domingo, 13 de dezembro de 2009

A Biologia da Crença


O cientista que ajudou a revolucionar a biologia, ao examinar as reações químicas nas células apoiado na física quântica, afirma que é a mente que modela a vida das pessoas

Um respeitado pesquisador de células-tronco, o norte-americano Bruce Lipton rompeu as fronteiras da biologia tradicional ao incorporar a ela conceitos da física quântica. Idéias surgidas a partir dessa ótica, como a equivalência da membrana celular ao "cérebro" das células e o controle que o ambiente exerce sobre as células a partir de suas membranas, confirmam a íntima relação mente-corpo e indicam como podemos usar os pensamentos para assumir o controle de nossa vida. Lipton relata sua extraordinária trajetória em "A Biologia da Crença" (Ed. Butterfly), tema da entrevista a seguir.

PLANETA - O que é a "nova biologia" a que o senhor se refere em seu livro?

Bruce Lipton - Quando introduzi esses conceitos, em 1980, quase todos os meus colegas cientistas os consideraram inverossímeis. Mas a profunda revisão que a biologia convencional tem feito desde aquela época a leva hoje às mesmas conclusões a que cheguei 25 anos atrás.

Os cientistas sabem que os genes não controlam a vida, mas a maior parte da imprensa ainda informa ao povo o contrário. As pessoas atribuem inicialmente suas deficiências e doenças a disfunções genéticas. As crenças sobre os genes levam-nas a se ver como "vítimas" da hereditariedade.

Os biólogos convencionais ainda consideram que o núcleo (o componente interno da célula que contém os genes) "controla" a vida, uma idéia que enfatiza os genes como o fator primário desse controle. Já a nova biologia conclui que a membrana celular (a "pele" da célula) é a estrutura que primariamente "controla" o comportamento e a genética de um organismo.

A membrana contém os interruptores moleculares que regulam as funções de uma célula em resposta a sinais do ambiente. Para exemplificar: um interruptor de luz pode ser usado para ligá-la ou desligá-la. O interruptor "controla" a luz? Não, já que ele é controlado pela pessoa que o aciona. Um interruptor de membrana é análogo a um interruptor de luz quando liga ou desliga uma função celular, ou a leitura de um gene - mas ele é, de fato, ativado por um sinal do ambiente. A nova biologia enfatiza o ambiente como o controle primordial na biologia.

Sua teoria também está relacionada à física quântica...

Pela medicina convencional, os "mecanismos" físicos que controlam a biologia se baseiam na mecânica newtoniana, a qual enfatiza o reino material (átomos e moléculas). Já a nova biologia considera que os mecanismos da célula são controlados pela mecânica quântica. Ela se concentra no papel das forças de energia invisíveis que formam, coletivamente, campos integrados e interdependentes.

Para a mecânica quântica, as forças invisíveis em movimento nos campos são os fatores fundamentais que modelam a matéria. Os cientistas também reconhecem que as moléculas do corpo são controladas por freqüências de energia vibracional, de forma que a luz, o som e outras energias eletromagnéticas influenciam profundamente todas as funções da vida.

Entre as forças energéticas que controlam a vida estão os campos eletromagnéticos gerados pela mente. Na biologia convencional, a ação da mente não é incorporada à compreensão da vida. Por isso, é uma surpresa a medicina reconhecer que o efeito placebo responde por pelo menos um terço das curas médicas, incluindo cirurgias. Ele ocorre quando alguém sara devido à sua crença de que um remédio ou procedimento médico vai curá-lo, mesmo se o medicamento for uma pílula de açúcar ou o procedimento for uma impostura.

A nova biologia ressalta o papel da mente como o fator primordial a influenciar a saúde. Nessa realidade, uma vez que controlamos nossos pensamentos, tornamo-nos mestres de nossa vida, e não vítimas dos genes.

Em que a nova biologia difere do darwinismo?

Ela frisa que a evolução não é conduzida pelos mecanismos sublinhados na biologia darwiniana. A teoria de Darwin oferece dois passos básicos para explicar como a evolução ocorreu: 1) mutação aleatória, a crença de que as mutações genéticas são randômicas e não influenciadas pelo meio ambiente - a evolução é conduzida por "acidentes"; 2) seleção natural, na qual a natureza elimina os organismos mais fracos numa "luta" pela existência, na qual há vencedores e perdedores.
Em A Biologia da Crença, Lipton (alto) explica a íntima relação entre mente e corpo e o poder do pensamento na cura.

Novas descobertas oferecem uma imagem diferente. Em 1988, uma pesquisa revelou que, quando estressados, os organismos têm mecanismos de adaptação molecular para selecionar genes e alterar seu código genético. Ou seja, eles podem mudar sua genética em resposta a experiências ambientais. Outros estudos mostram que a biosfera (todos os animais e plantas) é uma gigantesca comunidade integrada que se baseia em uma cooperação das espécies. A natureza não se importa com indivíduos numa espécie, mas com o que a espécie como um todo está fazendo para o ambiente.

Segundo a nova biologia, a evolução: 1) não é um acidente; 2) baseia-se em cooperação. Uma teoria mais recente sobre o tema ressaltaria a natureza da harmonia e da comunidade como uma força motriz por trás da evolução.

Como o senhor concluiu que podemos comandar e mudar nossas células e genes?
Minhas primeiras idéias científicas basearam-se em experiências que comecei em 1967, usando culturas de células- tronco clonadas. Nesses estudos, células geneticamente idênticas foram inoculadas em três placas de cultura, cada qual com um diferente meio de crescimento. Em uma placa, as célulastronco se tornaram músculo; em outra, células ósseas; na terceira, células de gordura. Meus resultados, publicados em 1977, revelam que o ambiente controlou a atividade genética das células.

Esses estudos mostram que os genes propiciam o surgimento de células com "potenciais", os quais são selecionados e controlados pela célula a partir de condições ambientais. As células ajustam dinamicamente seus genes de forma que eles possam adaptar-se às demandas do ambiente.

Mais tarde, descobri que a membrana celular equivalia ao cérebro da célula. No desenvolvimento humano, a pele embriônica é a precursora do cérebro. Nas células e no ser humano, o cérebro lê e interpreta a informação ambiental e então envia sinais para controlar as funções e o comportamento do organismo.

Quem está no comando do nosso corpo?

Nas primeiras semanas do desenvolvimento do embrião, os genes basicamente controlam o desenvolvimento do plano corporal de um humano (criam dois braços, duas pernas, etc.). Uma vez que o embrião toma a forma humana (torna-se um feto), os genes assumem uma posição secundária, controlando o desenvolvimento do corpo pela informação ambiental. Durante esse período, a estrutura e a função do corpo fetal são ajustadas em resposta à percepção do ambiente da mãe, que, via placenta, influencia a genética e a programação comportamental do feto.

A "leitura" dos sinais ambientais (no útero e após o nascimento) capacita as células do corpo e seus genes a fazer ajustes biológicos para sustentar a vida. Como os sinais ambientais são lidos e interpretados pelas "percepções da mente", a mente se torna a força básica que, em última instância, modela a vida de uma pessoa.

Como os campos energéticos controlam a bioquímica do corpo?
As funções do corpo derivam do movimento das moléculas (basicamente proteínas). As moléculas mudam de forma em resposta a cargas eletromagnéticas ambientais. Influências físicas tais como hormônios e remédios podem oferecer essas cargas elétricas indutoras de movimento. Mas campos de energia vibracional harmonicamente ressonantes também fazem as moléculas mudar de forma e ativar suas funções. Enzimas de proteínas podem ser ativadas num tubo de ensaio por substâncias químicas e por freqüências eletromagnéticas, como ondas de luz.

Podemos evitar doenças enviando mensagens positivas para nossas células?

Só 5% das doenças humanas são relacionadas a defeitos genéticos de nascença. Portanto, 95% de nós nascemos com um genoma adequado a uma vida saudável. Para os doentes dessa maioria, a pergunta é: por que estamos tendo problemas de saúde? Reconhece-se hoje que o estilo de vida causa mais de 90% dos problemas de coração, mais de 60% dos casos de câncer e, talvez, todos os casos de diabete tipo 2. Quanto mais olhamos, mais vemos como nossas emoções, reações à vida, dieta pobre, falta de exercício e estresse modelam nossa vida. Como temos um controle significativo sobre nosso organismo, podemos reprogramar a saúde e a vida com nossas intenções. Se de fato soubessem como o seu organismo funciona, as pessoas poderiam influenciar sua saúde, e isso seria o melhor preventivo para a doença.

É possível remodelar nossos pensamentos mais profundos?

O problema é que não entendíamos como a mente trabalha. Temos duas mentes, a consciente e a inconsciente. Associamos a primeira à nossa identidade pessoal - é a mente pensante, racional. A mente subconsciente opera sem a supervisão da consciente - é a "mente automática". Se as crenças da mente subconsciente conflitarem com os desejos da mente consciente, quem ganhará? A resposta é clara: a mente subconsciente, pois ela é uma processadora de informações um milhão de vezes mais poderosa do que a outra e, como os neurocientistas revelam, opera em torno de 95% do tempo.

Pensávamos que se a mente consciente se tornasse cônscia de nossos problemas, automaticamente corrigiria quaisquer programas negativos descarregados na mente subconsciente. Mas isso não funciona, porque a mente subconsciente é como um gravador - ela grava comportamentos (os fundamentais, na maioria, são armazenados antes dos seis anos de idade) e, ao se apertar um botão, o programa será repetido incontáveis vezes (hábitos). Não existe uma "entidade" na mente subconsciente que "ouça" o que a mente consciente quer.

Pensamentos positivos funcionam quando a meta desejada é apoiada pelas intenções da mente consciente e pelos programas da mente subconsciente. Quanto a isso, existem três maneiras de mudar crenças velhas, limitantes ou sabotadoras na mente subconsciente: a meditação budista mindfulness, a hipnoterapia clínica e a chamada "psicologia da energia". Todos esses métodos são discutidos na seção "Resources" do meu site (www.brucelipton.com).

Fonte: http://www.terra.com.br/revistaplaneta/edicoes/428/artigo89544-1.htm

domingo, 6 de dezembro de 2009

Meditação desacelera o avanço da AIDS


A meditação pode brecar o avanço da Aids depois de apenas algumas semanas de prática, talvez por ter influência no sistema imunológico do paciente, afirmaram pesquisadores norte-americanos da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

As células CD4 T ou, mais tecnicamente, linfócitos CD4+ T, são os "cérebros" do sistema imunológico, coordenando sua atividade quando o corpo se encontra sob ataque. Elas são também as células que são atacadas pelo HIV, o devastador vírus que causa a AIDS e que já infectou perto de 40 milhões de pessoas ao redor do mundo. O vírus lentamente destrói as células CD4 T, enfraquecendo o sistema imunológico.

Mas o sistema imunológico dos pacientes portadores de HIV/AIDS se depara também com um outro inimigo - o estresse, que pode acelerar o declínio das células CD4 T.

Agora, pesquisadores da Universidade da Califórnia, Estados Unidos, anunciaram que a prática da meditação da consciência plena parou o declínio das células CD4 T em pacientes HIV-positivos sofrendo de estresse, diminuindo a progressão da doença. O estudo acaba de ser disponibilizado na edição online do jornal médico Brain, Behavior, and Immunity.

Meditação da consciência plena

A meditação da consciência plena é a prática budista de induzir uma consciência aberta e receptiva ao momento presente, evitando pensar no passado ou se preocupar com o futuro. Acredita-se que ela reduza o estresse e melhore a saúde em pacientes sofrendo de diversas doenças. "Este estudo oferece a primeira indicação de que lidar com o estresse por meio do treinamento da meditação da consciência plena pode ter um impacto direto em desacelerar a progressão do HIV," diz o coordenador do estudo, David Creswell. "O programa da consciência plena é um tratamento em grupo e de baixo custo, e se a descoberta inicial for replicada em amostras maiores, é possível que esses treinamentos possam ser utilizados como um poderoso tratamento complementar para os doentes pelo HIV, juntamente com as outras medicações."

Quanto mais meditação, melhores os resultados

Creswell ressalta também que os pesquisadores descobriram uma relação "dose-resposta" entre as sessões de meditação e as células CD4 T, significando que, segundo ele, "quanto maior o número de sessões de meditação que as pessoas participaram, maior é o nível das células CD4 T na conclusão da pesquisa". Os pesquisadores também ficaram entusiasmados porque os efeitos globais das células CD4 T permaneceram mesmo depois do controle de vários fatores que poderiam ter influenciado nos resultados do estudo. Mais notavelmente, eles descobriram efeitos protetores equivalentes para os participantes estando eles sujeitos ou não a medicações anti-retrovirais para o HIV. Mesmo participantes tomando medicações contra o HIV apresentaram o efeito de manutenção das células CD4 T depois das sessões de meditação da mente alerta, diz Creswell. A equipe examinou 67 adultos HIV-positivos da área de Los Angeles, 48 dos quais realizaram algum tipo de meditação. A maior parte deles tendia a conviver com rotinas bastante estressantes, afirmou Creswell. "A maioria dos participantes do estudo era do sexo masculino, afro-americanos, homossexuais e desempregados e não estavam tomando remédios anti-retrovirais".

Há evidências vindas de outros estudos que mostram que programas comportamentais de tratamento do estresse podem estacionar o declínio do HIV em pessoas HIV-positivas, acrescenta Creswell. E, embora tenha havido um aumento exponencial no interesse pela prática da meditação da consciência plena no ocidente ao longo dos últimos 10 anos, disse ele, este é o primeiro estudo que demonstra um efeito protetor do treinamento da meditação da mente alerta contra o HIV. A fim de entender os benefícios à saúde da meditação da consciência plena, Creswell e seus colegas estão agora examinando os mecanismos por meio dos quais a meditação reduz o estresse, utilizando imagens do cérebro, genética e medições do sistema imunológico. "Dados os benefícios da meditação sobre a redução do estresse, estas descobertas indicam que ela pode ter um efeito protetor da saúde não apenas em pessoas com HIV, mas em sujeitos que sofrem de estresse diário," diz Creswell.

Fonte: http://www.saindodamatrix.com.br

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Os Campos Morfogenéticos - parte II


Adalberto Tripicchio [adalbertotripicchio]
2/10/07

A Evolução dos Campos Morfogenéticos

Os tipos de teorias relativos aos campos morfogenéticos que acabamos de considerar influenciaram grandemente a investi­gação contemporânea e fornecem a via mais promissora de mo­delização dos processos de morfogênese.

Mas, durante mais de sessenta anos, estes campos existiram em um limboteórico. Parecem ser novos tipos de campos ainda desconhecidos em fí­sica, mas, ao mesmo tempo, não são novos tipos de campos, ou apenas palavras que se referem a regularidades que podemos descrever e modelizar.

Julgo que é possível ultrapassar estas ambigüidades frus­trantes tendo em conta um dos traços mais essenciais destes campos: eles evoluíram. Possuem um aspecto intrinsecamente histórico. Os organismos herdam-nos dos antepassados. Mas, como é que estes campos podem transmitir-se?

Só dois tipos de resposta parecem possíveis. O primeiro, combinando genética e platonismo, inscreve-se na tradição me­canicista. O segundo encara a possibilidade de que a memória seja inerente aos campos.

A primeira destas abordagens implica a existência de fór­mulas matemáticas transcendentes para todos os organismos vivos possíveis. Richard Dawkins elaborou um modelo com­putacional deste reino platônico, chamado Território Biomorfo, no qual existem todas as formas possíveis de orga­nismos, designados biomorfos. A seleção natural impele po­pulações de organismos ao longo de trajetórias de mudança genética gradual em direção a novos biomorfos, através de uma série intermédia de biomorfos. Mas todos os biomorfos possíveis preexistem de maneira independente do curso real que um processo evolutivo particular poderia tornar; estão já especificados matematicamente no programa informático do Território Biomorfo.

A evolução biológica depende, na ótica platônica, da evo­lução de sistemas genéticos que permitam a determinadas for­mas de organismos possíveis ser reificadas no mundo físico; mas as próprias fórmulas, ou biomorfos não evoluem. São se­melhantes às Formas eternas de todas as espécies possíveis e existem em um domínio transcendente, independente da existên­cia efetiva destes organismos. As equações do campo morfo­genético do Tyrannosaurus rex, por exemplo, existiam antes da Terra surgir e mesmo antes do nascimento do cosmos. Não fo­ram afetadas pelo aparecimento evolutivo deste tipo de dinos­sauro, nem pela sua extinção posterior.

Por outro lado, se os campos morfogenéticos têm uma memó­ria inerente, a sua evolução pode ser concebida de maneira radi­calmente diferente. Não são Formas transcendentes, mas qualida­des imanentes aos organismos. Evoluem no domínio da natureza e são influenciados pelos acontecimentos reais do passado. Formam-se hábitos no seu seio. Deste modo, os modelos matemá­ticos destes campos não passam de modelos; não representam realidades matemáticas transcendentes que determinam os campos.

A idéia de que os campos morfogenéticos tem uma memória inerente é o ponto de partida da hipótese da causalidade for­mativa. Estou convencido de que ela nos pode levar em dire­ção a uma compreensão verdadeiramente evolucionista dos or­ganismos e, sobretudo, de nós mesmos. Não creio que a única alternativa à mão - a combinação tradicional do mate­rialismo e do platonismo - ofereça a mesma esperança; está, com efeito, enraizada numa concepção pré-evolucionista do universo, uma concepção que a própria física agora contesta.

A Hipótese da Causalidade Formativa

A hipótese da causalidade formativa, parte da idéia de que os campos morfogenéticos tem uma realidade física, no sentido em que os campos gravitacio­nais, eletromagnéticos e da matéria quântica são reais. Cada tipo de célula, de tecido, de órgão e de organismo tem o seu pró­prio tipo de campo. Estes campos moldam e organizam os mi­crorganismos, os vegetais e os animais em desenvolvimento e estabilizam as formas dos organismos adultos. Fazem-no com base na sua própria organização espaço-temporal.

O aspecto temporal dos campos morfogenéticos sobressai mais claramente nos conceitos de creodos e de atratores morfo­genéticos. Os campos morfogenéticos ligam organismos em desenvolvimento a padrões futuros de organização, em direção aos quais os creodos guiam o processo de desenvolvimento.

Na fase atual, esta proposta apenas torna explícito aquilo que sempre esteve implícito no conceito dos campos morfoge­néticos. A inovação da hipótese da causalidade formativa é a idéia de que a estrutura destes campos não é determinada por idéias transcendentes nem por fórmulas matemáticas, mas re­sulta, pelo contrário, das formas reais de organismos semelhan­tes anteriores. Por outras palavras, a estrutura destes campos depende de acontecimentos reais do passado. Deste modo, os campos morfogenéticos da espécie "dedaleira" são moldados por influências que emanam de dedaleiras que existiram ante­riormente. Representam uma espécie de memória coletiva da espécie. Cada membro é moldado por estes campos de espécie e contribui, por sua vez, para os moldar, influenciando os membros futuros da espécie.

Como poderia funcionar este tipo de memória? Segundo a hipótese da causalidade formativa, dependeria de uma espécie de ressonância, a ressonância mórfica, que ocorre com base na semelhança. Quanto mais um organismo for semelhante a orga­nismos anteriores, maior será a sua influência sobre ele por meio da ressonância mórfica. E quanto mais organismos semelhantes houver, maior será a sua influência cumulativa. Deste modo, uma dedaleira em desenvolvimento está sujeita à ressonância mórfica de inúmeras dedaleiras que existiram antes dela e esta ressonância molda e estabiliza os seus campos morfogenéticos.

A ressonância mórfica difere dos tipos de ressonância já co­nhecidos da ciência e, sobretudo, da ressonância acústica (caso da vibração em simpatia de cordas em tensão), da ressonância eletromagnética (caso da sintonização de um aparelho de rádio para uma transmissão numa freqüência particular), da ressonância do spin do elétron e da ressonância magnético-nu­clear. A ressonância mórfica, contrariamente a estes outros ti­pos, não implica uma transferência de energia de um sistema para outro, mas, pelo contrário, uma transferência não energética de informação. Assemelha-se, todavia, aos tipos conhecidos de ressonância no sentido em que se produz com base em padrões rítmicos de atividade.

Todos os organismos são estruturas de atividade e sofrem, em todos os níveis de organização, oscilações rítmicas, vibrações, movimentos periódicos, ou ciclos. Nos átomos e nas molécu­las, os elétrons estão em movimento vibratório incessante nas suas orbitais; as grandes moléculas, especialmente as proteí­nas, vibram e ondulam segundo freqüências características. As células contêm inúmeras estruturas moleculares vibratórias, as suas atividades bioquímicas e fisiológicas exprimem pa­drões de oscilação e as próprias células passam por ciclos de divisão. Os vegetais respeitam ciclos de atividade cotidianos e sazonais; os animais acordam e dormem e, neles, bate um co­ração, há pulmões que asseguram a respiração e intestinos que se contraem em ondas rítmicas. O sistema nervoso tem um funcionamento rítmico e o cérebro é varrido por ondas recor­rentes de atividade elétrica. Quando animais se movem, fa­zem-no por meio de ciclos repetitivos de atividade - as con­torções do verme, a marcha da centopéia, o nadar do tubarão, o vôo do pombo, o galope do cavalo. Nós mesmos passamos por muitos ciclos de atividade: mastigamos os alimentos, cami­nhamos, andamos de bicicleta, nadamos e acasalamos.

Segundo a hipótese da causalidade formativa, a ressonância mórfica entre estas estruturas de atividade rítmicas baseia-se na semelhança; através desta ressonância, padrões de ativida­des passadas influenciam os campos de sistemas semelhantes posteriores. A ressonância mórfica implica uma espécie de ação a distância no espaço e no tempo. A hipótese supõe que es­ta influência não declina com a distância no espaço e no tempo.

O nascimento de uma forma não se verifica em um vazio. Todos os processos de desenvolvimento partem de sistemas que já têm uma organização específica. Um embrião desenvolve-se a partir de um ovo fertilizado que contém DNA, proteínas e outras moléculas organizadas de maneiras parti­culares e características da espécie. Estas estruturas de parti­da, ou germes morfogenéticos, entram em ressonância mórfica com os membros anteriores da espécie. Por outras palavras, o embrião em desenvolvimento está "sintonizado" com os campos da espécie e encontra-se, portanto, rodeado, ou en­volvido, pelos creodos que moldam o seu desenvolvimento, assim como o desenvolvimento de inúmeros embriões que o precederam.

Como todos os membros passados da espécie contribuem para formar estes campos, a sua influência é cumulativa: au­menta proporcionalmente ao número total dos membros da es­pécie. Estes organismos passados são semelhantes, mais do que idênticos e, assim, os campos morfogenéticos de um novo orga­nismo sujeito à sua influência coletiva não estão estritamente definidos, mas consistem em um composto de formas semelhan­tes anteriores. Este processo é análogo a uma fotografia com­posta, na qual fotografias "médias" são obtidas sobrepondo vá­rias imagens semelhantes. Os campos morfogenéticos são "estruturas de probabilidade", nas quais as influências dos tipos passados mais comuns se combinam para aumentar a probabilidade de repetição destes tipos.

Influência Através do Espaço e do Tempo

O esquema de Weismann supõe um fluxo de influência uni­direcional do plasma germinativo ao somatoplasma, ou seja, em termos modernos, um fluxo unidirecional do ge­nótipo ao fenótipo. A interpretação platônica dos campos sob forma de equações gerativas partilha esta idéia de influência unidirecional: os campos, em combinação com fatores genéticos e ambientais, engendram o organismo adul­to. A forma verdadeira dos organismos não influencia as equa­ções de campo, que devem transcender a realidade física.

Em contrapartida, a hipótese da causalidade formativa pos­tula um fluxo de influência bidirecional: dos campos aos orga­nismos e dos organismos aos campos. Representar-se-á isto integrando conjuntos suplementares de setas no diagrama de Goodwin.

Uma interpretação platônica das formas dos organismos em termos de idéias arquetípicas implica uma influência unidirecional da idéia em direção ao orga­nismo, a própria idéia não se modificando. De fato, não pode mudar, visto que é transcendente, situando-se para além do tempo e do espaço. A Forma está presente, potencialmente, em todos os tempos e em todos os lugares e pode refletir-se na forma dos organismos em todos os tempos e em todos os lugares no universo, desde que as condições sejam apropriadas.

A teoria mecanicista acentua a realidade dos átomos e das moléculas no seio dos organismos, mas considera o seu modo de interação como uma conseqüência de leis universais. Tal como as idéias platônicas, estas leis não são entida­des materiais localizáveis no espaço e no tempo; estão, pelo contrário, potencialmente presentes e ativas por todo o uni­verso: sempre estiveram e sempre estarão.

As enteléquias aristotélicas, em contrapartida, não têm uma existência que transcenda o espaço e o tempo. Estão associadas aos organismos e dependem deles. Porém, permane­cem imutáveis, não evoluem. Tal como as idéias platônicas, ou as leis universais, exercem uma influência unilateral sobre os or­ganismos; mas a sua natureza permanece não afetada pelos or­ganismos.

Os campos morfogenéticos não têm uma existência trans­cendente, independente dos organismos - nisto, assemelham­-se às enteléquias. Mas são influenciados pelos orga­nismos e moldados, através de uma ressonância mórfica, pelos campos de organismos semelhantes anteriores.

Estamos habituados à idéia de influências causais que a­tuam a distância no espaço e no tempo através de campos: por exemplo, quando olhamos para as estrelas, estamos sujeitos a influências milenares e distantes que atravessaram o campo eletromagnético veiculando a luz. A noção de ressonância mórfica implica, contudo, um tipo de ação a distância dife­rente, mais difícil de compreender, porque não implica o movimento de quanta de energia através de um dos campos conhecidos da física.

E isto levanta o problema do meio de transmissão: como é que a ressonância mórfica se produz através do tempo e do es­paço? Em resposta a esta pergunta, poderíamos imaginar um "éter morfogenético", ou uma outra "dimensão", ou, ainda, in­fluências que passam "para além" do espaço-tempo e, depois, aí regressam. Mas seria, talvez, mais satisfatório imaginar o passado comprimido, em certa medida, contra o presente e po­tencialmente presente por todo o lado. As influências mórficas de organismos passados podem, simplesmente, estar presentes para organismos semelhantes posteriores.

Estamos de tal modo habituados à noção de leis físicas imu­táveis que as consideramos como evidentes; mas, se refletir­mos na natureza destas leis, afiguram-se-nos profundamente misteriosas. Não são entidades materiais, nem energéticas. Transcendem o espaço e o tempo e estão, pelo menos potencial­mente, presentes em todos os lugares e em todos os tempos.

Se a ressonância mórfica é misteriosa, as teorias convencio­nais não o são menos. Distanciemo-nos um pouco e considere­mos os seus postulados notáveis. A hipótese da causalidade formativa não é uma especulação metafísica estranha que con­trasta com a teoria dura, empírica, pragmática do mecanicismo. Esta depende de pressupostos mais metafísicos, na realidade, do que a noção de causalidade formativa.

Os Campos Mórficos

Os campos morfogenéticos, no sentido em que se entende a causalidade formativa, serão designados, a seguir, campos mórficos. Este termo é mais simples e permite distinguir esta nova concepção dos campos morfogenéticos das outras mais convencionais. O sentido deste termo é mais geral do que o de campo morfogenético e inclui outros tipos de campos organizadores; tal como veremos a seguir, os campos organiza­dores do comportamento animal e humano, dos sistemas so­ciais e culturais e da atividade mental podem ser considerados como campos mórficos com uma memória inerente.

Os Campos de Informação

Informação é uma palavra que está na moda há decênios. Vivemos na "era da informação" e as nossas vidas estão rodeadas pelas tec­nologias da informação. A informação desempenha um papel formativo ou in-formativo. Mas, o que é? Quer seja dentro ou para além dos limites do discurso científico, o emprego geral desta palavra não tem relação bem definida com a concepção técnica da informação tal como a teoria da informação a en­tende. Este processo matemático tem um campo de aplicação relativamente estreito e um valor muito limitado em biolo­gia. Quando os biólogos falam de "informação genética", por exemplo, utilizam, em geral, esta palavra em um sentido vago, não técnico, muitas vezes intermutável com o sentido igual­mente vago e não técnico da palavra programa.

A informação, a fonte moderna da forma, é considerada como residindo nas moléculas, células, tecidos, am­biente, muitas vezes latente, mas causalmente potente, permitindo que essas entidades se reconheçam, selecio­nem e instruam umas às outras, para se construir umas às outras e a si mesmas, para regularem, controla­rem, induzirem, dirigirem e determinarem acontecimen­tos de todos os tipos.

A natureza desta informação permanece obscura e o emprego de termos alternativos, tais como instruções ou programas em nada contribui para a esclarecer. Será física ou mental? Será es­sencialmente matemática? Será uma espécie de abstração con­ceitual? Se for este o caso, é uma abstração do quê?

Na medida em que a informação é empregada para explicar o desenvolvimento e a evolução dos corpos, do comportamento, dos espíritos e das culturas, não pode ser considerada como estática - tem, ela mesma, de se desenvolver e evoluir.

Os campos mórficos desempenham um papel comparável à informação e aos programas no pensamento biológico conven­cional e podem, de fato, ser considerados como campos de in­formação. Supor que a informação está contida em campos mór­ficos ajuda a desmistificar este conceito que, de outro modo, se referiria a uma noção essencialmente abstrata, mental, mate­mática ou, pelo menos, não física. E também chama a atenção para a natureza evolutiva da informação biológica, porque es­tes campos contêm uma memória inata apoiada pela ressonân­cia mórfica.

O Aparecimento de Campos Novos

Os campos mórficos de qualquer organismo particular, diga­mos de um girassol, são moldados pelas influências das gerações precedentes de girassóis. A ressonância mórfica não permite, contudo, explicar como é que apareceram os primeiros campos deste tipo. Dentro do âmbito da evolução biológica, os campos de girassóis estão ligados, de maneira estreita, aos campos de outras espécies aparentadas, tais como as alcachofras de Jerusalém e descendem, sem dúvida, dos campos de uma longa linhagem de espécies ancestrais. Mas a hipótese da causalidade formativa não permite responder à questão de saber como é que os campos do gênero girassol, ou da família das Compositae, de que é membro, ou das primeiras plantas com flores ou, de fato, das primeiras células, surgiram. É uma questão de ori­gem ou de criatividade.

Campos de novos tipos de organismos têm, de uma maneira ou de outra, de surgir uma primeira vez. De onde provêm? Talvez não provenham de parte nenhuma, talvez surjam espon­taneamente. Talvez sejam organizados por um tipo de campo "superior". Ou talvez representem uma manifestação de arqué­tipos preexistentes, até então inteiramente transcendentes. Talvez, de fato, surjam de Formas imutáveis, ou de entidades matemáticas que, ao surgir no universo físico, adquiram uma vida própria. Estas possibilidades têm sido estudadas com grande afinco pelos pesquisadores. Porém, pouco importa, no âmbito da hipótese da causalidade formativa, saber qual destas respostas tem a preferência. A hipótese só trata de campos mórficos que já apareceram.

Não deveríamos perder de vista que as alternativas à hipótese da causalidade formativa colocam problemas igualmente profundos. Se há organismos organizados por leis matemáticas imutáveis, por equações gerativas, ou seja pelo que for que corresponda a modelos matemáticos, não temos de nos interro­gar de onde provêm, porque são supostos ser eternos. Mas co­loca-se, então, o problema das leis imutáveis, ou das equações preexistentes ao nascimento do universo. As equações gerati­vas dos girassóis, por exemplo, deveriam ser anteriores ao apa­recimento das primeiras células vivas na Terra, portanto ante­riores ao próprio big bang.

Mesmo se nos abstivermos destas especulações metafísicas e adotarmos uma abordagem puramente empírica, o fato é que a hipótese da causalidade formativa permite diversas previsões verificáveis, radicalmente diferentes das teorias convencionais. Esta diferença tem a ver com o fato de que as teorias ortodoxas da ciência concebem as leis da natureza como imutáveis em todos os tempos e em todos os lugares. Quer a natureza metafí­sica deste postulado seja reconhecida, quer não, é inegável. Está subjacente ao ideal de repetibilidade das experiências e faz parte integrante dos fundamentos do método científico, tal como o conhecemos. A hipótese da causalidade formativa questiona este postulado. Sugere que os princípios organizadores invisíveis da natureza não estão fixos de modo eterno, mas evoluem com os sistemas que organizam.

Fonte: http://www.redepsi.com.br/portal/modules/smartsection/item.php?itemid=786

Os Campos Morfogenéticos - parte I


Adalberto Tripicchio [adalbertotripicchio]
1/10/07

Campos de Tipos Diferentes

Os campos são regiões de influência não-materiais. O campo de gravitação da Terra, por exemplo, estende-se à nossa volta. Não nos é visível, mas nem por isso é menos real. Dá o seu peso às coisas e provoca a sua queda. Mantém-nos em contato com a Terra neste preciso momento; sem ele, flutuaríamos. A Lua gira em redor da Terra por causa da curvatura do campo de gravitação da Terra; a Terra e todos os planetas giram em re­dor do Sol por causa da curvatura do campo do Sol.

De fato, o campo de gravitação permeia todo o universo, curvando toda a matéria. Segundo Einstein, não está no espaço e tempo; é o es­paço-tempo. O espaço-tempo não é uma abstração gratuita; possui uma estrutura que inclui e molda, ativamente, tudo aquilo que existe e acontece no universo físico.

Também há campos eletromagnéticos, muito diferentes, pe­la sua natureza, da gravitação. Apresentam muitos aspectos e fazem parte integrante da organização de todos os sistemas materiais - dos átomos às galáxias. Estão subjacentes ao fun­cionamento do nosso cérebro e do nosso organismo. São essen­ciais à operação de toda a nossa maquinaria elétrica. Podemos ver os objetos que nos rodeiam, incluindo este artigo, porque estamos conectados com eles pelo campo eletromagnético no qual se desloca a energia vibratória da luz. E, à nossa volta, há inúmeros padrões de atividade vibratórios que es­capam aos nossos sentidos; podemos, todavia, distingui-los por meio de receptores de rádio ou de TV. Os campos são o meio da ação a distância e, através deles, os objetos podem afetar­-se entre si, mesmo se não mantiverem contato material.

Tudo isto nos parece evidente. Vivemos, permanentemente, nestes campos, quer saibamos, quer não, como os físicos os mo­delizam matematicamente. Não duvidamos de que possuem uma realidade física, sejam quais forem as modelizações que deles fizermos, ou o nome com que os designamos. Sabemos que existem pelos efeitos físicos, mesmo se os nossos sentidos, em geral, são inaptos para detectá-los de maneira direta. Por exemplo, a estrutura espacial do campo de um ímã é, em si, invisível, mas espalhem limalha de ferro nas proximidades do ímã e a sua existência concretizar-se-á imediatamente. Este campo, tal como outros tipos de campos, possui uma qualidade holística contínua e não pode ser cortado em partes, contrariamente aos objetos materiais. Deste modo, se cortarem um ímã em dois, cada metade preserva o conjunto do campo original - cada metade passa a ser um ímã completo, rodea­do de um campo magnético completo.

Para além destes tipos familiares de campos, existem tam­bém, a avaliar pela teoria do campo quântico, diversos tipos de campos de matéria - campos de elétrons, de nêutrons etc.: campos microscópicos em cujo seio todas as partículas de maté­ria existem enquanto quanta de energia vibratória.

Nenhum destes diferentes tipos de campo pode ser reduzi­do a qualquer outro. Os físicos esperaram, durante muito tem­po, poder, um dia, compreendê-los, todos, como aspectos de um único campo unificado. A física teórica contemporânea tenta fazê-los derivar, hipoteticamente, do campo unificado origi­nal do cosmos, o qual se diferenciaria para dar os campos co­nhecidos da física enrolando-se de diversas maneiras durante a evolução e o crescimento do universo. Dentro do âmbito destas novas teorias do campo evolutivas: "O mundo pode, ao que parece, ser construído mais ou menos a partir de um nada estruturado."

A natureza dos campos é inevitavelmente misteriosa. Segundo a física moderna, estas entidades são mais fundamen­tais do que a matéria. Os campos não podem explicar-se em termos de matéria; pelo contrário, a matéria é explicada em termos de energia nos campos. A física só pode explicar a natu­reza dos diferentes tipos de campos em relação a um eventual campo unificado mais fundamental - o campo cósmico origi­nal, por exemplo. Mas este é inexplicável - a menos que se su­ponha criado por Deus. Mas então é Deus que é inexplicável.

Podemos, evidentemente, assumir que os campos são como são porque são determinados por leis matemáticas eternas, mas então existe o mesmo problema com estas leis: como podemos explicá-las?

Comecemos por encarar a possibilidade de que existe um número muito mais importante de tipos de campos do que a física reconhece atualmente: os campos morfogenéticos de diversos tipos de células, tecidos, órgãos e organismos vivos.

Os Campos Morfogenéticos

No início dos anos 20, três biólogos, pelo menos, sugeriram, independentemente, que nos organismos vivos a morfogênese é organizada por campos: Hans Spemann, 1921; Alexander Gurwitsch, 1922; Paul Weiss, 1923. Estes campos foram ditos de desenvolvimento, embrionários, ou morfogenéticos. Deviam or­ganizar o desenvolvimento normal e guiar os processos de regu­lação e de regeneração depois de lesão. Gurwitsch escreveu:

"O meio no qual se desenrola o processo formativo em­brionário é um campo (no sentido em que o entendem os físicos), cujos limites não coincidem, geralmente, com os do embrião, mas os superam. Por outras palavras, a em­briogênese tem lugar nos campos. (...) Deste modo, aquilo que nos é dado, enquanto sistema vivo, consistiria num embrião visível (ou ovo, respectivamente) e num campo."

Paul Weiss aplicou o conceito de campo ao estudo pormeno­rizado do desenvolvimento embrionário e, na sua obra PrincipIes of Development, fala dos campos nestes termos:

"Um campo é a condição à qual um sistema vivo deve a sua organização típica e as suas atividades específicas. Estas atividades são específicas no sentido em que deter­minam o caráter das formações a que dão origem. (...) Na medida em que a ação dos campos produz ordem espa­cial, segue-se o postulado seguinte: os fatores de campo possuem, eles mesmos, uma ordem definida. A heteroge­neidade tridimensional dos sistemas em desenvolvi­mento, ou seja, o fato de que estes sistemas possuem propriedades diferentes nas três dimensões do espaço, deve relacionar-se com uma organização tridimensional e com uma heteropolaridade dos campos de origem."

A natureza específica dos campos significa, segundo Weiss, que cada espécie de organismo possui o seu campo morfogené­tico próprio, o que não impede que campos de espécies aparen­tadas possam ser semelhantes. O organismo encerra, além disso, campos secundários que se integram no campo global do organismo - uma espécie de hierarquia de campos encaixados em campos.

Durante os anos 30, C. H. Waddington tentou esclarecer o conceito de campo com o auxílio do conceito de "campos de in­dividualização" associados à formação de órgãos definidos com formas individuais características. Nos anos 50, estendeu a noção de campo ao seu conceito de creodo, ou caminho de desenvolvimento, que ilustrou por meio de uma simples ana­logia tridimensional, a paisagem epigenética. O desenvolvimento de uma parte particular do ovo é representado pelo rolar de uma bola. Esta pode seguir uma série de cami­nhos alternativos, correspondentes às vias de desenvolvimento dos diferentes tipos de órgãos. No organismo, estas são bastante distintas; por exemplo, o coração e o fígado têm estruturas definidas e não atravessam uma série de formas intermediárias comuns. O desenvolvimento é "canalizado" em direção a pontos terminais precisos. Perturbações do desenvolvimento nor­mal podem, por vezes, desviar a bola do fundo do vale em di­reção a uma vertente próxima mas, se a pressão não o fizer atravessar o cume em direção a um outro vale, voltará ao fundo do seu vale - não regressará ao ponto de partida, mas a uma posição posterior do caminho canalizado da mudança. É aquilo a que se chama regulação ontogênica.

O conceito de campos morfogenéticos, e de creodos no seu seio, difere da noção de enteléquia de Driesch. O conceito de campo implica, com efeito, a existência de analogias profundas entre o princípio organizador do domínio biológico e os cam­pos conhecidos da física. Driesch, sendo vitalista, estabelecia uma diferença radical entre o domínio da vida e os da física e da química. É, todavia, certo que as enteléquias influenciaram o conceito de campos morfogenéticos. Estes, tal como a entelé­quia, foram dotados de auto-organização e de uma tendência para um fim; e, tal como a enteléquia, deveriam exercer uma ação causal, guiando os sistemas sujeitos à sua influência em direção a padrões de organização característicos. Por exemplo, Weiss percebia os campos como complexos de fatores organi­zadores que tornam definido e específico o curso original­mente indefinido das partes individuais do germe e isto de acordo com um padrão típico. E o conceito de creodos, ao ca­nalizar o desenvolvimento em direção a fins particulares, asse­melha-se fortemente ao impulso ou atração dos caminhos de desenvolvimento em direção a fins definidos pela enteléquia. Sob o ponto de vista de um sistema em desenvolvimento, os fins ou objetivos dos creodos pertencem ainda ao futuro; Waddington descreve-os, na linguagem da dinâmica, como sendo "atratores". A dinâmica matemática moderna é teleoló­gica no sentido em que implica a idéia de "bacias" nas quais os "atratores" representam os estados em direção aos quais os sistemas dinâmicos são atraídos.

René Thom desenvolveu as idéias de Waddington em mode­los matemáticos nos quais os pontos terminais estruturalmente estáveis, em direção aos quais os sistemas se desenvolvem, são representados por atratores ou por bacias de atração no seio de campos morfogenéticos.

Toda a criação ou destruição de formas, ou morfogê­nese, pode ser descrita pelo desaparecimento dos atratores que representam as formas iniciais e a sua substituição por captura pelos atratores que representam as formas finais.

O próprio Thom comparou esta abordagem com a de Driesch: "O nosso método, que atribui uma estrutura geomé­trica formal ao ser vivo, para explicar a sua estabilidade, pode caracterizar-se como uma espécie de vitalismo geométrico; trata­-se, realmente, de uma estrutura global que rege os pormenores locais tal como a enteléquia de Driesch."

A abordagem em termos de campo contrasta com o esque­ma de Weismann e dos seus discípulos; com efeito, é o campo que ocupa, aqui, a posição central e não o plasma germinativo. E o campo, não o plasma germinativo, que molda o orga­nismo. Mas o desenvolvimento não depende, apenas, dos campos; é, também, afetado por genes e influências ambien­tais.

A Natureza dos Campos Morfogenéticos

O que são, exatamente, os campos morfogenéticos? Como é que funcionam? Apesar do emprego difundido deste conceito em biologia, não existe resposta precisa para estas perguntas. De fato, a natureza destes campos continua a ser tão misterio­sa como a própria morfogênese.

Como era de esperar, os campos foram interpretados de ma­neiras radicalmente diferentes, refletindo as três principais fi­losofias da forma. Do ponto de vista platônico, representam as Formas ou Idéias imutáveis, as quais podem, por sua vez, ser concebidas à maneira pitagórica, como essencialmente mate­máticas. No espírito aristotélico, herdam a maior parte dos tra­ços das enteléquias e desempenham um papel causal na orga­nização dos sistemas materiais sujeitos à sua influência. De uma ótica nominalista, fornecem maneiras cômodas de des­crever os fenômenos da morfogênese, habitualmente pensados como sendo de cariz totalmente mecânico. Estas diversas inter­pretações coexistem na biologia do desenvolvimento e por ve­zes o mesmo autor oscila entre elas no mesmo parágrafo.

O papel causal dos campos e as características herdadas da enteléquia de Driesch permanecem, em geral, implícitos. Mas foram avançadas, de maneira explícita, interpretações de tipo platônico ou pitagórico.

Gurwitsch sublinhou as propriedades geométricas dos cam­pos e tratava-as como construções matemáticas ideais. A ori­gem e a extensão de um campo não se confinavam ao material de um organismo em desenvolvimento e o seu centro podia muito bem ser um ponto geométrico exterior ao organismo.

Thom esforçou-se por desenvolver uma espécie de platonis­mo dinâmico, no qual não apenas as formas podem ser caracte­rizadas matematicamente, mas ainda as maneiras como se transformam. É este o fundamento da sua teoria das catástro­fes, na qual as maneiras como as formas podem transformar-se umas nas outras são classificadas segundo um número limitado de "catástrofes" fundamentais. Os seus modelos de campos morfogenéticos incorporam essas catástrofes e concebe os cam­pos como objetos matemáticos que determinam, de uma ma­neira ou de outra, formas biológicas. Compara-os às estruturas matemáticas que, em física, determinam as formas químicas:

"Se o sódio e o potássio existem, é porque uma estru­tura matemática correspondente garante a estabilidade dos átomos Na e K; é possível, em mecânica quântica, especi­ficar esta estrutura para um objeto simples, tal como a molécula de hidrogênio e, apesar do caso do átomo de Na ou de K ser menos bem compreendido, não há qual­quer razão para duvidar da sua existência. Penso que existem igualmente, em biologia, estruturas formais, de fato, objetos geométricos, que prescrevem as únicas for­mas possíveis capazes de ter uma dinâmica auto-re­produtora num dado ambiente."

Segundo Thom, o esforço reducionista que visa "reconstruir um espaço complexo a partir de elementos simples" é perfeita­mente incapaz de fornecer uma compreensão da morfogênese e conclui que "a abordagem platônica é, de fato, inevitável".

Brian Goodwin insiste, também, na natureza matemática dos campos morfogenéticos, que concebem termos de "equações de campo gerativas". O desenvolvimento de organismos não deve ser compreendido em função do plasma germinativo, tal como supunha Weismann, nem do DNA ou do programa gené­tico. "A geração deve, pelo contrário, ser percebida como um processo emergente das propriedades de campo do estado vivo, com particularidades adquiridas que surgem para estabili­zar soluções particulares das equações de campo, de forma que sejam engendradas morfologias específicas". Por ou­tras palavras, os organismos adotam as formas exigidas pela estabilização das equações de campo e os genes afetam, indi­retamente, a forma estabilizando determinadas soluções das equações de campo em vez de outras. Goodwin e o seu colega Webster esperam que uma compreensão destas equações ge­rativas permita elaborar uma ciência racional da forma biológica.

"É preciso deduzir a ordem relacionaI correta que gera os fenômenos observados e esta ordem de organização, apesar de real, não é diretamente observável. Esta ordem relacional lógica define as propriedades de organização típicas dos organismos vivos. (...) A descrição matemática apropriada é fornecida pelas equações de campo. (...) Uma compreensão da morfogênese fornece a base de uma taxionomia racional, baseada nas propriedades lógi­cas do processo gerativo e não-genealógica, baseada nos acidentes da história.

De um ponto de vista platônico, ou pitagórico, os campos re­presentam uma realidade matemática objetiva; são igualmente objetivos se forem concebidos em um espírito aristotélico, en­quanto princípios organizadores imanentes; em contrapartida, não têm qualquer realidade fora dos nossos espíritos dentro da perspectiva nominalista. Alguns adeptos do conceito de campo recusaram-lhe, por vezes, qualquer existência objetiva. Paul Weiss, por exemplo, considerava-o, por um lado como "fisica­mente real", mas, por outro, considerava que o conceito de campo não passava de uma abstração do espírito. "Visto que se trata de uma simples abstração, não podemos esperar que nos dê mais do que nela pusemos. O seu valor analítico e expli­cativo é, portanto, nulo."

Waddington, que tanto fez para desenvolver e promover o conceito de campo em biologia mostrou uma ambigüidade se­melhante. Escreveu:

"Qualquer conceito de 'campo' é, essencialmente, uma comodidade descritiva, não uma explicação causal. (..,) As forças operantes devem ser, em cada caso, identificadas se­paradamente, de maneira experimental. O conceito de campo teria valor de paradigma unificador se as forças fos­sem sempre as mesmas, ou pertencessem a alguns tipos pouco numerosos, tal como no caso dos campos gravita­cionais e eletromagnéticos, ou se os mapas fossem sempre os mesmos; ora, sabemos que nada disso se passa."

Se os campos não têm um papel causal e não passam de uma maneira conveniente de falar de processos físicos e quími­cos complexos, esta abordagem não parece poder distinguir-se de uma versão sofisticada da teoria mecanicista. É certo que os biólogos contemporâneos têm, muitas vezes, tendência para conceber os campos morfogenéticos em termos físicos ou quí­micos convencionais. Porém, se levarmos esta abordagem sufi­cientemente longe, ela desviará, mais cedo ou mais tarde, os in­vestigadores de explicações puramente materiais para levá-los em direção a uma visão matemática ou platônica.

É o que se observa na modelização matemática dos campos morfogenéticos de Gierer, Meinhardt, etc. Começam com uma suposição mecanicista convencional:

"Visto que ainda não conhecemos a natureza bioquí­mica ou física dos campos, devemos introduzir uma suposi­ção quanto à classe geral de física à qual pertence este fe­nômeno. Se supuséssemos que o fenômeno fundamental é o magnetismo, tentaríamos compreendê-lo em função das equações de Maxwell. Parece realista supor que os campos morfogenéticos têm a mesma base que outros fe­nômenos biológicos que se prestaram a explicações físi­cas: a saber, que são essencialmente devidos à interação e ao movimento de compostos moleculares."

Semelhantes processos podem, então, ser descritos por meio de equações apropriadas. Contudo, tal como Gierer observa:

"Estas equações são relativamente timoratas no que diz respeito aos pormenores do mecanismo molecular. Representam uma tentativa de 'desmistificação' dos campos morfogenéticos, que sugere que estes se devem à biologia molecular convencional e a mais nada; todavia, impõem condicionamentos radicais à elaboração de teo­rias e de modelos."

Estes modelos matemáticos baseiam-se, em geral, na hipótese de que existem, em determinadas regiões, processos químicos auto-ativadores cujos efeitos inibidores se estendem por uma re­gião mais vasta. A ativação local é auto-aumentadores, de forma que uma ligeira vantagem inicial em um local particular pode pro­duzir uma ativação extraordinária. A produção e a propagação de efeitos inibidores impedem, contudo, uma explosão catalítica global, de maneira que uma ativação em uma parte da área só se produz à custa de uma desativação em uma outra, até que se for­me um padrão estável. Simulações por computador, baseando­-se nestes modelos, mostram que podem engendrar uma série de padrões simples, dos quais alguns são capazes de "regenerar-se" depois de terem sido danificados.

Estes modelos ajudam a compreender o espaçamento entre dife­rentes padrões de atividade química nas células - em particu­lar, a produção de proteínas diferentes - mas não explicam nem as formas das células, nem as estruturas a que dão origem. Deste modo, uma compreensão dos fatores que influenciam o espaça­mento de pêlos em uma folha não explicaria a forma dos pêlos. Da mesma maneira, um modelo matemático de urbanização, para re­tomar o exemplo de Prigogine, permitiria compreender melhor os fatores que influenciam a taxa de crescimento urbano, mas em nada explicaria as diferenças arquiteturais, culturais e religiosas entre as cidades indianas e brasileiras.

Substâncias químicas que se difundem não são os únicos fatores em função dos quais podem ser modelados os campos morfogenéticos; entre os outros candidatos, citemos os impul­sos eléctricos, os campos elétricos e as propriedades visco­-elásticas do gel.

Estes modelos baseiam-se em hipóteses relativas a eventuais mecanismos físicos ou químicos; todavia, são essencialmente matemáticos e o seu valor explicativo é indissociável das mate­máticas. Tentam, de fato, fornecer uma síntese que mistura, tal como a física clássica, as tradições platônica e materialista, tal como Gierer disse de maneira muito explícita:

"Uma compreensão satisfatória da formação de padrões biológicos só poderá emergir de uma combinação dos conhecimentos relativos à matemática e à matéria. É psi­cologicamente compreensível que os bioquímicos e biólo­gos moleculares favoreçam o aspecto materialista e os matemáticos o aspecto formal do problema. Em um plano filosófico, o aspecto matemático formal parece mais de­terminante para a compreensão do que o estrutural, mas não basta para produzir uma confirmação experimental."

"É interessante notar que o antagonismo entre o valor ex­plicativo relativo da matemática e da matéria remonta a Pitágoras e PIatão (a favor da matemática) e a Demócrito e, depois, Marx, (a favor do materialismo) - controvérsia que talvez não seja objetivamente resolúvel."

Fonte: http://www.redepsi.com.br/portal/modules/smartsection/item.php?itemid=785

2012 - Ciência ou Superstição

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Entrevista com Déborah Sachs


Por Marco Antonio Coutinho

Já há tempos desejava entrevistar Déborah Sachs. Eu sabia que ela estava realizando no Brasil o trabalho do Instituto Monroe, mas não havia ainda conseguido um contato pessoal com ela. O primeiro passo foi um cartão de Déborah, que recebi de minha mulher, Bea. Ambas haviam participado de um workshop de Respiração Holotrópica, com Stanislav Grof, e o contato entre as duas acabou me beneficiando. De lá pra cá, mantive contatos com Déborah, por e-mail e por telefone. Desses contatos iniciais, veio a participação de Déborah no SPS. O próximo passo seria uma entrevista com ela, que acabou me recebendo em sua residência na Barra, onde conversamos por longas horas sobre a sua trajetória pessoal e o seu trabalho com o Instituto Monroe, com as experiências fora do corpo e com a expansão da consciência. O entusiasmo de Déborah é contagiante, e nesta entrevista vocês conhecerão um pouco do tanto que ela tem a partilhar conosco, como tem partilhado com seus alunos, nos inúmeros workshops que vem realizando há anos por todo o Brasil.


SPS - Déborah, quando cheguei aqui nós conversamos informalmente sobre o trabalho do Instituto Monroe sobre defesas efetivas e permanentes nas experiências fora do corpo...por favor, fale um pouco mais sobre isto...

Déborah Sachs - Realizados para projetores astrais, especificamente, esses workshops do Instituto Monroe ensinam como se livrar das amarras das formas-pensamentos. E isso é um negócio incrível! Você sai do corpo e acha que vai ver tal coisa. E aí você vê!

SPS - Já há toda uma expectativa, não é?

DS - Toda uma expectativa! E aí você cria a sua forma-pensamento.

SPS - E o que você definiria como forma-pensamento?

DB - É assim: pensou, plasmou. Está ali! E a coisa não é por aí. Você tem de estar defendido, aberto para a experiência, para os objetivos que você tem. É preciso ter-se objetivos no que se faz, e nas experiências fora do corpo isto não muda. Quando a pessoa não tem objetivos, ela não vai a lugar nenhum. Ela pode ter até experiências das quais se arrependa de ter tido. Porque não está preparada. Quer dizer, somos nós mesmos que criamos as amarras.

SPS - E tem também o curso Como formular roteiros, objetivos e viagens fora do corpo. Como é isto?

DS - Isto, literalmente, é como se você estivesse montando uma viagem daqui para a Bahia, Europa ou Estados Unidos, montando um roteiro. Porque no Instituto Monroe eles ensinam que a gente precisa, antes de tudo, saber onde quer chegar e como quer chegar.

SPS - Há pessoas que estudam e praticam as EFCs que se preocupam muito com a possibilidade de encontrar espíritos "ruins", obsessores, etc. Como o Instituto Monroe vê isto?

DS - É...como anular isto? Quero dizer, isto que o pessoal narra, encontros com figuras vampirescas, obsessoras ou o que quer que seja...O Instituto trabalha muito com isto, através do trabalho Anulação de Influências Negativas.

SPS - Você fala aí em anulação. Então, pelo que a gente pode entender, a questão não é o que normalmente se coloca normalmente, que é a coisa de o que fazer quando encontrar companhia indesejáveis. Pelo que se vê o trabalho de vocês é não encontrar...

DS - É não encontrar! É prevenir, montar o roteiro, desenhar o objetivo e aí a coisa vai, flui. Literalmente a pessoa flui e contorna. O que quer que de negativo, por acaso, venha ao encontro dela , simplesmente passa, não a encontra. Porque o padrão energético da pessoa então é outro. Ou seja, ela não tem mais sintonia com aquele padrão ruim que, então, passa ao largo. Porque na vida física, quando a gente está andando nas ruas, passa do lado de ladrão, de assassino, de bandido, de tudo quanto é coisa ruim que pode existir. Mas aquilo não atinge a gente quando não está sintonia. No momento em que você se prepara para sair do corpo e pensa ih!, eu vou lá...será que eu vou ver isto, será que eu vou ver aquilo?, você já está se programando para se encontrar com aquele padrão de energia.

SPS - É notável o fato de como se fala em obsessores nos grupos de discussão sobre EFCs. Isto seria uma forma de se harmonizar com eles, não seria?

DS - Exatamente, uma forma de se harmonizar, de se colocar na mesma sintonia. Então a gente tem como não entrar naquela sintonia, como escolher com o que vamos nos sintonizar. Em termos de energia, a coisa é diferente do físico. Na física diz-se que os opostos se atraem, não é? E energia não é assim. Em energia são os semelhantes que se atraem. Se a pessoa está em faixa energética baixa, vai atrair semelhantes na mesma faixa energética. Se está em uma faixa energética já mais sutil, com outros objetivos, outros conceitos, outras razões de ser, vai também atrair para a sua faixa energética o mesmo tipo de indivíduos que vibram em harmonia com essas energias mais sutis. Durante o trabalho no Instituto Monroe é feito um trabalho de corte de padrões indesejáveis e pré-conceituados. Veja bem, o preconceito, pré-conceito, é um conceito que a pessoa assume antes de qualquer exame da questão, antes de qualquer reflexão sobre ela. Então o trabalho é muito em cima de que padrão eu quero e que padrão eu não quero, qual é o conceito que eu tenho certo, definido, e qual é o conceito que eu tenho assim...mais aberto, soltão, entende? E lembrando sempre: nós somos aquilo que acreditamos ser. Isto é um fato. Não tem outra forma de explicar. Eu conto sempre a história de um assado...

SPS - Um assado?

DS - Um assado especial [ risos]. Essa história eu aprendi no Instituto Monroe.

SPS - Conte aí pra gente...

DS - É a história de uma mulher que toda vez que ia fazer um assado pro marido, cortava as duas extremidades do assado. E aí colocava o assado no prato e servia pra ele. Um dia ele falou: — Eu gostaria de saber por que você corta essas duas pontas pra me servir o assado... Ela disse que não sabia porque, que havia aprendido aquilo com a mãe. Aí ele foi falar com a sogra e perguntou porque a filha dela, sempre que fazia o assado, cortava as duas pontas antes de servir. Isso tem a ver com o delicioso sabor do assado?, perguntou ele. A sogra também não sabia e também disse que aprendeu com a própria mãe. Mas ele insistiu e foi atrás da informação. Chegou lá na tataravó, na geração mais antiga que encontrou. E justamente no momento em que ele entrou na casa da velhinha, ela estava sendo auxiliada pela empregada a cortar as pontas do assado. Ele ficou contente. Cheguei na hora certa!, disse. Foi a senhora que ensinou à sua filha, que ensinou à filha dela, etc, até chegar à minha esposa, a cortar as duas pontas do assado, para que ele fique perfeito? A velhinha confirmou que ela mesma fazia isso. Então ele perguntou por que elas faziam aquilo. A velhinha respondeu: — Por que elas fazem isso eu não sei, mas eu corto porque a vasilha que eu tenho é muito pequena e o assado não cabe [risos], então eu corto as duas pontas pra ele caber direitinho...

SPS - Então o que as pessoas pensavam que era uma dica de culinária não era nada disso...

DS - Não era! Então é isso! Nós somos aquilo que acreditamos ser. É muito importante fixarmos isso. Se você acredita que é um ser bom por natureza, você vai agir como um ser bom por natureza. Se você acredita que não vale a pena, tudo que lhe acontecer vai provar que você realmente não vale à pena.

SPS - Você vai se harmonizar com aquilo e atrair, é isto?

DS - Mas isso é um fato! Você pode ver N exemplos disso. Muita gente não come manga se for tomar leite, porque acredita que faz mal. Hoje em dia as pessoas pensam que a mistura dá dor de barriga. Antigamente dizia-se que matava! E a gente sabe a origem disso! Foi no tempo dos escravos, quando o leite era um artigo muito caro, mas a manga podia ser encontrada em qualquer canto. Como o senhor de escravos queria economizar o leite, e como os escravos comiam com facilidade muita manga, ele colocava essa crença nos escravos, para economizar o leite! Esses princípios — somos o que acreditamos ser e semelhante atrai semelhante — são muito importantes. Durante meu worskshop nós trabalhamos isto intensamente e profundamente.

SPS - São elementos básicos, dos quais a gente raramente tem consciência.

DB - Exatamente. E eu trabalho também aquele conceito do Richard Bach — valorize os seus limites e por certo você não se livrará mais deles. É a coisa da pessoa dizer ah! Isso eu não consigo! Pode esquecer! Não vai conseguir mesmo!

SPS - É tipo um trabalho de autoprogramação, né?

DS - Com certeza. O trabalho do Instituto Monroe é muito profundo. E não bate de frente com nenhum outro trabalho, apenas complementa. E é uma coisa de não criar dependência. Sabe aquela frase dos chineses, que diz se você quiser matar a fome de um homem por um dia dê-lhe um peixe, mas se quiser matar a fome dele para o resto da vida ensine-o a pescar? Pois é isso. O Instituto Monroe prefere ensinar a pescar.

SPS - É assim que as pessoas podem encontrar e utilizar as sua próprias potencialidades...

DS - Exato! Há uma frase de Helen Keller muito interessante a esse respeito: nunca se deve engatinhar quando o impulso é voar... Então o Instituto trabalha tudo isso com os projetores astrais.

SPS - Até mesmo para que o projetor usufrua o mais plenamente possível do que ele vai realizar através da projeção, não sub-utilize tudo aquilo...

DS - Exatamente. Mas há uma coisa que eu gostaria de deixar bem clara: o workshop do Instituto Monroe não tem a intenção de ensinar alguém a sair do corpo. A intenção do Instituto não é essa. É ajudar a pessoa expandir a consciência.

SPS - A experiência fora do corpo é um aspecto que pode acontecer em meio a um todo, certo?

DS - Na minha maneira de pensar — veja bem, na minha maneira, de Déborah — expansão da consciência é a mesma coisa que viagem astral. Porque a consciência não está no corpo. Não se define consciência como estando dentro do corpo.

SPS - Ela não é localizada...

DS - Não é. A física quântica já foi bem clara quanto a isto. Consciência não se define. Nunca ninguém definiu o que é consciência. Você define aspectos, utilização, as formas como ela pode se apresentar numa determinada situação, podemos deduzir consciência, mas não dizer o que é consciência. A definição clássica é saber com. Isso não tem um pingo de sentido pra mim. Na minha página na Internet, eu coloquei não exatamente uma definição, mas uma explicação sobre consciência. Porque a gente precisa saber o que é que vamos expandir, né?

SPS - E como você explicaria a consciência?

DS - A consciência não está na gente. Nós é que estamos na consciência. Ela é tão maior do que a gente, que somos nós que estamos nela, e não ela na gente.

SPS - De certa forma nós somos consciência, né? O próprio corpo físico é consciência...

DS - Nós somos consciência, estamos na consciência, e o corpo faz parte da consciência. Mas no momento em que você expande, você percebe que está muito além dos limites do seu corpo físico. Portanto, o que é isso que ultrapassa todos os limites físicos, e que você encontra nas mais variadas histórias, desde priscas eras? Não é de hoje que existe a expansão da consciência. Sempre existiu. A diferença é que hoje está na moda... As experiências fora do corpo talvez sejam uma das formas de se explicar o que é a expansão da consciência.

SPS - Agora vamos voltar um pouco atrás. Fale um pouquinho de você, de sua história...

DS - Eu nasci no Rio de Janeiro, no Flamengo, na Casa São José [dá boas risadas]!

SPS - Você havia me falado que é de família gaúcha, não é?

DS - Exato. Meu sobrenome de solteira é Porto Alegre.

SPS - Tradicionalíssima, hein!

DS - É uma família de origem açoreana. Que participou de um grupo de 66 casais que fundaram Porto dos Casais, que depois veio a se chamar Porto Alegre. Então todos os Porto Alegre são meus parentes...

SPS - E como foi que começou essa coisa da sua busca pelo estudo da consciência, a prática com esses estudos, as experiências fora do corpo... Você começou a ter essas experiências desde cedo?

DS - Eu praticamente nasci saindo do corpo. Desde sempre vivendo outras realidades espirituais. Então me colocaram em colégio de freiras. E as freiras falavam essa menina tem o diabo no corpo! [risos], quer dizer, fui expulsa, né? Porque quando a coisa apertava eu saía do corpo. Sabe como é, meu pai tinha origem italiana, era militar. Minha mãe, de origem açoreana e galega, era filha de militar. Família dominante, sabe como é. Então, quando a coisa apertava, eu saía do corpo.

SPS - Isso na infância...

DS - Isso desde que eu me entendo por gente. Só que eu achava que todo mundo também fazia isso, que todo mundo saía do corpo. Até o dia em que eu descobri que não, que não era bem assim. Aí eu resolvi ficar quieta, porque a coisa ficou ruim pro meu lado...

SPS - Aí você começou a ficar meio secreta, né?


DS - Durante muito tempo eu mantive secretas essas coisas, para me defender. E daí eu tive o primeiro amor da minha vida, que foi Peter Pan! Porque ele saía do corpo, viajava para a Terra do Nunca, onde as pessoas não cresciam e não ficavam adultos. E eu achava adulto um negócio muito coercitivo, muito podador mesmo, né? Então, pô, eu queria que Peter Pan me levasse pra Terra do Nunca. Ele voava também! Aí eu deixava a minha janela aberta e minha mãe ficava em pânico.

SPS - Ela pensava que você fosse pular pela janela...

DS - Não. A gente morava em Botafogo, na Dezenove de Fevereiro, em um sobrado ali, uma casa. Tivemos a casa quase assaltada várias vezes. E eu queria que a janela ficasse aberta. Mas mamãe falava nunca! Fecha essa janela!, e eu ali, esperando que o Peter Pan viesse [risos]. Isso quando eu era pequenina. Estou hoje com 56 anos de idade, acho que nessa época tinha quatro ou cinco anos...

SPS - Ligadíssima no Peter Pan...

DS - É. E na Sininho também. Mas eu só gostava dela porque ela tinha aquele pó mágico que fazia as pessoas voarem. Pensava que se ela jogasse aquilo nas outras pessoas elas poderiam voar também, como eu. E então eu não me sentiria assim tão diferente dos outros... Essa era a única vantagem que eu via na Sininho, sabe, porque eu tinha um certo ciumezinho dela [risos]...

SPS - E como é que ficou essa facilidade de sair do corpo? Permaneceu durante toda a sua vida, até a idade adulta, ou houve alguma interrupção?

DS - Nenhuma interrupção. Nenhuma. O que houve foi um aprofundamento na parte espiritual. Em relação às dimensões espirituais, que eu antes não entendia. E então quis entender mais sobre elas. Então uma vez eu assisti a uma palestra do Divaldo [Divaldo Franco, renomado médium e escritor espírita] em que ele narrou que trabalhava em uma repartição pública e atendia muita gente. Ele às vezes conversava com uma pessoa, e a funcionária, colega dele que trabalhava ao lado, dizia: — Aí não tem ninguém, Divaldo... Ele ficava muito, muito aflito e dizia à colega: — Faça o seguinte: quando eu for atender alguém, aí por favor me diga se a pessoa está ali mesmo ou se abriu-se um campo dimensional e eu entrei em outro plano. Ou qualquer coisa do gênero. Porque ele já não sabia mais dizer quando a pessoa estava ali mesmo, fisicamente, ou não. E eu vivi coisas parecidas. Eu via as pessoas surgirem em plena luz do dia. Elas me traziam mensagens, coisas assim. E eu não sabia como lidar com aquilo. A coisa começou a me atrapalhar, a dificultar um pouco a minha vida.

SPS - Isso aí por volta de que época? Você era adolescente?

DS - Estava com uns 20 anos, qualquer coisa por aí...

SPS - Uma adulta jovem...

DS - Exatamente. Aí então eu fui procurar o Espiritismo kardecista, pra poder estudar um pouco. Fiz o curso do Evangelho Segundo o Espiritismo, estudei o Livro dos Médiuns, o Céu e Inferno, a Gênesis... Enfim, fui estudar todo o pentateuco kardecista, né? Isso pra poder me situar um pouco.

SPS - E valeu?

DS - Ajudou, ajudou bastante. Eu me situei, mas não fiquei aí. Segui em frente, continuei a estudar, a ver o Budismo Tibetano e as outras formas de Budismo, o Sufismo, ao qual eu me ligo loucamente, devido ao aspecto do bom-humor, a coisa lúdica do Sufismo. Eles são muito engraçados, as histórias têm um bom-humor incrível, eu me identifico demais... E, no momento, estou tentando estudar um pouquinho da Cabala. É uma coisa ainda muito dificil pra mim, porque tudo é difícil quando você não sabe, não é?

SPS - A Cabala é particularmente interessante, porque ela tem a coisa do conceito, por meio da qual você pode ir além do conceito. Ela passa a ser uma vivência pura, e o conceito serve apenas com um momento inicial, um arranque para que você transcenda aquilo tudo... Aí a Cabala é êxtase, né? Êxtase puro...

DS - Eu tô começando. Tem uns dois anos, dois anos e pouco que eu estou estudando a Cabala, e isto não é nada!

SPS - Bem, então você procurou vários caminhos, para se situar. E como foi que você foi bater lá no Instituto Monroe? Quando foi que você ouviu falar do Robert Monroe e do Instituto?

DS - Eu participo da Federação Médico-Espírita, lá de São Paulo — como pesquisadora — e estava lá, participando de um congresso. Então conversei com alguém a respeito dessas minhas "saídas fora do corpo" , porque hoje eu estou redefinindo como expansão da consciência. Eu acho essa colocação mais coerente com a minha forma de vivenciar a coisa. E essa pessoa me perguntou se eu conhecia o trabalho do Monroe. E eu nunca tinha ouvido falar nele. Aí ela me apresentou o trabalho do Monroe, e eu descobri que ela era daqui do Rio de Janeiro, uma americana que vivia aqui. E quando voltamos ao Rio ela me deu o livro pra ler.

SPS - Isto em que época?

DS - Isso foi há uns 22 ou 23 anos, mais ou menos. Então eu li o livro, ainda em inglês, fiquei fascinada, achei o livro fantástico, tinha tudo a ver comigo. Inclusive chorei muito durante a leitura, pelas dúvidas que Robert Monroe se colocava e que eu também já havia me colocado.

SPS - Era aquele primeiro livro dele?

DS - Isso, o primeiro livro, Viagens Fora do Corpo. E aí comecei a me interessar bastante pelo assunto. Então houve um outro congresso em São Paulo, do qual eu também participei. Era um congresso de Transcomunicação Instrumental, que estava sendo organizado pelo Clóvis Nunes, de Ilhéus, uma pessoa que eu admiro bastante, por seu trabalho em Parapsicologia, e que foi quem realmente trouxe a Transcomunicação Instrumental para o Brasil. Nesse congresso havia um cara que representava a Transcomunicação Instrumental no oeste dos Estados Unidos, Marc Macy, do Colorado. Caímos sentados um do lado do outro e começamos a conversar. A certa altura ele me disse: — Você vai gostar de uma pessoa que eu vou lhe apresentar. E então ele me apresentou a Laurie Monroe, que também estava participando desse congresso. Eu tive uma identificação imediata com ela. Já havia lido os livros do Monroe, já estava mais por dentro do trabalho dele. Conversamos profundamente, e ela falou: — Eu gostaria muito que você fizesse um curso conosco! Este foi o primeiro convite que eu recebi do Instituto Monroe, vindo especificamente pela Laurie. E nessa época o Robert Monroe ainda era vivo...

SPS - Ele faleceu em 1995, não foi?

DS - Faleceu em 1995, aos 80 anos de idade.

SPS - E qual foi a sua resposta ao convite da Laurie Monroe?

DS - Eu falei que iria sim, sem dúvida. E comecei então a me interessar pelos trabalhos do Instituto. Passei a comprar as fitas, devagarinho, a realizar em casa os trabalhos, etc. E via que aquilo funcionava. Então, na primeira chance, fui pra lá.

SPS - Você chegou a conhecer o Robert Monroe?

DS - Não, não cheguei a conhecê-lo. Quando eu fui pra lá, pra fazer o primeiro curso, ele tinha acabado de morrer. Ele faleceu ali por março ou abril de 1995, e eu fui pra lá em janeiro de 1996.

SPS - E como foi a sua experiência com os cursos?

DS - Já no primeiro curso, Gateway, entregaram-me um fichário e me perguntaram: — Você não gostaria de ser orientadora do Instituto? A Laurie pediu para que lhe entregássemos este fichário... Eu já tinha trabalhado com todas as fitas, ainda aqui no Brasil. E quando fui para os Estados Unidos, perguntei-me: — Será que vai ter alguma novidade pra mim?

SPS - E teve?

DS - Tudo foi novidade. E eu então fiquei fascinada, pratiquei bastante, e eles me entregaram o fichário, com esse primeiro convite.

SPS - E para você participar de um grupo, como instrutor, o que é necessário? Qual a preparação, o que eles exigem de você?

DS - Isso foi o primeiro contato. Logo depois eu fiz o curso Lifeline, em que a gente realiza resgates no mundo espiritual. E essa era uma área na qual eu já tinha bastante experiência, a área espiritual, os resgates e tal. Pelo meu trânsito no kardecismo isto já tinha sido uma vivência bem intensa pra mim. E nessa época os dois professores do Gateway e os três professores do Lifeline escreveram cartas de recomendação, indicando-me como treinadora do Instituto. Era um aval para que eu participasse. Eles me perguntaram se eu já tinha olhado aquele material que recebi. Eu disse que sim. E então eles me perguntaram o que eu havia achado. E eu falei: — Eu nem li ainda [ risos], o material é muito grande! E então eles disseram que eu lesse. E que em junho teriam lá um curso e queriam saber se eu achava que poderia participar como formadora. Eu disse que não sabia, exatamente porque ainda não havia lido o material.

SPS - E bastava você ler aquele material para estar em condições de ser orientadora?

DS - Não. Eles me informaram que eu precisava ter uma formação universitária, que precisava ter mestrado, um trânsito bem sólido em carreira de orientação, lidando com pessoas, alguns cursos paralelos, como Neurolingüística, etc. Quiseram saber qual era a minha experiência com meditação, com trabalhos ligados ao desenvolvimento da consciência.

SPS - E então? Você tinha tudo isso?

DS - Isso é interessante! Sem saber que eu ia terminar no Monroe, tudo que na minha vida inteira eu trabalhei levou-me a essa capacitação que era considerada necessária a um treinador do Instituto.

SPS - Mas por que, por exemplo, um treinador do Instituto Monroe precisaria ter mestrado? É compreensível que ele tenha uma experiência prévia com meditação, estudos da consciência, que seja de uma área que lide com pessoas, com Educação, etc. Mas porque a titulação de mestre é exigido, e não apenas um nível de graduação?

DS - Em nível de graduação, a minha formação foi como orientadora pedagógica. Em nível de mestrado, foi como orientadora educacional. Então eu tinha um trabalho de formação, tanto de aconselhamento, quanto de terapêutica, pra me credenciar a ser uma aconselhadora, se é que a gente pode falar assim... porque lá eles dizem trainer, que pra nós, se traduzirmos como treinador, fica com um sentido muito mais físico. Mas lá o sentido é outro. É o de uma pessoa que tem de estar muito bem formada e muito bem capacitada pra poder pegar no ar onde tem de orientar cada participante daquele workshop. Então, se eu não tivesse uma bagagem de 17 anos como trainer, orientadora... o mestrado me deu uma orientação muito mais profunda... e pra cursar o mestrado eu tinha de ter antes cinco anos trabalhando, para depois candidatar-me ao mestrado, entende? E foi exatamente o que eu fiz.

SPS - Mas de nada adiantaria toda essa formação se você não tivesse um bom inglês, não é? Ou pelo menos um inglês funcional...

DS - Eu morei nos Estados Unidos por quase quatro anos. Fui para lá acompanhando o meu marido, e aprendi inglês lá mesmo. Cheguei falando com o gestual [risos] e saí com um inglês perfeito, porque era o inglês da prática, do dia a dia, da rua, do supermercado, e também o inglês da universidade. Eu fiz faculdade lá.

SPS - Você estudou aqui também?

DS - Sim, depois eu fiz Comunicação Social na Faculdade da Cidade. Todos os meus créditos cumpridos lá nos Estados Unidos foram aceitos pela Faculdade da Cidade.

SPS - E, na prática, como é que começou o seu trabalho no Instituto Monroe?

DS - Bem, eles haviam entregado o fichário. Eu li, achei que tinha tudo a ver comigo, que era tudo o que eu queria fazer, e minha formação "sem querer" batia com aquilo tudo. É coisa de sincronicidade mesmo. Acho que quando a pessoa está pronta a oportunidade realmente surge, né? E eu tinha trabalhado nesse sentido a vida toda. Todos os cursos que eu havia feito levaram o pessoal do Instituto, e a mim mesma, a perceber que eu era indicada para o trabalho que o Instituto estava pedindo. Havia ainda dezoito livros que eu deveria ler. Desses aí eu já havia lido treze, de modo que só me faltavam cinco... Pra você ver, havia mesmo uma sincronicidade. Eu li então os cinco livros que faltavam. O convite foi em fevereiro, e em maio eu fui para os Estados Unidos fazer o curso. Foram onze dias lá, durante os quais eles trabalham a capacidade da pessoa reagir a níveis profundo de estresse, como administrar situações vindas assim de repente, como que do nada. Tem de haver um grande poder de improvisação. Você só tem um ponto, e tem quinze minutos para prepará-lo e apresentá-lo. A exigência nas provas escritas é também muito grande. As provas escritas eram verdadeiras mini-apostilas, com umas dez páginas, mais ou menos, parte descritiva, parte múltipla escolha, tudo misturado. São necessários também bons conhecimentos em Psicologia, em Neurologia, etc. Por isto eu acho que eles devem mesmo exigir uma formação sólida, com mestrado, etc.

SPS - Mas não é uma coisa fácil. Foi uma experiência agradável?

DS - Eu adorei o curso! Achei bem puxado, mas adorei.

SPS - Qual é o nome desse curso?

DS - Chama-se TDAP, é o curso de formação deles. Mas quando eu terminei o curso achei que já havia me formado. Necas de pitibiriba! De jeito nenhum! Tem ainda de fazer uma especialização, que habilita a dar cursos avançados...

SPS - Mas esse outro, o TDAP, que habilita em termos básicos como trainer, quanto tempo leva? Isso entre começar o curso, fazer as provas e chegar até o fim. Quanto tempo?

DS - São onze dias lá no Instituto. Depois você sai, tem de realizar dois workshops com supervisão. Vem um supervisor dos Estados Unidos pra cá. A minha foi a Ann, uma pessoa com a qual eu tinha uma identidade muito grande, e havia sido a minha primeira professora lá no Instituto. Eu a convidei pra me acompanhar aqui no Brasil. Ela ficou hospedada aqui em casa e participou primeiro de um curso com supervisão aqui no Rio, e depois de outro em São Paulo. Coube a ela também verificar as instalações que eu estava utilizando, para ver se eram apropriadas ou não para o trabalho do Instituto. Acompanhou também quais as modificações que eu havia feito, para adaptar à cultura brasileira, como que eu ia aplicar isso tudo... ela ficou comigo o tempo todo: na preparação dos cursos, na apresentação, o tempo todo mesmo. Depois retornou aos Estados Unidos, apresentou um relatório, e daí então o Instituto enviou-me um diploma, que atestava que agora eu estava apta a ser representante do Instituto Monroe. Isso tudo levou um ano, no total.

SPS - E aí você ainda teria de fazer outro curso, né?

DS - Sim. O curso de Credenciamento Contínuo. É mais ou menos equivalente ao nossos cursos acadêmicos de pós-graduação lato sensu. Ele credencia a pessoa para dar cursos avançados.

SPS - E você teve de voltar lá para fazer esse curso?

DS - Sim. E aí eu me credenciei aos cursos avançados, que eu batizei como Crescimento Pessoal e Autocura.

SPS - Você passa então por todo um treinamento complementar, preparação de material, de aulas e tudo mais, adaptados ao nível que você alcançou...

DS - Você tem de estar muito bem preparado. Eu costumo brincar e dizer que é mais do que muito bem preparado, é, parafraseando aquela personagem da TV, moooooito bem preparado [risos]. Sem nenhum tipo de grilo, sem problemas para falar em público, etc.

SPS - E as pessoas sentem dificuldades para superar esses eventuais problemas?

DS - Do meu curso de formação, dos onze que entraram no curso, só quatro se formaram. Tem gente que faz duas, três vezes, pra conseguir se formar. Porque eles não facilitam mesmo.

SPS - E ainda tem algum curso que você vá fazer por lá?

DS - Eu vou todos os anos. Pertenço à Divisão Profissional do Instituto, como pesquisadora. Agora mesmo, em março, apresentei um trabalho, no qual uma pessoa com deficiência auditiva — é bom não esquecer que o curso é baseado em fitas de áudio — participou tranqüilamente do curso, porque eu não coloquei os fones nos ouvidos dela, mas em partes do crânio. E aí apresentei no Instituto os resultados disso.

SPS - E a coisa funcionou bem com ela...

DS - Funcionou super-bem! O trabalho vai ser publicado na Inglaterra, na segunda edição do livro Whole Brain. E esse meu trabalho é baseado em outro, que realizei na USP, no curso de pós-graduação em Psicobiofísica. A minha tese foi Golfinhos e Humanos Em um Aproach Terapêutico. Estive diversas vezes nos Estados Unidos, para fazer estágios em dolfinários, para ver como eram feitas as terapias com golfinhos e entender um pouco mais sobre eles. Em três anos eu tive de ler 104 livros sobre golfinhos, para entender como essa terapia era feita.

SPS - Então você virou mestre em golfinhos, hein!

DS -Adoro os golfinhos. Para mim, eles são especiais. Pude nadar com eles, e isto foi um dos maiores prazeres da minha vida. Eles escaneiam a gente, você sente o tilintar do escaneamento deles, quando eles chegam perto...

SPS - Escaneiam mesmo?

DS - Literalmente. É "algo"!

SPS - E existe algum projeto para se instalar no Brasil uma filial, ou uma unidade do Instituto Monroe?

DS - Este é o meu sonho [risos]! A Laurie Monroe me disse uma vez que quando ela pensava em uma filial, o único país que surgia na cabeça dela era o Brasil. Ela tem paixão pelo Brasil, pelo senso de humor do brasileiro, pelo que ela vê como uma espécie de transformação contínua. Um verdadeiro fascínio, que me encanta, que me enternece saber... e que me dá uma bola cheia também [risos]

SPS - E o Robert Monroe também gostava do Brasil, não é? Ele chegou a conhecer o nosso país?

DS - Não, ele não chegou a conhecer o Brasil. Mas adorava os brasileiros que iam pra lá.

SPS - Mas a Laurie Monroe conhecia bem...

DS - Ela já esteve aqui cinco vezes. Participou de congressos, veio ao Rio, foi a São Paulo, ao interior, a Foz do Iguaçú, foi conhecer as comunidades alternativas no Planalto Central, andou por Minas, pra conhecer todas as influências energéticas...

SPS - É então uma pessoa muito aberta...

DS - Muito. E muito alegre. Uma pessoa muito fácil da gente chegar nela. Tem 50 anos de idade, um ânimo constante, sempre sorrindo, brincando. Eu adoro a Laurie, me dou super-bem com ela...

SPS - Então ela meio que partilha desse seu sonho de fundar aqui uma filial do Monroe Institute, né? E você vê assim, a médio prazo, uma possibilidade de concretizar isto?

DS - A médio prazo? Eu vejo muita possibilidade...

SPS - ...até porque um trabalho de filial pode começar sem ter aquele tamanho todo que a sede internacional já alcançou, né?

DS - Claro! Pode começar pequetitinho...

SPS - O próprio Instituto Monroe começou como um departamento da empresa do Robert Monroe, não foi?

DS - O Bob Monroe começou como eu estou começando aqui no Brasil. Ele saía por aí com um curso, que era ministrado em diferentes lugares. E aí ele fez o curso no Esalen Institute, na Califórnia, que foi onde ele começou de verdade...

SPS - Parece que ele fez vários trabalhos também no Instituto Smithsoniano...

DS - É, ele deu várias palestras lá. Então foi mais ou menos do mesmo jeito que eu faço hoje quando pego a minha malinha. O pessoal morre de rir de mim, com as minhas malas de material, mala das fitas, mala dos catálogos, pareço um caracol, com a mala nas costas [risos]...

SPS - Mas você vai precisar de ajuda. Porque já está com um trabalho muito pesado. O que você está fazendo em termos de tradução, organização? Aparentemente está trabalhando sozinha, né?

DS - É mesmo bastante trabalho. Traduções, implantação, divulgação. A simpatia que eles têm pelo Brasil é tão grande, que fez com que apressassem a tradução dos trabalhos para o português. Para o francês levaram 13 anos, nove anos para o espanhol, e um ano para traduzir para o português.

SPS - Que diferença, hein! Agora, você tem feito aqui muitos trabalhos, em termos de palestras, workshops, cursos... Certamente deve ter entrado em contato com muitas pessoas motivadas e interessantes. Não podem surgir daí os colaboradores que poderiam ajudá-la a implantar no Brasil o Instituto Monroe?

DS - É tudo o que eu queria! Porque, por enquanto, eu fui a primeira e continuo até hoje a ser a única representante credenciada a dar cursos do Instituto no Brasil. Nosso país tem quase 170 milhões de habitantes. Será que não vai sair mais nenhum credenciado lá?

SPS - Essa pessoa que viria ajudá-la, teria de, num determinado momento, passar pelo mesmo processo que você passou?

DS - Teria não. Ela tem que passar. Porque eu não formo ninguém, entende? A formação é toda lá nos Estados Unidos. Por enquanto é lá.

SPS - Mas uma pessoa não poderia ajudar você em questões preliminares, ou até funcionais? Por exemplo, secretariando você, apoiando em trabalhos de organização, divulgação, traduzindo, etc, sem que viesse necessariamente a fazer cursos como você faz? Já seria de uma grande ajuda, não?

DS - Deixa eu lhe falar uma coisa: eu gosto muito de ler em línguas diferentes. Eu leio em espanhol, italiano, inglês e francês. E por que eu fui estudar essas línguas? Porque eu não gosto das traduções. Quando você tem um determinado assunto, existem terminologias específicas para aquele assunto. Então, se você fala de uma EQM, que é a experiência de quase morte — que em inglês é uma NDE, de Near Death Experiences — você vê que aqui foi feito um tipo de um acordo, para chamar de EQM. Então quando eu pego um livro em português, muitas vezes porque está mais à mão, é muito comum eu largar aquele livro de lado, ir correndo para o computador [risos] e encomendar o livro no original pela Internet!

SPS - Há inclusive aquela máxima que diz que o tradutor é um traidor...

DS - Você havia falado há pouco da coordenadora do meu curso regressão, que é a Jussara Serpa, né? Esta mulher, pra mim, é uma das melhores tradutoras que eu já conheci na minha vida. Ela traduz o curso que a gente faz com o Roger Woolger, e traduz até mínimas expressões e as manifestações emocionais dele!

SPS - Eu vi a Jussara fazendo tradução durante uma palestra do Grof, e é realmente espantoso...

DS - Eu fiz o worskshop do Grof com ela traduzindo também...essa mulher é incrível! Uma fera. Fez inclusive a tradução do livro Psicologia do Futuro, do Grof, e ficou sensacional... Ela é ótima. Mas a Jussara, além de ter esse talento todo, conhece muito o material que ela traduz. Os termos específicos, as nuances, etc. E isso é muito raro de se encontrar...

SPS - Mas você quer mesmo fazer o Instituto por aqui?

DS - Claro! Mesmo que seja com muita simplicidade no começo, mesmo que eu começasse com um instituto meu, uma coisa minha, e depois eles venham de lá e coloquem mais estrutura, com os cursos residenciais e depois se transformasse em uma filial do Instituto Monroe. Se bem que já existem cursos residenciais do Instituto no Canadá. Mas eu não fico satisfeita com isso. Quero fazer os cursos residenciais com o Instituto montado aqui.

SPS - E o que a Laurie Monroe pensa disso?

DS - Ela se interessa pela idéia. Não vê como fazer isso agora, neste momento, mas é fala sempre: — É algo muito bom para se pensar. Se eu tiver de fazer uma filial, não tenha dúvida que essa filial será no Brasil.

SPS - Como fica atualmente o trabalho com as experiências fora do corpo no Instituto Monroe?

DS - Fica muito bem, obrigado. Porque nós não temos nada que entre em conflito, só o que complementa.

SPS - E como é que seria a relação entre o trabalho que você faz e o que é realizado pelos diversos institutos brasileiros que trabalham de uma forma ou outra com as experiências fora do corpo? Há alguma relação?

DS - Olha, eu tenho mais contato com o pessoal do IIPC, do Waldo Vieria. Sou muito amiga deles, entende? Eu me sinto muito honrada de ter sido procurada por eles, porque eu admiro bastante o trabalho do Waldo, tenho uma admiração muito grande por ele — já lhe havia falado isso antes — por todo o trabalho dele, por toda a expansão do trabalho, eu tenho de admirar esse homem!

SPS - Claro! O mérito dele é indiscutível...

DS - Indiscutível! Então eu ser procurada por professores dele para fazer uma complementação com o trabalho do Monroe me traz uma honra profunda. Eu fico em estado de graça mesmo, entende [risos], e então eu auxilio em tudo o que posso. Passo todo o ferramental que posso entregar, porque acho que, hoje em dia, nós não estamos mais em um trabalho de separatividade, mas em um trabalho de complementaridade, e só me honra entrar em contato com todos os institutos que quiserem contatar a gente. Mesmo porque o nosso trabalho é um trabalho de expansão da consciência que pode auxiliar o trabalho de qualquer instituto, sem questionar e sem quebrar absolutamente nada do que eles fazem.

SPS - Perfeito. Agora, uma coisa que as pessoas perguntam muito. É sobre a metodologia do trabalho do Instituto Monroe, que é muito em cima de fitas, de sons, etc... Isto não traria o risco de criar uma dependência da pessoa em relação à tecnologia, no sentido de ela ter de recorrer a tecnologias para atingir determinados estados, obter determinados resultados?

DS - Eu posso responder com uma pergunta?

SPS - Claro...

DS - Você já viu algum adulto andando de bicicleta com aquelas rodinhas de apoio do lado?

SPS - Não, não vi...

DS - Pois é mais ou menos isso... Essa tecnologia auditiva do Instituto Monroe funciona mais ou menos como as rodinhas de apoio de uma bicicleta. Uma vez que você aprendeu, tira as rodinhas, não precisa mais delas... Você se senta, relaxa... e está fora do corpo.

SPS - O Geraldo Medeiros Junior, do IMPC, falou-me que pouco antes do Monroe falecer eles tiveram uma conversa rápida, e o Monroe falou pra ele que tudo está nas pessoas...

DS - Tudo está na gente. O Monroe trabalha com todos aqueles focos de que lhe falei: Foco 3, equilíbrio mente/cérebro - Foco 10, corpo dormindo/mente alerta - Foco 12, corpo dormindo/mente alerta/percepção expandida - Foco 15, ausência da variável tempo - Foco 21, ausência da variável espaço. Aí você está sem nenhum tipo de controle, solto, em outro plano, em outra dimensão. É onde você encontra entidades não-físicas. E onde muita gente diz que — de acordo com o segundo livro do Monroe, Far Journeys, que foi traduzido aqui como Viagens Além do Universo — a pessoa pode encontrar entidades não-físicas extraterrestres. Eu já acho que se não estão na Terra já são extraterrestres [risos]...

SPS - Exatamente...

DS - ...não interessa de onde estão vindo [risos]!

SPS - Nós mesmos somos extraterrestres, né?

DS - Exato! Principalmente quando você expande a consciência, quando sai do corpo, você é um extraterrestre [boas risadas]! Eu não me prendo aos conceitos! Eu acho que temos de nos prender à essência, e não aos conceitos. Essa é a minha postura. Trabalhar a essência, mas sem rótulos.

SPS - E quais são as áreas de aplicação do trabalho realizado no Instituto Monroe?

DS - São muitas. Uma é a chamada Série Cirúrgica. São fitas que você utiliza antes da cirurgia — pra preparar-se — assim como durante e depois da cirurgia. Eu utilizei esse processo e é realmente impressionante. Eu precisava passar por uma cirurgia de seis horas, há dois anos. Aí pedi permissão ao médico. Ele disse que por ele não tinha problema. E eu fiz a cirurgia com fones de ouvido, durante a operação propriamente dita, e havia pedido à equipe dele que, após a cirurgia, trocasse a fita apropriada para a sala de recuperação, onde eu deveria ficar por duas horas. E eu fiquei acordadona, perguntando aos enfermeiros que máquinas eram aquelas, toda curiosa e tal, perturbando todo mundo. Resultado, tiveram de me mandar logo pro quarto, né [risos]? Meu marido inclusive se assustou quando me viu no quarto! E o que os médicos perceberam? Primeiro que quase não houve sangramento. E eu não tive nenhuma alteração circulatória, respiratória ou cardiáca, nem agitação, nada. A permanência na sala de recuperação foi encurtada de duas horas pra 10 minutos [risos], eu não tomei remédio contra a dor, não senti dor nenhuma - e foi uma cirurgia imensa, da qual participaram duas equipes médicas...e assim por diante. E eles ficaram encucados com aquele raio de fita que eu estava ouvindo, como é que eu pude ficar tão tranqüila.

SPS - É realmente um trabalho revolucionário...

DS - E tem também o trabalho de tanatologia, que foi desenvolvido pelo próprio Robert Monroe, com a Elisabeth Kübler-Ross — uma austríaca responsável por toda uma jornada sobre a morte e o morrer — e o Charles Tart, que é um grande pesquisador dessa área das experiências fora do corpo...

SPS - Ele inclusive conduziu experiências laboratoriais com o Robert Monroe, não é?

DS - Muitas. Muitas experiências. E hoje ele está na Califórnia. Mas desenvolveu esse trabalho junto com o Bob Monroe sobre a morte e o morrer. É um trabalho que se chama Going Home. O pessoal espírita iria adorar! Uma parte do trabalho é para a pessoa que está deixando este mundo, e a outra para a família que está perdendo o ente querido. Então prepara os dois lados. E tem também o Catnapper, o "soninho do gato", que a gente chama de soneca, ou cochilo, né...

SPS - Como é isso?

DS - É um dos carros-chefe do Instituto. Você relaxa 15 minutos e dorme 15 minutos, simulando um sono equivalente a três horas da sua noite. Isso é muito bom pra pessoas que viajam, que muitas vezes ficam desfocadas em relação ao fuso horário. É muito bom também pra pessoas que trabalham demais, não têm tempo pra dormir. Elas recuperam tudo rapidinho.

SPS - Fantástico! O que mais está acontecendo atualmente no Instituto Monroe, em termos de pesquisa e resultados?

DS - Muita coisa. Fica difícil falar de tudo assim numa entrevista. Mas, por exemplo, no momento, eles estão fazendo uma pesquisa - e eu acabei de receber um CD de lá, pra poder participar da pesquisa, com protocolo e tudo - sobre o Purrfect Hemi-Sync [risos]

SPS- Você havia me falado algo a respeito. É sobre o ronronar dos gatos, né?

DS - Isso! O ronronar do gato, mais o HemiSync, na cura da osteoporose.

SPS - Eu gostaria agora de falar de duas fases: o trabalho feito com a tecnologia Monroe e depois falar no trabalho de uma maneira geral. Mas vamos supor: existe alguma contra-indicação, temporaria ou permanente, alguma condição que faça com que o trabalho com essas fitas e esses sons não sejam recomendáveis? Eu digo não em relação especificamente às fitas que você acaba de mencionar. Mas ao que você utiliza nos seus workshops, nos trabalhos que você realiza aqui. Existe alguma possibilidade de contra-indicação?

DS - Existe sim. As pessoas que têm algum tipo de distúrbio neurológico ou psiquiátrico mais profundo, que estão tomando medicação pesada, em situações em que elas têm um campo muito aberto, que estejam num processo de esquizofrenia, de dupla personalidade, ou mesmo múltiplas personalidades, não é aconselhável que realizem um trabalho desses, de expansão da consciência. Porque você não sabe até que ponto, ao expandir a consciência, você pode expandir o problema também.

SPS - Se bem que a gente tem de levar em consideração aquela frase — não sei quem foi que disse — que afirma que de perto ninguém é normal, não é?

DS - Claro! Mas eu estou falando dessas coisas quando elas estão pesadas, quando a pessoa está tomando drogas pesadas, medicamentos pesados. Em caso de dúvida, eu peço à pessoa que converse com o seu médico, para que o neurologista ou o psiquiatra entre em contato comigo. Mesmo porque antes de fazer qualquer curso comigo, as pessoas assinam um termo de compromisso. E nesse documento está declarado que elas não estão tomando nenhum tipo de droga pesada, neurolépticos pesados, etc. Eu não estou falando em calmantes, em remédios para dormir. Não é disso que eu estou falando. Mas de patologia mesmo, de medicação pesada. Então ela tem de declarar que não está tomando nada, e que se responsabiliza por aquilo, que está no curso por vontade própria, no qual ela vai experenciar estados de expansão da consciência e que sabe que é totalmente responsável por todos os resultados que poderá obter.

SPS - Você já teve algum problema com alguma pessoa, durante seus cursos?

DS - Não. Nenhum problema. Mas já tive pessoas que fizeram o curso com atestado médico. Porque eu pedi ao neurologista que me desse, por escrito, a declaração de que aquela pessoa estava em condições de fazer aquele curso, apesar de estar tomando determinada medicação. Assim como tive pessoas que não fizeram o curso porque estavam com epilepsia em nível pesado, ainda sem controle. E poderiam sofrer uma crise epiléptica em pleno trabalho. Não é o caso das disritmias, que são um tipo de epilepsia não muito grave. Falo dos casos mais graves.

SPS - E o pessoal todo sai do corpo?

DS - As pessoas têm experiências. E algumas saem do corpo, embora o objetivo do curso não seja esse.

SPS - O objetivo do curso não é sair do corpo, mas as pessoas saem mesmo assim...

DS - Saem. E há pessoas que pensam que não tiveram experiência nenhuma, mas tiveram. Pensam que não expandiram a consciência. Eu acho engraçado! Elas dizem: — Aquele barulho que começou de repente me atrapalhou um pouco... Aí eu pergunto que barulho foi esse. E elas insistem: — Aquele barulho!, e repetem o som do que ouviram, tipo chuf chuf. E esse barulho acontece geralmente porque quando a pessoa expande a percepção, ela ouve o correr do sangue nas veias. Muitas vezes ouve a própria respiração, muito ampliada. Todos os movimentos crânio/sacrais, o barulho do coração, tudo bem ampliado.

SPS - Então, pra finalizar, eu queria colocar aqui uma discussão que existem em torno das experiências fora do corpo. Há quem diga que elas são perigosas, se tentadas fora de um determinado contexto, às vezes até um contexto religioso. Outros dizem que as EFCs não trazem perigo algum. Não estou falando do método Monroe, especificamente, mas das EFCs em si mesmas, provocadas voluntariamente, com consciência e lucidez. Como é isso pra você?

DS - Pois é... como é isso pra mim... pra quem nasce saindo do corpo é engraçada essa pergunta, né [risos]... Eu sempre tive muita proteção. Pra chegar até onde eu cheguei, tive muita proteção e agradeço a Deus por isso. Falo isso de mim, eu, Déborah Sachs. Eu sempre saí do corpo, desde que nasci. Eu contava para a minha mãe as coisas que eu via, conforme já disse aqui. Costumo fazer trabalhos de cura saindo do corpo, ir a locais chamados "purgatórios" da vida, vou lá de moto proprio para resgatar pessoas... eu sempre fiz isso. Mas percebo que aprendi bastante com a metodologia do Monroe, no sentido de ensinar as pessoas a fazer a mesma coisa estando protegidas. Foi isso que eu aprendi mesmo com o Monroe...

SPS - E você acha que as experiências fora do corpo podem ser perigosas? Ou não?

DS - Eu acho que elas são uma coisa desnecessária, a partir do momento em que você está no corpo. Você tem de aprender alguma coisa é nesse corpo. Você está encarnado. Eu gosto dessa expressão en-car-na-do, estar em forma de carne. Logicamente você tem alguma coisa para aprender nessa bendita forma de carne. Então vamos utilizar as coisas nessa forma de carne, com proveito pra gente, com aprendizado. Tem tanta coisa que a gente pode fazer! Sentir o sabor dos alimentos, fazer amor, entende? Você vai fazer isso no corpo! E as experiências extracorpóreas, ao menos na minha maneira bem humilde de pensar, são expansões de consciência. E é por aí que a coisa funciona. Eu não gostaria de entrar em teorias do que é corpo sutil, corpo etérico, corpo astral, corpo emocional, corpo mental... eu acho que isso é uma discussão sobre o sexo dos anjos, entende, e a gente não vai chegar a lugar nenhum...

SPS - E medianamente, você diria que é uma coisa inofensiva o indivíduo relaxar, programar-se e sair do corpo? Haveria alguma margem de risco?

DS - O indivíduo que não está devidamente preparado, com um bom roteiro, com um bom campo de proteção, poderia correr riscos sim, no sentido de encontrar entidades não muito amigas... Quando ele está na sintonia só da curiosidade ele não está numa boa sintonia. Essa pode não ser uma sintonia muito harmônica e você pode encontrar espíritos brincalhões pelo meio do caminho, e as brincadeiras às vezes são de mau-gosto. O próprio Monroe, nos livros dele, coloca que, no início, quando ainda não tinha proteção, ele encontrava essas entidades sim. Por isso eu entreguei pra você essa afirmação, que eu acho interessante que seja colocada nesse ponto da nossa entrevista, para que todo mundo se proteja. E que para todos aqueles que não têm a possibilidade de vir fazer o trabalho comigo, ou lá no Instituto, também possam se beneficiar. Eu faço uma entrega dessa Afirmação em nível público, assim com todo o amor no coração. Pra ajudar àqueles que queiram se beneficiar com um pouco mais de proteção. Porque esse é um trabalho que protege bastante. Um trabalho desenvolvido buscando a proteção mesmo, né? [Déborah refere-se à "Afirmação Gateway", base de todo o trabalho no Instituto Monroe]

SPS - Para usufruir dessa Afirmação é preciso que a pessoa se identifique integralmente com ela, não é?

DS - Integralmente. Se você pudesse transcrevê-la na nossa entrevista eu adoraria, porque é uma contribuição para todos os viajantes astrais, porque eu não sei bem como é que eles fazem isso, já que eu venho fazendo isso desde que me entendo por gente. E eu estou muito contente com esse meu corpo [risos]! Estou com ele há 56 anos e não tenho nenhuma reclamação a fazer [risos]!

SPS - Você tem vivido bem a vida, não é isso?

DS - Bem profundamente, bastante. Apesar de ter uma vivência extracorpórea também muito profunda.

SPS - A vivência extracorpórea contribui para a sua vivência no corpo, certo? Não teria sentido — pelo menos você estando encarnada — se as EFCs não lhe ensinassem alguma coisa para você utilizar na sua vida encarnada...

DS - É isso mesmo. Porque a coisa por ela mesma, sair do corpo por sair do corpo, por mera curiosidade, não lhe acrescenta nada. Agora, você sair com um roteiro, um objetivo, um crescimento — como a afirmação fala, — isto é uma intenção interessante. Para que também se aproximem de mim energias que saibam mais do que eu sei, que sejam melhores do que eu sou, então isto é uma ajuda muito grande. Isto é interessante de ser colocado, para que as pessoas se sintam com um campo mais protegido, e com uma proteção espiritual, áurica, energética, moooooita proteção [risos], pra ter sintonia energética. Porque conforme eu já falei e repito, semelhante atrai semelhante. Então, com uma sintonia de bondade, de ajuda aos outros, você também só vai encontrar quem venha lhe acrescentar mais nesse sentido. Se estiver em uma sintonia ruim, você vai encontrar energias ruins de qualquer estilo. Quanto mais você se aprofundar, mais vai encontrar formas energéticas não visíveis, e esse é o trabalho mais complicado.

SPS - Como é que você enfim resume o seu trabalho?

DS - Eu procuro conhecer o máximo possível, estudar o máximo possível, pra entregar o melhor a todas as pessoas que vêm participar dos meus workshops. Aprendo também com os meus alunos. Aprendo demais. Cada workshop é diferente, uma energia diferente, é um aprendizado contínuo, e eu sou fascinada, apaixonada pelo que faço.