticamente impossível que isso tenha algum efeito à distância. Bem, a meu ver a mente e os efeitos da mente se estendem no espaço, através da percepção, através da intenção e através daquilo que queremos que aconteça no mundo. Eu dei alguns exemplos de experimentos simples que podem ser examinados e outros que podem também mostrar que a mente pode estar relacionada ao corpo, através do fato de que ela se estende espacialmente por toda a área onde a imagem de nosso corpo está. Acho que esses efeitos são mediados por campos mórfícos que mantêm unidas partes de sistemas auto-organizadores, e quando você está lidando com animais domésticos e seus donos, por exemplo, a maneira como os campos mórficos se organizam depende do fato de que cada sistema, em todos os níveis de organização, tem um campo mórfico, e esses poderiam estar em átomos, em moléculas, em cristais, em órgãos, em organismos, em sociedades, e acho mesmo que cada sociedade tem um campo mórfico para todo o agrupamento social. Um cão e um ser humano, quando formam uma união entre eles, são parte de um grupo social. Os cães são animais intensamente sociais, eles descendem dos lobos que têm uma vida social intensa. Portanto, eu acho que o que ocorre quando uma pessoa sai de casa, é que ela ainda continua conectada pelo campo mórfico da família, do qual o cão é parte. O campo mórfico se estica, por assim dizer, mas eles ainda estão ligados por esse campo mórfico, e é devido a essa conexão contínua invisível que a informação pode viajar, as intenções da pessoa podem afetar o cachorro em casa.

Portanto, eu interpreto tudo isso em termos de campos mórfícos. É claro, outras pessoas podem querer interpretá-lo em termos de outras coisas, e pode ser que isso esteja relacionado com a não-localidade quântica, ninguém sabe. Existem na física quântica, fenômenos não-locais misteriosos, sistemas que foram conectados como parte do mesmo sistema, e quando são separados retêm essa conexão não-local e não separável à distância. Bem, uma pessoa e um cachorro, que estiveram conectados por terem vivido juntos como companheiros, quando se separam podem ter uma conexão não-local semelhante. Mas ninguém sabe se essa não localidade quântica se estende aos fenômenos macroscópicos ou não.

Não há razão para que isso não aconteça, que eu saiba, mas, por enquanto, eu falo sobre isso em termos de campos mórficos. Acho que esses campos têm uma espécie de memória, essa é minha idéia de ressonância mórfíca, o que significa que cada tipo de campo mórfico tem uma memória de sistemas passados semelhantes, por meio de um processo de ressonância através do espaço e do tempo. Os campos são locais, estão dentro e ao redor do sistema que eles organizam, mas sistemas semelhantes têm uma influência não-local através do espaço e do tempo, oriunda da ressonância mórfíca que dá uma memória coletiva para cada espécie. Não tenho tempo de explicar os detalhes da teoria da ressonância mórfíca, a não ser para dizer que cada espécie neste planeta teria uma memória coletiva. Todos os ratos extrairiam memórias da memória coletiva de ratos anteriores. Se ratos aprenderem um novo truque no laboratório, outros ratos em outros locais deveriam ser capazes de aprender o mesmo truque mais rapidamente. Haja evidência, que eu discuti em meus livros, de que isso realmente ocorre. No reino humano, se as pessoas aprendem uma nova habilidade, como windsurf, ou andar de skate, ou programação de computador, o fato de que muitas pessoas já aprenderam a mesma coisa deveria fazer com que fosse mais fácil para os outros aprenderem. Bem, essa é uma teoria que, claramente, é muito polêmica, e eu a descrevi em detalhe em meus livros “A new science of life” e “A presença do passado”. A presença do passado foi traduzido em português e publicado pelo Instituto Piaget, portanto está disponível aqui.

Já houve um número considerável de testes experimentais e quando um número grande de pessoas está envolvida, eles dão resultados positivos; com uma amostra pequena (20, 30 pessoas) aprendendo algo novo, os resultados são às vezes positivos e às vezes não significativos. Esses efeitos são relativamente pequenos e difíceis de detectar no contexto de variações individuais. Mas há certos tipos de evidência que surgiram espontaneamente, que são relevantes aqui, e um deles está relacionado com testes de QI. Como vocês sabem, os testes padrão de QI vêm sendo ministrados por muitos anos para medir a inteligência e esses mesmos testes são aplicados ano após ano, todos os anos as médias expressas em porcentagens. Foram feitos estudos para examinar a contagem de testes de QI no decorrer do tempo; quando examinamos o desempenho absoluto nesses testes - e aqui estamos falando de testes feitos por milhões de pessoas - os testes mostram um efeito muito interessante que foi descoberto pela primeira vez por James Flynn, e portanto é chamado de Efeito Flynn: há um aumento misterioso e inesperado nas porcentagens do QI com o correr do tempo, Aqui temos um gráfico mostrando resultados de testes de QI. Isso foi tirado de um número recente da revista Scientific American, de uma discussão do Efeito Flynn. As porcentagens aumentaram uns três por cento a cada década, não só nos Estados Unidos, mas também na Inglaterra, na Alemanha, na França, provavelmente em Portugal. O que quero dizer é que, onde quer que fosse que eles examinassem os dados, descobriram esse aumento. Por que o QI é uma questão polêmica na psicologia, tem havido muita discussão sobre a razão pela qual isso aconteceu: melhor nutrição, escolas melhores, mais experiência com os testes, e assim por diante. Mas nenhuma dessas teorias foi capaz de explicar mais do que uma fração desse efeito. O próprio Flynn, após 10 anos pensando sobre isso, e testando todas essas explicações, chegou à conclusão que o efeito é desconcertante, não há explicação para ele na ciência convencional. No entanto, é apenas o tipo de efeito que seria de se esperar com a ressonância mórfíca. Não é porque as pessoas estão realmente ficando mais inteligentes, não há nenhuma evidência independente para um aumento na inteligência. O que está acontecendo é que elas simplesmente estão mais eficientes quando fazem os testes de QI, e eu acho que estão mais eficientes porque milhões de pessoas já fizeram os mesmos testes. Portanto, acredito que o que estamos vendo aqui é um efeito de ressonância mórfica, que poderia explicar esse fenômeno. A meu ver existem muitos fenômenos de memória coletiva que poderiam ser testados experimentalmente e, em meus livros, eu sugiro algumas maneiras de como isso poderia ser feito.

A idéia de memória coletiva não é, é claro, unicamente associada com essa teoria. Com relação aos seres humanos, Jung, o psicólogo, já tinha sugerido uma idéia semelhante com sua noção do inconsciente coletivo. Mas o que estou sugerindo é que algo como o inconsciente coletivo não é apenas um fenômeno humano, animais também o têm, todas as espécies o têm e, com efeito, acho que esse tipo de processo da memória opera em toda a natureza. Se você fizer um novo cristal que nunca existiu antes, não poderia existir um campo mórfico para esse cristal. Essa teoria se aplica também a cristais e a moléculas. Se você o cristalizar repetidamente o campo mórfico ficará mais forte, e ficaria mais fácil para a substância se cristalizar. Na verdade isso é um fato bem conhecido dos químicos, isso é que os novos compostos se cristalizam com mais facilidade com o passar do tempo nos vários laboratórios. A explicação desses químicos é que isso ocorre porque fragmentos dos cristais anteriores são levados de um laboratório para o outro, nas barbas de químicos migrantes ou que foram transportados da atmosfera como partículas invisíveis de poeira. Mas eu estou sugerindo que isso poderia ser um efeito da ressonância mórfica e essa é uma das áreas em que ela pode ser testada. Na química existem também outras áreas onde ela pode ser testada.

O quadro mais importante desse fenômeno de ressonância mórfica é que as chamadas leis da natureza podem não ser pré-fixadas, pode ser que nem todas elas estivessem lá no momento do big bang, como uma espécie de código napoleônico cósmico. Ao contrário, as leis da natureza podem ter evoluído com o passar do tempo, talvez elas sejam mais como hábitos, dependendo da memória inerente na natureza. A ciência convencional é baseada na idéia de que as leis sempre foram fixas, e até a década de sessenta pensava-se que o cosmos era fixo e não evolucionário. Hoje temos uma cosmologia radicalmente evolucionária, onde a antiga idéia de leis estabelecidas não faz realmente muito sentido. Pelo menos precisamos considerar a idéia de que elas puderam evoluir e que isso, eu penso, é uma maneira de compreender a evolução das regularidades da natureza em termos de hábito. Mas de uma certa forma isso também tem consequências diretas e práticas para a compreensão do patrimônio biológico, da memória humana e de uma série bem ampla de fenômenos psicológicos. Portanto, acho que nossas mentes se estendem não só no espaço, mas também no tempo. Que dependemos da memória coletiva daqueles que existiram antes de nós e, por sua vez, todos nós contribuímos para essa memória coletiva. Portanto, nossas mentes, em vez de serem coisas individuais isoladas na privacidade de nossos crânios, são extremamente mais interconectadas com as demais através do espaço e do tempo. São muito mais permeáveis às demais, e somos afetados pelos pensamentos de outras pessoas, bem como por suas ações. E por sua vez, podemos afetar outras pessoas, através de nossos pensamentos e atitudes. Isso é algo que a maioria das tradições religiosas nos ensinaram através dos tempos, mas que é negada pela teoria da consciência isolada, que se enquadrou tão bem com o atomismo social das teorias sociais do Ocidente moderno, particularmente na parte do mundo que fala inglês.

Finalmente, eu queria dizer que quando pensamos sobre a consciência deveríamos ampliar nossos horizontes e abandonar a preocupação tão limitada com os sistemas nervosos e cerebrais, e seres humanos e cães e gatos e assim por diante. A maioria das pessoas que pensam na consciência diz "bem, é claro que somos conscientes" e além disso existem muitos debates hoje em dia na literatura sobre psicologia animal sobre se os cães são ou não conscientes. É claro, por muitos anos achava-se que eles não o eram, que eram supostamente máquinas. Hoje é bastante respeitável na etologia cognitiva se dizer que os animais pensam, mas isso é o ponto máximo a que o debate chegou. Eu penso que é possível que haja muitas, muitas formas de consciência no universo. Acho muito difícil acreditar que 15 bilhões de anos de evolução cósmica tiveram como resultado unicamente a evolução da consciência humana neste planeta, com uma possível versão reduzida dela nos cães e outros animais, e enquanto isso todo o resto do universo é totalmente inconsciente. Essa é a visão que a ciência nos dá e na astronomia ou na cosmologia não há qualquer discussão sobre consciência. Mas penso que deveria haver. Gostaria de terminar com uma nota bastante provocativa que é uma consideração da consciência do sol. Ora, a idéia de que corpos celestiais possam estar vivos é familiar à maioria das pessoas hoje em dia através da teoria de Gaya. Se a Terra Gaya é um organismo vivo, se a Terra está viva, então será que a Terra pensa? Será que ela poderia ser consciente? Essa é uma questão que raramente vemos ser discutida, mas eu acho que é um tema muito importante para discussão.

Mas ainda mais relevante é a questão do sol. Todas as religiões tradicionais tratam o sol como sendo consciente. É um deus, na religião grega. Na índia, Surya é um deus e os devotos saúdam o sol de manhã. Eu mesmo faço um exercício de ioga chamada Surya namascar que é uma saudação matinal ao sol. Portanto, essas são tradições que existem em todas as partes, mas, é claro, para nós, com uma estrutura científica, o sol é apenas uma grande explosão nuclear do tipo que ocorre o tempo todo emitindo radiação.

No entanto, se você pensar no assunto, mesmo aceitando o ponto de vista materialista, que a interface entre a consciência e o cérebro tem algo que ver com os padrões elétricos de atividade no cérebro, e essa é uma visão bastante geral, que esses campos elétricos mutantes são de alguma forma uma interface entre a estrutura física do cérebro e a consciência. E muitas vezes nos dizem que o cérebro humano é a coisa mais complexa do universo, e que somos os mais conscientes. Na verdade, em termos de padrões elétricos, nosso cérebro é deploravelmente atrasado em relação ao sol. O sol, sabemos hoje em dia, tem uma série incrível de mutações de ressonância elétrica e magnética ocorrendo em seu interior: ciclos de onze anos, explosões de manchas solares, dinâmica caótica, frequências ressonantes. No momento existem dois programas principais internacionais de observação solar, Soho e Gaun como são chamados. Um é um sistema de observatórios solares espalhados por todo o mundo, e o outro é um satélite que está observando o sol continuamente. Atualmente esses sistemas estão monitorando, com um detalhamento anteriormente considerado impossível, essas incríveis mudanças eletromagnéticas - minuciosas e complexas - que estão ocorrendo no sol. Bem, se padrões elétricos complexos são uma interface suficiente para a consciência e o cérebro humano, por que é que o sol não poderia tê-los também? Por que o sol não poderia pensar? E se ele está pensando, sobre o que estará pensando? Essas não são o tipo de questões para as quais esperamos ter uma resposta imediata, pois não são exatamente aquelas sobre as quais os manuais de astronomia irão nos ajudar, embora eu pense que os detalhes da eletrofisiologia do sol está sendo estudada de uma maneira muito sofisticada. Um grupo do qual fizemos parte reuniu-se na Inglaterra no solstício de verão do ano passado, e realizamos uma conferência sobre a consciência do sol com alguns físicos, cosmólogos, pessoas com tradições místicas, e discutimos esse assunto durante três ou quatro dias. Foi uma discussão fascinante já que ninguém sabe nada sobre isso. Ficamos livres de quaisquer limitações específicas, fomos forçados a lançar-nos em especulações totais e, é claro, se o sol é consciente, por que não as estrelas? E se as estrelas são conscientes, por que não as galáxias? Essas últimas teriam uma consciência de um tipo muito mais inclusivo do que a das estrelas que elas contêm. E se as galáxias, por que não os grupos de galáxias? Então teríamos uma idéia de níveis hierárquicos de consciência por todo o universo. É claro, na tradição ocidental, como em todas as tradições, temos uma idéia exatamente desse tipo. A idéia das hierarquias dos anjos na Idade Média não era a de seres com asas, isso era apenas uma maneira bastante ingênua de representá-los. Eles eram compreendidos tradicionalmente como níveis de consciência além do humano. Havia nove níveis dos quais três ou mais eram relacionados com as estrelas e com a organização de corpos celestiais. Eles eram as inteligências das estrelas e dos planetas, os três níveis intermediários dos anjos. Portanto, já existe a tradição no Ocidente sobre uma consciência super-humana. Mathew Fox, eu mesmo, e os principais textos ocidentais sobre anjos, e um livro nosso chamado “A física dos anjos”, publicado recentemente, retomam o texto principal de Santo Tomás de Aquino, Hildegard de Bingen e de Dionísio o Areopagita, as principais autoridades ocidentais em anjos, e examinam o que eles significavam, e que novo significado eles poderiam ter à luz da cosmologia moderna. Ora, como vocês podem imaginar, esse não é o tipo de livro que vai estar nas listas de leitura das universidades, e é obviamente especulativo, mas foi nossa tentativa de explorar essa questão, sobre a qual, a meu ver, os cosmólogos nos desapontaram bastante, de explorar a questão de lidar com os níveis superiores de consciência que podem existir em todas as sociedades, que, tradicionalmente, acredita-se existirem por todo o universo. Podemos não saber muito sobre eles, mas, é claro, eu tampouco sei muito sobre sua consciência. É um problema notoriamente difícil de se provar, até mesmo que um outro ser humano está consciente. Portanto, se é difícil provar que o sol e a galáxia são conscientes, temos de lembrar que tampouco isso é uma coisa fácil de provar, mesmo com pessoas ou animais. Mas, penso realmente que precisamos ter uma perspectiva ampla quando estivermos pensando sobre psicologia transpessoal, sobre a consciência, sobre os novos paradigmas nas ciências, devemos tentar evitar o tipo de chauvinismo humano antropocêntrico, ou até mesmo o chauvinismo terrestre, e reconhecer que é possível que haja muitas formas de consciência no universo.

Penso que estamos no limiar de um período inteiramente novo de descobertas e investigações científicas, e creio também que esta é uma época muito estimulante para estar vivo, e estou muito contente de que seja possível discutir essas idéias.

Referências bibliográficas

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Extraído do livro 'A revolução da consciência - novas descobertas sobre a mente no século XXI'. Esse livro é resultado de uma conferência na qual se encontraram estudiosos de várias áreas, buscando chegar a um consenso sobre a natureza da mente. A organização é de Francisco Di Biase e Richard Amoroso, editado pela Editora Vozes, Petrópolis, 2004.

Fonte: http://www.projetoockham.org/cgi-bin/yabb/YaBB.cgi?board=ferramentas;action=display;num=1110308791;start=