quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Lisa Randall e as Múltiplas Dimensões


Há pelo menos 80 anos, tem-se buscado o ‘graal’ da física moderna: a unificação da gravitação com as outras três forças fundamentais do universo – a eletromagnética, que atua entre cargas elétricase responde, por exemplo, pelo atrito entre os corpos;a forte, que mantém os núcleos atômicos coesos;e a fraca, que está por trás de certos fenômenos radioativos. O melhor candidato da atualidade para esse posto é a teoria de supercordas, que postula que as partículas fundamentais que compõem a matéria são, na verdade, vibrações de uma entidade física com dimensões minúsculas - 10-33 cm (um décimo de milésimo de um bilionésimo de centímetro) -, a corda. O prefixo ‘super’, no caso, significa supersimetria, ou seja, cada partícula (elétrons, quarks, neutrinos etc.) teria um parceiro, a partícula supersimétrica.

Em 1999, essa busca pelo que se convencionou chamar ‘teoria de todas as coisas’ ganhou velocidade com a publicação de dois artigos da física norte-americana Lisa Randall e de seu colega Raman Sundrum. Os trabalhos de Randall tornaram-se os mais citados da física teórica dos últimos cinco anos.
Randall é também uma ativa divulgadora de ciência.

Seu primeiro e único livro de divulgação, Warped passages: unraveling the mysteries of the universe’s hidden dimensions (‘Passagens distorcidas: desvendando os mistérios das dimensões ocultas do universo’, ainda sem tradução), trata da possibilidade de o universo ter mais de três dimensões espaciais.

Professora catedrática da Universidade Harvard (Estados Unidos), Randall esteve no Rio de Janeiro no mês passado para dar uma série de palestras.

Confira a entrevista exclusiva concedida à Ciência Hoje.

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Na teoria de supercordas, o universo tem mais que as três dimensões espaciais nas quais vivemos. Onde estão as demais?

Essa questão é alvo de intensa pesquisa atualmente.
Por cerca de 80 anos, acreditou-se que elas tivessem de ser muito pequenas – tão pequenas a ponto de não podermos enxergá-las – e dobradas de modo simples ou complexo. Também se descobriu que há a possibilidade de as dimensões extras estarem extremamente distorcidas ou curvadas, de forma que, mesmo se elas forem infinitas, não as consigamos ver. Ou seja, elas estão escondidas de uma maneira que não afeta a escala na qual são feitos os experimentos até agora. Isso não significa que, no futuro, essas dimensões não poderão ser detectadas.

Por que a teoria necessita de dimensões extras?

Todos querem uma resposta fácil para essa pergunta, mas ela é sutil. Essencialmente, a teoria seria instável sem essas dimensões extras. Dito de outro modo, não conseguiríamos fazer os cálculos necessários, e ela, portanto, não faria sentido.

Por que 10 dimensões espaciais?

No início, pensava-se que eram nove. Agora, no entanto, já se acha que talvez sejam 10. Mas isso depende de a interação das cordas ser muito forte ou muito fraca. Em outras palavras, às vezes uma teoria de 10 dimensões é equivalente a outra de 11, mas com outros valores de parâmetro. Agora, o porquê desse número específico se deve a um fato matemático: é o único que faz sentido para a teoria.

E por que só uma dimensão é temporal?

Na teoria das supercordas, já se considerou mais de uma, mas a questão é que, de novo, esse tipo de teoria é instável. Parte da razão para isso é intuitiva: se houver mais de um tempo, nossas noções de física se desfazem, e ocorre todo tipo de paradoxo.

Como se pode obter evidência direta da existência dessas dimensões extras?

Há duas maneiras. A primeira tem a ver com o fato de que a gravidade parecerá diferente em certas escalas de energia. Ou seja, se elas existirem, a gravidade poderia se espalhar por mais dimensões espaciais, além das três conhecidas, e a maneira como ela, a gravidade, varia segundo a distância depende disso. A segunda maneira abrange as partículas fundamentais, que, ao se moverem por essas novas dimensões, apareceriam para nós como novos tipos de partículas cujas massas dependeriam da geometria desse espaço multidimensional.

Quando se menciona dimensões extras, as pessoas costumam pensar em universos paralelos, terras alternativas etc. Elas são as mesmas coisas?

Já dei muitas palestras públicas e, realmente, as pessoas fazem todo tipo de pergunta. Muitas delas parecem querer que seus problemas sejam resolvidos pelas dimensões extras. Mas o que nós, físicos, fazemos é tentar ver quais teorias são consistentes com as leis da física que conhecemos. Algumas pessoas acreditam na chance de existirem universos paralelos.
Pessoalmente, acho isso improvável. Contudo, o conceito de universos paralelos existe na física, mas com um sentido diferente: o de que poderia haver universos completamente diferentes do nosso, existindo em algum lugar das outras dimensões. Eles teriam uma química e uma física totalmente diferentes das nossas. É uma possibilidade real, caso haja dimensões extras.

A senhora e o físico Raman Sundrum escreveram um artigo em 1999 que se tornou um clássico da teoria das supercordas e talvez seja o trabalho mais citado desse novo campo. A senhora poderia explicar as idéias por trás desse estudo?

Na verdade, tivemos dois artigos que ficaram famosos.

Um deles, que era mais relacionado à teoria das supercordas, abordava uma maneira pela qual uma dimensão extra poderia estar oculta. Mostramos que se pode ter uma dimensão extra mesmo infinita em tamanho, se o espaço-tempo [uno quadridimensional, que reúne as três dimensões espaciais e o tempo, sendo este a quarta dimensão] for curvado ou distorcido de uma determinada maneira. O que descobrimos, um pouco acidentalmente, foi que, em uma configuração específica do espaço extradimensional, a gravidade está localizada em uma região diminuta.

Mesmo que, em princípio, a gravidade pudesse estar em qualquer lugar, na prática ela estaria altamente concentrada, tão concentrada a ponto de parecer que há menos dimensões do que realmente há, pois ela não estaria se espalhando para as outras.

A teoria das supercordas implica a supersimetria. Isso quer dizer que haverá diversas novas partículas. Cada partícula hoje conhecida teria um parceiro supersimétrico. Qual dessas a senhora acredita que será a primeira a ser detectada pelo LHC [Grande Acelerador de Hádrons] em 2007?

Primeiramente, não temos certeza de que qualquer parceiro supersimétrico das partículas que conhecemos atualmente será descoberto pelo LHC. A razão é a escala na qual a supersimetria se ‘quebra’[não se manifesta]. Se isso ocorrer em um nível de energia alto, as novas partículas serão muito pesadas para ser observadas no LHC. Mas pode ser que elas sejam relativamente leves. Nesse caso, as mais prováveis de serem detectadas são aquelas que têm interações fortes, como os gluínos, os parceiros supersimétricos dos glúons, que são mediadores da força forte nuclear, ou os squarks, parceiros supersimétricos dos quarks [estes formam, por exemplo, os prótons e os nêutrons].

Em sua primeira conferência, a senhora mencionou as branas. O que são elas e como interagem com o conceito de múltiplas dimensões?

Uma brana – cujo nome vem de membrana – pode ser uma superfície de poucas dimensões em um espaço de muitas imensões. Por exemplo, apesar de existirem quatro dimensões espaciais, pode ser que as partículas que conheçamos, como os quarks e os léptons, estejam limitadas a apenas três delas. Ou seja, talvez todas as forças, com exceção da gravitação, só possam ser encontradas nessa brana.

Então, pode haver várias branas?

Sim, mas ainda não temos a resposta. De fato, acho que isso é uma das coisas frustrantes para os que não trabalham com física: há muitas possibilidades. Na verdade, é um pouco frustrante para nós, físicos, também, mas só começamos a pensar nisso recentemente, por isso é importante explorar todas as opções.

A senhora explicou em sua conferência, no Rio, que nós habitaríamos uma brana, enquanto a gravitação estaria em outra, digamos, paralela. Quão distantes elas estariam uma da outra?

O intervalo entre as duas é extremamente pequeno. É bem próximo da chamada escala de Planck [homenagem ao físico alemão Max Planck (1858-1947)], uma escala de energia na qual a gravitação é forte. Isso quer dizer que a distância é de apenas 10-31 cm. Pode parecer que, por ser tão pequena, essa distância não tenha qualquer conseqüência, mas o fato é que ela tem: a gravidade muda radicalmente quando se vai de uma brana para a outra, tornando-se exponencialmente mais fraca.

Esse efeito é linear? Se houver outra brana após a nossa, a gravitação seria mais fraca ainda?

Sim, exponencialmente mais fraca. O que ocorreria, na verdade, é que as massas se tornariam mais leves, o que, no final das contas, tem o mesmo efeito, pois a gravitação está relacionada a quão pesadas ou energéticas são as coisas.

Então, a razão pela qual a gravitação é mais fraca é o fato de o gráviton, a partícula que mede essa força, ‘habitar’ outra brana?

Isso é mais ou menos correto. O que acontece é que a gravitação é, em realidade, parte do espaço-tempo de cinco dimensões, mas nós pensamos que vivemos em quatro dimensões, três espaciais e uma temporal. Logo, a gravitação que sentimos em nosso universo é apenas a projeção, em menos dimensões, da força original, que habita essa outra brana.

Einstein publicou sua teoria da relatividade geral em 1916. Na década de 1920, surgiram as primeiras teorias em que se propunha uma dimensão espacial extra. Por um tempo, chegou-se a acreditar que elas unificavam o eletromagnetismo e a gravidade. Entretanto, isso não se mostrou verdadeiro. Por que tem sido tão difícil unificar as quatro forças do universo desde então?

A gravitação é um pouco diferente porque a escala de energia em que ela pode ser unificada é distinta daquela na qual as outras forças se unificam. No entanto, no contexto das dimensões extras, isso pode acontecer. Um dos problemas é que, com a unificação,espera-se o surgimento de novas forças e partículas, que não conseguimos detectar. Outra dificuldade é explicar como se pode ter diferentes massas para diferentes partículas.

Que tipo de descoberta do LHC traria o selo de ‘aprovado’ para a sua teoria e a de supercordas?

As supercordas não serão comprovadas com o LHC, mas a supersimetria talvez seja, se formos capazes de ver os parceiros supersimétricos de partículas conhecidas. Se minha teoria sobre a baixa intensidade da força gravitacional estiver correta, então poderemos detectar partículas de Kaluza-Klein, que são os parceiros do gráviton, que viajam pelas dimensões extras. De fato, é possível que o glúon também se propague por essas dimensões. Nesse caso, ele também teria um parceiro passível de detecção. Esse cenário é parte do meu trabalho atual.

O universo está inundado por componentes estranhos chamados matéria e energia escuras. Sua teoria explicaria esses mistérios?

A matéria escura é mais fácil de entender nessas teorias. Na supersimetria, esse componente poderia ser a partícula supersimétrica mais leve. Se há dimensões extras, então há vários candidatos para o papel de matéria escura. Quanto à energia escura, ninguém ainda entende bem o que ela é. Eu gostaria de ver uma explicação que levasse em conta dimensões extras, mas ela ainda é um mistério.

Unificar as quatro forças fundamentais do universo significa, de certo modo, unificar a relatividade geral, uma teoria para a escala do macro, com a mecânica quântica, a teoria do micro. O físico Roger Penrose afirma que, para que isso ocorra, a mecânica quântica terá que ser modificada. Já o físico Stephen Hawking defende que a alteração deverá ser na relatividade. Qual a sua opinião?

Creio que é certo que, uma vez que se chegue a altos níveis de energia, a gravitação será modificada. Isso é algo que estamos considerando, por exemplo, no contexto de buracos negros e espaço distorcido: há casos em que a gravitação se comporta de maneira distinta. No caso da mecânica quântica, não vejo uma razão pela qual ela teria de mudar.

O que levou a senhora a se tornar física?

Quando era pequena, gostava de matemática e de ciências. No ensino médio, tive aulas de física. Já na faculdade, decidi que queria fazer algo relacionado ao mundo real. Pode parecer que meu trabalho atual não tem nada disso, porque é abstrato, mas não é só matemática pura. Gosto dos desafios e enigmas que fazem parte do modelo da física de partículas.

Ser mulher faz sua carreira ser mais fácil ou difícil?

Algumas vezes, faz ser diferente. Não quero dizer que não a dificulta, porque tenho certeza de que, em certas ocasiões, a torna mais difícil, sim. No entanto, gosto de pensar que, durante o trabalho, é a mesma coisa para todos.

A senhora se vê como modelo para mulheres que aspiram ser cientistas?

Uma das razões para ter escrito meu livro foi a escassez de obras feitas por físicas. Por isso, achei importante mostrar que há mulheres trabalhando nesse campo. Não me vejo como modelo, porque nunca pensei em ter um, mas recebo muitos comentários positivos. Portanto, para algumas pessoas, faz diferença ver uma mulher trabalhando nessa área.

Algumas resenhas de seu livro afirmam que seu estilo de escrever é similar ao de George Gamow [1904-1968], um dos maiores físicos e divulgadores da ciência do século passado. A senhora foi influenciada por ele?

Quando comecei a escrever o livro, não tinha lido muitas obras de popularização da ciência. Por isso, resolvi dar uma olhada em algumas para ter idéias, mas não cheguei a ver aquelas em que Gamow inicia os capítulos com pequenos casos relacionados ao tema. Essa, por sinal, é uma das razões pelas quais acho que nos comparam. Também começo meus capítulos dessa maneira, mas foi uma idéia independente. Ela surgiu quando conversava com um amigo que havia lido mais livros de divulgação e perguntava a ele sobre o que gostava neles. Ele mencionou essa maneira de começar o texto diferentemente.

Além disso, para mim, era importante fazer isso para que o leitor entrasse no clima e se abrisse para as novas idéias que seriam expostas. E, claro, era divertido escrever histórias.

A senhora pretende escrever outro?

Não tenho um projeto específico em mente, mas seria interessante repetir a experiência no futuro. Sinto que aprendi muito com o primeiro livro e seria uma pena desperdiçar essa experiência. Mas, neste momento, quero me dedicar à física.

A senhora é muito ativa para divulgar a ciência que faz para o público. Foi isso que a levou a escrever o livro?

Não sei se foi só isso. Sempre gostei de escrever e fazia tempo que não escrevia. Também achava importante que uma mulher escrevesse. Além disso, queria ver se poderia apresentar a física com um estilo diferente, capaz de envolver o leitor, de leválo a questionar o que estamos fazendo e a entender o porquê disso. Finalmente, divulgar é importante, pois todos deveriam ter a chance de entender o que está havendo e por que nos preocupamos com esses temas.
Setembro de 2006 • CIÊNCIA HOJE

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

O Universo como um Holograma


Em 1982 ocorreu um facto muito importante. Na Universidade de Paris uma equipe de pesquisa liderada pelo físico Alain Aspect, realizou o que pode tornar-se a mais importante experiência do século XX. Você não ouviu falar sobre isto nas notícias da noite. De facto, a menos que você tenha o hábito de ler jornais e revistas científicas, você provavelmente nunca ouviu falar no nome de Aspect. E há muitos que pensam que o que ele descobriu pode mudar a face da ciência.

Aspect e a sua equipe descobriram que sob certas circunstâncias, partículas sub atómicas como os eléctrons são capazes de, instantaneamente, comunicarem-se umas com as outras a despeito da distância que as separe. Não importa se esta distância é de 10 pés ou de 10 bilhões de milhas. De alguma forma uma partícula sabe sempre o que a outra está a fazer. O problema com esta descoberta é que isto viola a por muito tempo sustentada afirmação de Einstein que nenhuma comunicação pode viajar mais rápido que a velocidade da luz. E como viajar mais rápido que a velocidade da luz é o objectivo máximo para quebrar a barreira do tempo, este fato estonteante tem feito com que muitos físicos tentem descartar, com maneiras elaboradas, as conclusões de Aspect. Mas também têm proporcionado que outros busquem explicações mais radicais.



O físico da Universidade de Londres, David Bohm, por exemplo, acredita que as descobertas de Aspect implicam que a realidade objetiva não existe, que, a despeito da aparente solidez, o Universo está no coração de um holograma fantástico, gigantesco e extremamente detalhado.

Para entender porque Bohm faz esta afirmação surpreendente, temos primeiro que saber um pouco sobre hologramas. Um holograma é uma fotografia tridimensional feita com a ajuda de um laser. Para fazer um holograma, o objeto a ser fotografado é primeiro banhado com a luz de um raio laser. Então um segundo raio laser é colocado fora da luz refletida do primeiro e o padrão resultante da interferência (a área aonde se combinam estes dois raios laser) é capturada no filme. Quando o filme é revelado, parece um redemoinho de luzes e linhas escuras. Mas logo que este filme é iluminado por um terceiro raio laser, aparece a imagem tridimensional do objeto original.

A tridimensionalidade destas imagens não é a única característica importante dos hologramas. Se o holograma de uma rosa é cortado a metade e então iluminado por um laser, em cada metade ainda será encontrada uma imagem da rosa inteira. E mesmo que seja novamente dividida cada parte do filme sempre apresentará uma menor, mas ainda intacta versão da imagem original. Diferente das fotografias normais, cada parte de um holograma contém toda a informação possuída pelo todo.

A natureza de "todo em cada parte" de um holograma proporciona-nos uma maneira inteiramente nova de entender organização e ordem. Durante a maior parte da sua história, a ciência ocidental tem trabalhado dentro de um conceito que a melhor maneira para entender um fenômeno físico, seja ele um sapo ou um átomo, é dissecá-lo e estudar as suas partes respectivas. Um holograma ensina-nos que muitas coisas no Universo não podem ser conduzidas por esta abordagem. Se tentamos tomar alguma coisa à parte, alguma coisa construída holograficamente, não obteremos as peças da qual esta coisa é feita, obteremos apenas inteiros menores.

Este "insight" é o sugerido por Bohm como outra forma de compreender os aspectos da descoberta de Aspect. Bohm acredita que a razão que habilita as subpartículas a permanecerem em contacto umas com as outras a despeito da distância que as separa não é porque elas estejam a enviar algum tipo de sinal misterioso, mas porque esta separação é uma ilusão. Ele argumenta que num nível mais profundo da realidade estas partículas não são entidades individuais, mas são extensões da mesma coisa fundamental.

Para capacitar as pessoas a melhor visualizarem o que ele quer dizer, Bohm oferece a seguinte ilustração: imagine um aquário que contém um peixe. Imagine também que você não é capaz de ver este aquário diretamente e o seu conhecimento deste aquário dá-se por meio de duas câmaras de televisão, uma dirigida ao lado da frente e outra à parte lateral.

Quando você fica a observar atentamente os dois monitores, você acaba por presumir que o peixe de cada uma das telas é uma entidade individual. Isto porque, como as câmaras foram colocadas em ângulos diferentes, cada uma das imagens será também ligeiramente diferente. Mas se você continua a olhar para os dois peixes, você acaba por adquirir a consciência de que há uma relação entre eles. Quando um se vira, o outro faz uma volta correspondente apenas ligeiramente diferente; quando um se coloca de frente para a frente, o outro se coloca de frente para o lado. Se você não sabe das angulações das câmaras você pode ser levado a concluir que os peixes estão a inter comunicar-se, apesar de claramente este não ser o caso.

Isto, diz Bohm, é precisamente o que acontece com as partículas sub atômicas na experiência de Aspect. Segundo Bohm, a aparente ligação «mais-rápido-do-que-a-luz» entre as partículas sub atómicas está a dizer-nos que realmente existe um nível de realidade mais profundo do qual não estamos privados, uma dimensão mais complexa além da nossa própria que é análoga ao aquário. E ele acrescenta, vemos objetos como estas partículas sub atómicas como se estivessem separadas umas das outras porque estamos a ver apenas uma porção da realidade delas. Estas partículas não são partes separadas mas sim facetas de uma unidade mais profunda e mais subliminar que é holográfica e indivisível como a rosa previamente mencionada. E como tudo na realidade física está compreendido dentro destes "eidolons", o próprio universo é uma projeção, um holograma.

Em adição a esta natureza fantástica, este universo possuiria outras características surpreendentes. Se a aparente separação das partículas sub atómicas é uma ilusão, isto significa que em nível mais profundo de realidade todas as coisas do universo estão infinitamente inter-conectadas.

Os elétrons num átomo de carbono no cérebro humano estão inter-conectados com as partículas sub atómicas que compreendem cada salmão que nada, cada coração que bate, e cada estrela que brilha no céu.

Tudo interpenetra tudo e embora a natureza humana possa buscar categorizar como um pombal e subdividir os vários fenômenos do universo, toda esta necessidade é de fato artificial e todas de natureza que é finalmente uma rede sem sentido.

Em um universo holográfico, mesmo o tempo e o espaço não podem mais serem vistos como fundamentais. Porque conceitos como localização se quebram diante de um universo em que nada está verdadeiramente separado de nada, tempo e espaço tridimensional, como as imagens dos peixes nos monitores, também podem ser vistos como projecções de ordem mais profunda.

Este tipo de realidade a nível mais profundo é um tipo de super holograma no qual o passado, o presente, o futuro existem simultaneamente. Sugere que tendo as ferramentas apropriadas pode ser algum dia possível entrar dentro deste nível de realidade super holográfica e trazer cenas do passado há muito esquecido. Seja o que for que o super holograma contenha, é ainda uma questão em aberto. Pode-se até admitir, por amor à argumentação, que o super holograma é a matriz que deu nascimento a tudo em nosso universo e no mínimo contém cada partícula sub atómica que existe ou existirá - cada configuração da matéria e energia que é possível, de flocos de neve a quasars, de baleias azuis aos raios gamma. Deve ser visto como um tipo de "depósito" de "Tudo que é".

Embora Bohm admita que não há maneira de saber o que mais pode estar oculto no super holograma, ele se arrisca em dizer que não temos qualquer razão para admitir que ele não contenha mais. Ou, como ele coloca, talvez o nível super holográfico da realidade é um simples estágio além do que repousa "uma infinidade de desenvolvimento posterior".



Bohm não é o único pesquisador que encontrou evidências de que o universo é um holograma. Trabalhando independentemente no campo da pesquisa cerebral, o neurofisiologista Karl Pribram, de Standford também se persuadiu da natureza holográfica da realidade. Pribram desenhou o modelo holográfico para o quebra-cabeças de como e onde as memórias são guardadas no cérebro.

Por décadas, inúmeros estudos têm mostrado que muito mais que confinadas a uma localização específica, as memórias estão dispersas pelo cérebro.

Em uma série de experiências com marcadores na década de 20, o cientista cerebral Karl Lashley concluiu que não importava que porção do cérebro do rato era removida; ele era incapaz de erradicar a memória de como eram realizadas as atividades complexas que tinham sido aprendidas antes da cirurgia. O único problema foi que ninguém foi capaz de poder explicar a natureza de "inteiro em cada parte" da estocagem da memória.

Então, na década de 60, Pribram encontrou o conceito de holografia e entendeu que ele tinha achado a explicação que os cientistas cerebrais estavam buscando. Pribram acredita que as memórias são codificadas não nos neurônios, ou pequenos grupos de neurônios, mas em padrões de impulsos nervosos de tipo cruzado em todo o cérebro da mesma forma que a interferência da luz laser atravessa toda a área de um pedaço de filme contendo uma imagem holográfica. Em outras palavras, Pribram acredita que o próprio cérebro é um holograma.

A teoria de Pribram também explica como o cérebro humano pode guardar tantas memórias em um espaço tão pequeno.

Tem sido calculado que o cérebro humano tem a capacidade de memorizar algo na ordem de 10 bilhões de bits de informação durante a média da vida humana (ou rudemente comparando, a mesma quantidade de informação contida em cinco volumes da Encyclopaedia Britannica).

Similarmente, foi descoberto que em adição a suas outras capacidades, o holograma possui uma capacidade de estocagem de informação simplesmente mudando o ângulo no qual os dois lasers atingem um pedaço de filme fotográfico, e é possível gravar muitos registros diferentes na mesma superfície. Tem sido demonstrado que um centímetro cúbico pode estocar mais que 10 bilhões de bits de informação.

Nossa habilidade de rapidamente recuperar qualquer informação que precisamos do enorme estoque de nossas memórias se torna mais compreensível se o cérebro funciona segundo princípios holográficos. Se um amigo pede a você que diga o que lhe vem a mente quando ele diz a palavra "zebra", você não tem que percorrer uma gigantesca lista alfabética para encontrar a resposta. Ao contrário, associações como "listrada", parecida com um cavalo e "animal nativo da África" logo lhe vem à mente.

Uma das coisas mais surpreendentes sobre o processo de pensamento humano é que cada peça de informação parece imediatamente correlacionada com muitas outras - uma outra característica intrínseca do holograma. Por que cada porção de um holograma é infinitamente interligada com todas as outras porções, talvez seja a natureza o supremo exemplo de um sistema interligado.

A estocagem da memória não é o único quebra-cabeças neurofisiológico que se torna abordável à luz do modelo holográfico de cérebro de Pribram.

Um outro é como o cérebro é capaz de traduzir a avalanche de freqüências que recebe via sentidos (freqüências de sons, freqüências de luz e assim por diante) dentro do mundo concreto de nossas percepções. Codificar e decodificar freqüências é precisamente o que o holograma faz melhor.

Exatamente como um holograma funciona como um tipo de lente, um aparelho tradutor capaz de converter um borrão de freqüências aparentemente sem sentido em uma imagem coerente, Pribram acredita que o cérebro também parece uma lente e usa os princípios holográficos para converter matematicamente as freqüências que recebe através dos sentidos dentro do mundo interior de nossas percepções. Um impressionante corpo de evidência sugere que o cérebro usa os princípios holográficos para realizar as suas operações. A teoria de Pribram de fato tem ganho suporte crescente entre os neurofisiologistas.

O pesquisador ítalo-argentino Hugo Zucarelli recentemente estendeu o modelo holográfico ao mundo dos fenômenos acústicos. Confuso pelo fato de que os humanos podem localizar a fonte dos sons sem moverem as cabeças, mesmo se eles só possuem audição em um ouvido, Zucarelli descobriu que os princípios holográficos podem explicar estas habilidades.

Zucarelli também desenvolveu uma técnica de som holográfico, uma técnica de gravação capaz de reproduzir sons acústicos com um realismo quase inconcebível.

A crença de Pribram que nossos cérebros constroem matematicamente a "dura" realidade pela liberação de um input de uma freqüência dominante também tem recebido grande quantidade de suporte experimental. Foi descoberto que cada um de nossos sentidos é sensível a uma extensão muito mais ampla de freqüências do que se suspeitava anteriormente.

Os pesquisadores têm descoberto, por exemplo, que nosso sistema visual é sensível às freqüências de som, nosso sentido de olfato é em parte dependente do que agora chamamos de freqüências ósmicas e que mesmo cada célula de nosso corpo é sensível a uma ampla extensão de freqüências. Estas descobertas sugerem que está apenas sob o domínio holográfico da consciência e que estas freqüências são selecionadas e divididas dentro das percepções convencionais.

Mas o mais envolvente aspecto do modelo holográfico cerebral de Pribram é o que acontece quando ele é conjugado à teoria de Bohm. Se a "concretividade" do mundo nada mais é do que uma realidade secundária e o que está "lá" é um borrão de freqüências holográfico, e se o cérebro é também um holograma e apenas seleciona algumas das freqüências deste borrão e matematicamente transforma-as em percepções sensoriais, o que vem a ser a realidade objetiva? Colocando de forma simples, ela deixa de existir.

Como as religiões orientais há muito têm afirmado, o mundo material é Maya, uma ilusão, e embora pensemos que somos seres físicos que se movem em um mundo físico, isto também é uma ilusão. Somos realmente "receptores" boiando num mar caleidoscópico de freqüência, e o que extraímos deste mar e transformamos em realidade física não é mais que um canal entre muitos do super holograma.

Esta intrigante figura da realidade, a síntese das abordagens de Bohm e Pribram tem sido chamada de "paradigma holográfico", e embora muitos cientistas tenham recebido isto com ceticismo, este paradigma tem galvanizado outros. Um pequeno mas crescente grupo de pesquisadores acredita que este pode ser o modelo mais acurado da realidade científica que foi mais longe. Mais do que isto, muitos acreditam que ele pode solucionar muitos mistérios que nunca foram antes explicados pela ciência e mesmo estabelecer o paranormal como parte da natureza.

Numerosos pesquisadores como Bohm e Pribram têm notado que muitos fenômenos parapsicológicos se tornam muito mais compreensíveis em termos do paradigma holográfico.

Em um universo em que cérebros individuais são atualmente porções indivisíveis de um holograma muito maior e tudo está infinitamente interligado, a telepatia pode ser simplesmente o acessamento do nível holográfico. E é obviamente muito mais fácil entender como a informação pode viajar da mente do indivíduo A para a do indivíduo B, ao ponto mais distante, e auxilia a entender um grande número de quebra-cabeças em psicologia.



Em particular, Grof sente que o paradigma holográfico oferece um modelo de compreensão para muitos estonteantes fenômenos vivenciados por indivíduos durante estados alterados de consciência. Nos anos 50, conduzindo uma pesquisa em que se acreditava que o LSD seria um instrumento psicoterapêutico, Grof teve uma paciente que de repente ficou convencida que tinha assumido a identidade de uma fêmea de uma espécie pré-histórica de répteis.

Durante o curso da alucinação dela, ela não somente deu riquÍssimos detalhes do que ela sentia ao ser encapsulada naquela forma, mas notou que uma porção do macho daquela espécie tinha anatomia que era um caminho para as escamas coloridas ao lado de sua cabeça. O que foi surpreendente para Grof é que a mulher não tinha conhecimento prévio sobre estas coisas, e uma conversação posterior com um zoologista confirmou que em certas espécies de répteis as áreas coloridas na cabeça tem um importante papel como estimulantes do desenvolvimento sexual.

A experiência desta mulher não foi única. Durante o curso da pesquisa, Grof encontrou exemplos de pacientes regredindo e se identificando com virtualmente todas as espécies na árvore evolucionária (descobertas da pesquisa ajudaram a influenciar a cena do homem-vindo-do- macaco no filme Altered States). E mais ainda, ele descobriu que estas experiências freqüentemente continham detalhes obscuros que mais tarde vieram a ser confirmados como acurados.

Regressões dentro do reino animal não são os únicos quebra cabeças entre os fenômenos psicológicos que Grof encontrou.

Ele também teve pacientes que pareciam entrar em algum tipo de consciência racial ou coletiva. Indivíduos com pouca ou nenhuma educação repentinamente davam detalhadas descrições das práticas funerárias do Zoroastrismo e cenas da mitologia hindu. Em outro tipo de experiências os indivíduos forneciam relatos persuasivos de jornadas fora do corpo, relâmpagos pré cognitivos do futuro, de regressões dentro de aparentemente encarnações de vidas passadas.

Em pesquisa posterior, Grof encontrou a mesma extensão de fenômenos manifestados em seções de terapia que não envolviam o uso de drogas. Em virtude dos elementos em comum nestas experiências parecerem transcender a consciência individual, além dos usuais limites do ego e/ou das limitações de tempo ou espaço, Grof chamou estas manifestações de experiências transpessoais e no fim dos anos 60 ele auxilou na fundação de um ramo de psicologia chamada "psicologia transpessoal" e se devotou inteiramente ao seu estudo.

Embora a recém-fundada Association of Transpersonal Psychology conquistasse um rápido crescimento entre o grupo de profissionais de mente similar, e se tornasse um ramo respeitado da psicologia, durante anos nem Grof nem seus colegas foram capazes de fornecer um mecanismo para explicar os bizarros fenômenos psicológicos que eles estavam testemunhando. Mas isto mudou com o advento do paradigma holográfico. Como Grof recentemente notou, se a mente é parte de um continuum, um labirinto que é conectado não somente às outras mentes que existem ou existiram, mas a cada átomo, cada organismo e região na vastidão do espaço e tempo, o fato de que seja capaz de ocasionalmente fazer entradas no labirinto e ter experiências transpessoais não pode mais parecer estranho.

O paradigma holográfico tem também implicações nas chamadas ciências "concretas" como a biologia. Keith Floyd, um psicólogo do Virginia Intermont College, tem pontificado que a concretividade da realidade é apenas uma ilusão holográfica, e não está muito longe da verdade dizer que o cérebro produz a consciência. Mais ainda, é a consciência que cria a aparência do cérebro - bem como do corpo e de tudo mais que nós interpretamos como físico.

Esta virada na maneira de se ver as estruturas biológicas fez com que pesquisadores apontassem que a medicina e o nosso entendimento do processo de cura poderia também ser transformado em um paradigma holográfico. Se a aparente estrutura física do corpo nada mais é do que a projeção holográfica da consciência, torna-se claro que cada um de nós é mais responsável por sua saúde do que admite a atual sabedoria médica. Que nós agora vejamos as remissões miraculosas de doenças podem ser próprias de mudanças na consciência que por sua vez efetua alterações no holograma do corpo.

Similarmente, novas técnicas controversas de cura como a visualização podem funcionar muito bem porque no domínio holográfico de imagens pensadas que são muito "reais" se tornam "realidade". Mesmo visões e experiências que envolvem realidades "não ordinárias" se tornam explicáveis sob o paradigma holográfico. Em seu livro, "Gifts of Unknown Things," o biologista Lyall Watson descreve seu encontro com uma mulher xamã indonésia que, realizando uma dança ritual , foi capaz de fazer um ramo inteiro de uma árvore desaparecer no ar. Watson relata que ele e outro atônito expectador continuaram a olhar para a mulher, e ela fez o ramo reaparecer, desaparecer novamente e assim por várias vezes.

Embora o atual entendimento científico seja incapaz de explicar estes eventos, experiências como esta vêm a ser mais plausíveis se a "dura" realidade é apenas uma projeção holográfica. Talvez concordemos sobre o que está "lá" ou "não está lá " porque o que chamamos consenso, realidade é formulada e ratificada a nível de inconsciência humana a qual todas as mentes estão interligadas.

Se isto é verdade, a mais profunda implicação do paradigma holográfico é que as experiências do tipo da de Watson não são lugares comum somente porque nós não temos programado nossas mentes com as crenças que fazem com que sejam.

Num universo holográfico não há limites para a extensão do quanto podemos alterar o tecido da realidade. O que percebemos como realidade é apenas uma forma esperando que desenhemos sobre ela qualquer imagem que queiramos.

Tudo é possível, de colheres entortadas com o poder da mente aos eventos fantasmagóricos vivenciados por Castaneda durante seus encontros com o bruxo Yaqui Don Juan, mágico de nascença, não mais nem menos miraculoso que a nossa habilidade para computar a realidade que nós queremos quando sonhamos.

E assim, mesmo as nossas noções fundamentais sobre a realidade se tornam suspeitas, dentro de um universo holográfico, como Pribram postulou, e mesmo eventos ao acaso podem ser vistos dentro dos princípios básicos holográficos e portanto determinados.

Sincronicidades ou coincidências significativas de repente fazem sentido, e tudo na realidade terá que ser visto como uma metáfora, e mesmo eventos ao acaso expressariam alguma simetria subjacente.

Seja o paradigma holográfico de Bohm e Pribram aceito na ciência ou morra de morte ignóbil, é seguro dizer que ele já tem influenciado a mente de muitos cientistas. E mesmo se descoberto que o modelo holográfico não oferece a melhor explicação para as comunicações instantâneas que vimos ocorrer entre as partículas subatômicas, no mínimo, como observou e notou Basil Hiley, um físico do Birbeck College de Londres, os achados de Aspect " indicam que devemos estar preparados para considerar radicalmente novos pontos de vista da realidade".

Fonte: http://www.pan-portugal.com/library/articles/holograma.html

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O Sepulcro Esquecido de Jesus


Análises científicas realizadas em ossuários de pedra calcária e evidências físicas encontradas em uma tumba de dois mil anos, em Talpiot, Jerusalém, indicam que essa sepultura pode ter contido os restos mortais de Jesus de Nazaré e sua família. Este documentário inédito, assinado pelos cineastas James Cameron e Simcha Jacobovici, revela com exclusividade o que pode se tratar do maior achado arqueológico da História. A produção apresenta as últimas evidências sugeridas por especialistas renomados internacionalmente, baseadas em inscrições em aramaico, análises de DNA, ciência forense, arqueologia e estatística. Entre as maiores descobertas relatadas pelo programa, está a evidência de que Jesus e Maria Madalena possam ter concebido um filho chamado Judas.

Segundo o documentário, a tumba de Talpiot continha, originalmente, 10 ossuários, nove dos quais ainda estão sob a guarda da instituição Israel Antiquity Authority (IAA – Autoridade de Antigüidades Israelense). Seis dessas caixas, datadas do primeiro século d.C., apresentam inscrições com nomes que constam do Novo Testamento — “Jesus, filho de José”, “Maria,” “Maria Madalena”, “Mateus”, “José” e “Judas, filho de Jesus.”

“Essa tem sido uma jornada de três anos mais extraordinária do que qualquer filme de ficção”, disse Jacobovici. “A idéia de se ter possivelmnete encontrado a tumba de Jesus e de vários membros de sua família, com evidências científicas convincentes, vai muito além do que eu poderia imaginar”. “Fizemos nosso trabalho, documentamos o caso; agora, chegou a hora do debate”, comentou James Cameron.

O doutor Carney Matheson, do Laboratório de Paleo-DNA da Universidade de Ontário, Canadá, conduziu análise mitocondrial de DNA em partículas microscópicas de material colhido dos ossuários de “Jesus, filho de José” e “Mariamene e Mara” (em grego, que sugere o nome “Maria Madalena”). Os testes concluem que ambos não eram geneticamente relacionados. “Pelo fato de ser tumba reservada a membros de uma mesma família, é possível deduzir que se trata de um casal”. Como mostra o documentário, Jacobovici e sua equipe usam câmeras robóticas para localizar a tumba. Acreditava-se que ela tivesse sido destruída, mas na verdade ela se encontrava no centro de um moderno complexo de apartamentos, em Jerusalém. Depois de entrar rapidamente na tumba, os arqueólogos tiveram que seguir o regulamento local e a lacraram, com a esperança de um dia retornar e conduzir suas análises.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Allan Kardec e os primórdios do Espiritismo


" Um dia, no futuro, provar-se-á, não posso dizer quando ou onde, que a alma humana já está, durante a vida terrena, numa comunicação ininterrupta com os que vivem já no outro mundo; que a alma humana pode agir sobre esses seres e receber, em troca, impressões deles sem ter consciência disso na personalidade comum. "
Immanuel Kant .

Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Durante todo o século XVIII, a França se ergueu como o farol intelectual da civilização ocidental. Para lá iam artistas, professores, filósosfos e cientístas. Apesar do esbanjamento e da corrupção da côrte, Paris foi, desde muito tempo, a capital europeia mais atrativa para os intelectuais do continente. Juntamente com a Alemanha, sua maior rival, a França era quem dirigia os rumos do intelecto humano, e foi com o Iluminismo que Paris passou ser conhecida como "a Cidade Luz", pois, depois de tanto tempo à mercê dos ditames do clero e da aristocracia, o homem era incentivado a ser independente, a pensar com a própria cabeça. "Todos os homens são iguais", era o slogan do Iluminismo, que nasceu e teve seus maiores conseqüências em solo francês.

Embora tenha sido, na verdade, um retumbante movimento burguês, com seus lamentáveis e inevitáveis excessos, a Revolução Francesa teve o mérito de desmitificar a pseudo-superioridade das classes privilegiadas (a corrupta aristocracia e o hipócrita clero católico), levantando a bandeira contagiante da "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", e da "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão". Evidentemente, a efervescência do período desembocou num paradoxo: surge o império napoleônico. Mas os frutos intelectuais da Revolução permitiram limpar a Europa do velho ranço aristocrático, forçando a melhoria dos direitos sociais em todas as nações do ocidente, fortificando, mais do que nunca, o papel do Direito.

Foi em meio a esse clima de mudanças e de reconstrução de um novo mundo, onde vingava, por toda parte, o perfume primaveril do romantismo, que nasce, a 03 de outubro de 1804, em plena era napoleônica, na cidade de Lyon, Hippolite Léon Denizard Rivail, que mais tarde adotaria o pseudônimo Allan Kardec. Ele era filho de um juiz, Jean Baptiste-Antoine Rivail, e sua mãe chamava-se Jeanne Duhamel.

Conta-se que o pai o iniciou com todo cuidado nas primeiras letras e o incentivou à leitura dos clássicos, já em tenra idade. Denizard Rivail sempre se mostrou muito interessado em ciências e em línguas. Após completar os primeiros estudos em Lyon, Denizard partiu para a Suiça, para completar seus estudos secundários na escola do célebre professor Pestalozzi, na cidade de Yverdun. Bem cedo o jovem de Lyon chama a atenção do mestre, que o coloca como seu auxilar nos trabalhos acadêmicos que exercia, tendo algumas vezes substituido Pestalozzi na direção da escola, enquanto este empreendia alguma viagem de divulgação de sua metodologia de ensino ou era convidado para criar, em outras localidades, uma insituição nos moldes de Yverdun. Denizard também exercia com prazer o papel de professor, ensinando aos seus colegas as lições que aprendera. Ele, apesar de tão responsável, era visto como um jovem amável e espirituoso, mas muito disciplinado. Não há registros de que tenha sido mal-quisto em qualquer fase de seu período estudantil.

Denizard Rivail bacharelara-se em Letras e Ciências. Falava fluentemente vários idiomas. Após ser dispensado do serviço militar, resolve fundar, em Paris, uma escola nos moldes da de Yverdun, que foi chamada de Liceu Polimático. Ele estava empenhado no aperfeiçoamento pedagógico da educação francesa, e, por isso, escreveu vários livros no assunto, tendo sido premiado, em 1831, por seu trabalho, pela Academia Real de Arras. Por esta mesma época casa-se com a professora Amélie Gabrielle Boudet.

Quando tudo parecia ir bem, o sócio de Rivail, que era seus tio, leva o Liceu à ruína, por dissipar, no jogo, vastas somas. Nada restava a Rivail que pedir a liquidação do Instituto a que se dedicara com tanto amor. Com o dinheiro resultante da partilha, Rivail sofre um outro revés da sorte. Após ter aplicado o dinheiro na casa comercial de um de seus amigos, este logo abre falência, por realizar maus negócios, e Denizard se vê na constrangedora situação de nada mais ter.

Para poder sobreviver, Rivail se lança freneticamente a escrever livros didáticos e a trabalhar como contador de três firmas comerciais, o que lhe possibilitou, após o susto e o desespero iniciais, recuperar parte de seu antigo padrão de vida. Chegou a organizar, também, cursos de Física, Química, Astronomia e Anatomia Comparada que eram muito populares entre os jovens da época.

Depois de algum tempo, Denizard Rivail já tinha o necessário para viver com certo conforto e se dedicar ao ensino novamente.

Quase que paralelamente a estes acontecimentos na vida de Denizard Rivail, ocorre nos E.U.A um conjunto de fenômenos que deram início ao nascimento do moderno espiritismo (este termo, espiritismo, foi cunhado em 1857, por Rivail, para distinguir este movimento do de outras escolas espiritualistas). Trata-se dos fenômenos ocorridos em Hydesville, estado de New York, em 1848, na casa da família Fox, que era metodista, e, portanto, longe de ter qualquer queda ou interesse por fatos que poderíamos hoje chamar de paranormais. As fortes pancadas pancadas que começaram a ser violentamente ouvidas no quarto das irmãs Katherine e Margaretta e que se fizeram frequentes por várias semanas levaram a primeira, então com nove anos, a desafiar "o batedor" a reproduzir as pancadas que ela mesma daria. A prontidão das respostas acabaria por marcar o início desse tipo de comunicação entre vivos e mortos (Enciclopédia Mirador-Britannica, p. 4171).

Por esta época, em Paris, estava em voga uma nova moda (como se dizia na época). Tratava-se das chamadas "mesas falantes" ou "mesas girantes", que consistia em se fazer perguntas ao redor de uma mesa ou outro móvel qualquer que respondia através de pancadas às perguntas formuladas. Isto era visto apenas como uma sutil e inexplicável diversão de salão, quando não era encarada como uma brincadeira ou embuste espirituoso. Mas havia quem levasse a sério tais coisas, pois muitas vezes as mesinhas davam respostas corretas sem que ninguém conseguisse provar ou descobrir quem ou o que fazia as mesas responderem as questões. Convém notar que esta "moda" das mesinhas que giravam parecia ocorrer em todos os lugares e em vários países, num boom que dificilmente pode ser creditado ao acaso. Em 1854, Deinzard ouve falar pela primeira vez sobre tais "fenômenos", mas sua primeira atitude é a de ceticismo: "eu crerei quando vir, e quando conseguirem provar-me que uma mesa dispõe de cérebro e nervos, e que pode se tornar sonâmbula; até que isso se dê, dêem-me a permissão de não enxergar nisso mais que um conto para provocar o sono".

Por insistência dos amigos, Rivail presencia algumas das manifestações físicas das mesinhas. Depois da estranheza e da descrença inicial, Rivail começa a cogitar seriamente na validade de tais fenômenos. Eis o que ele nos relata: "De repente encontrava-me no meio de um fato esdrúxulo, contrário, à primeira vista, às leis da natureza, ocorrendo em presença de pessoas honradas e dignas de fé. Mas a idéia de uma mesa falante ainda não cabia em minha mente". E ainda: "Pela primeira vez pude testemunhar o fenômeno das mesas que giravam e pulavam em tais condições que dificilmente poderia se acreditar serem frutos de embuste ou fraude (...) Minhas idéias longe estavam de terem sofrido uma modificação, mas em tudo aquilo que se sucedia devia haver uma explicação" (segundo Henri Sausse, in Allan Kardec, ed. Opus, 1982). Foi em 1855 que Rivail testemunha pela primeira vez o fenômeno das mesas girantes. Passa então a observar estes fatos; pesquisa-os cuidadosamente e, graças ao seu espírito de investigação, que sempre lhe fora peculiar, resiste a elaborar qualquer teoria preconcebida. Ele quer, a todo custo, descobrir as causas. Como disse Henri Sausse: "(...) Sua razão repele as revelações, somente aceita observações objetivas e controláveis. (...) Vários amigos que acompanhavam há cinco anos o estudo dos fenômenos, (...) colocam à sua disposição mais de cinquenta cadernos, contendo as comunicações feitas pelos Espíritos (...). O estudo desses cadernos constituiu, para Rivail, o trabalho mais profundo e mais decisivo. Foi por esse estudo que ele se (...) convenceu da existência do mundo invisível e dos Espíritos."

Ele utilizava o material dos cadernos, com as respostas dadas pelos supostos espíritos, para refazer as mesmas perguntas para outros médiuns, de preferência desconhecido dos primeiros. Com base nas novas respostas, Rivail comparava o conteúdo de ambas, e ficava perplexo com as similaridades freqüentes entre elas. Ele reformulava as perguntas, e pedia a ajuda de amigos para fazê-las a outros médiuns, em outras localidades. Ele recebia as respostas e compilava-as organizadamente por tópicos e assuntos.

Como poderia pessoas que nunca se viram dar as mesmas respostas para as mesmas perguntas, às quais possuiam, frequentemente, um grande peso filosófico e uma amplidão de conhecimentos que escapavam à formação ou aos conhecimentos normais dos médiuns? A única resposta lógica seria a de que agentes inteligentes as dariam por intermédio de certas pessoas com uma sensibilidade psíquica especial: os médiuns. Além do mais, Rivail notou que poderia existir uma extraordinária discrepância entre o desenvolvimento moral e intelectual de um médiun e as comunicações obtidas em estado de transe, que na época se chamava estado sonambúlico, ou, algumas vezes, de mesmerização, nome devido ao pioneiro da hipnose, Mesmer. Sendo assim, a faculdade de comunicar-se com os agentes inteligentes invisíveis é independente do grau de desenvolvimento espiritual do médiun, havendo médiuns moralmente medíocres, e até mesmo, perversos, e outros médiuns de grande desenvolvimento moral, que podem, uns e outros, receberem mensagens de cunho elevado ou banal.

Por estarem numa dimensão diferente da nossa, estes agentes inteligentes invisíveis teriam de vivenciar uma realidade própria ao estado vibratório de sua dimensão que explicaria algumas características das repostas dadas. Isso abriria um imenso leque de cogitações e de explicações extraordinárias. Mas Rivail não se deixou levar pelo entusiasmo.

Ele percebeu claramente, desde o início, que muitas das respostas obtidas por meio dos médiuns eram tolas e pueris, e outras tinham muito a ver com os conhecimentos ou as crenças do próprio médium, embora, durante o transe, ele comumente não tivesse consciência do que dizia ou escrevia. Assim, Rivail chegou às seguintes conclusões:

Primeiro, se são agentes inteligentes não físicos que dão as respostas, nem por isso eles parecem ser muito diferentes dos homens vivos, pois suas respostas são parecidas às repostas que qualquer homem daria, inclusive dentro do nível de instrução a que tenham chegado, pois há respostas muito bem elaboradas junto com muitas outras muito fúteis. E, segundo, algumas vezes as respostas são dadas de forma não-consciente, pelo próprio médium. Então, seria o agente inteligente do próprio médium que daria certas respostas, em certas ocasiões. Estas repostas não são destituídas de valor. Elas podem apresentar um extraordinário grau de maturidade, mesmo que sejam estranhas ao pensamento normal do médium quando em estado de vigília ou de consciência desperta normal.

Assim, Denizard Rivail reconhecia clara e lucidamente que as entidades, por serem seres extra-corpóreos, nem por isso eram necessariamente mais sábias que os homens encarnados. Elas mesmas diziam que nada mais eram do que os Espíritos dos homens que já morreram, e por isso mesmo, continuavam tão humanas e cheias de falhas quanto antes. E mais ainda, Rivail antecipou-se extraordinariamente em mais de quarenta e três anos a Sigmund Freud (1856-1939) ao reconhecer uma ação incionsciente pessoal agindo sobre a manifestação mediúnica, algumas vezes. Assim, poderemos nos perguntar, Rivail não teria sido um precursor da cética Psicanálise?

Com o estudo meticuloso das respostas dadas pelos espíritos, por meio de diversos médiuns e em diversas localidades de diversos países, Rivail teve suficiente material para compor um livro. Ele faz uma lúcida introdução sobre seu trabalho no prefácio da obra que fez nascer o moderno Espiritismo: O Livro dos Espíritos, lançado em Paris, em 18 de abril de 1857 (faça um download deste e de outros livros de Kardec na Home Page da FEB). Na capa da obra, está o nome do autor, ou melhor, o seu pseudônimo, Allan Kardec. Rivail preferiu por este nome em sua mais importante obra, para diferenciar sua temática das de suas obras anteriores, voltadas à educação e à pedagogia. E por que Allan Kardec? Bem, certa ocasião, depois repetida inúmeras vezes, um espírito, que se denominava de Z, havia dito a Rivail que eles haviam sido amigos numa vida anterior! Eles haviam vivido entre os Druidas, nas Gálias, e o nome de Rivail era, na ocasião, Allan Kardec. É incrível, mas mais uma vez uma antiga concepção (certeza?) fluente no ocidente desde Pitágoras, Sócrates, Platão, Plotino e entre os povos originários da Bretanha Maior e Menor, como os dos Celtas, bem como como nos chamados movimentos heréticos como a dos Cátaros e a dos Templários, vinha à tona novamente na Europa: a idéia da Reencarnação.

De uma profundidade filosófica e psicológica desconcertantes, O Livro dos Espíritos possui passagens e reflexões que vão muito além do nível de conhecimento ordinário de sua época de publicação, inclusive no que tange aos aspectos científicos da obra. Citemos, só de passagem, a noção de evolução das espécies vivas dado pelos espíritos e comentado por Kardec, publicado nesta obra um ano antes do livro seminal de Charles Darwin, A Origem das Espécies, ou , ainda, da indentidade entre matéria e energia (chamado por Kardec de fluido universal), que se diferenciam entre si apenas por um estado de condensação da energia, muito antes de Albert Einstein.... De igual modo, as noções de percepção de consciência como sendo diferentes manifestações de maturação psíquica lembra e muito as atuais abordagens da Psicologia, principalmente a Psicologia Transpessoal. Há momentos em que a apresentação da doutrina em O Livro dos Espíritos não fica a dever em nada às melhores teorias da personalidade da Psicologia moderna. A descrição de Kardec do Fluido Universal lembra a do conceito de orgônio, ou orgon, dado pelo psicanalista Wilhelm Reich, pai da Bioenergética. Da mesma forma, os fundamentos e causas do processo da reencarnação é idêntico aos fundamentos e causas postulados por alguns psicoterapêutas (muitos dos quais não conhecem Allan Kardec) e que, por meios de desenvolvimento e pesquisas diversos, a paritr do atendimento clínico de pacientes, chegaram à técnica da Terapia de Vida Passada - TVP. E a filosofia de vida que a doutrina estimula a adotar é, em muitos pontos, similar às condições propícias ao desenvolvimento da auto-atualização que é o lema dos psicólogos humanistas, tais como Abraham Maslow e Carl Ransom Rogers. A noção de animismo aponta para o conceito de inconsciente que teve em Sigmund Freud seu mais sério teórico, e a de evolução espiritual lembra o processo de individuação postulado pelo gênio de Carl Gustav Jung.

E ainda mais assobroso, Kardec logo reconheceria que seu estudo sobre a comunicação dos chamados espíritos (como elas mesmas se diziam ser, as forças inteligentes), que ele chamou de espiritismo, não trazia nada de realmente novo, a não ser o fato destes fenômenos serem vistos e entendidos sob a ótica moderna, científica: (...) Constituindo uma lei da natureza, os fenômenos estudados pelo Espiritismo hão de ter existido desde a origem dos tempos e sempre nos esforçamos por demonstrar que dele se descobrem sinais na antigüidade mais remota. Pitágoras, como se sabe, não foi o autor da mentempsicose (ou seja, da transmigração da alma pela reencarnação); ele o colheu dos filósofos indianos e dos egípcios, que o tinham desde tempos imemoriais (...) o que não padece dúvidas é que uma idéia não atravessa séculos e séculos, e nem consegue impor-se à inteligências de escol, se não contiver algo de sério (...)" (Kardec, p. 143 de O Livro dos Espíritos, ed. FEB).

É por isso também que a introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de 1864 (obra de cunho filosófico com o objetivo de escalarecer a posição da doutrina frente à mensagem do Cristo) traz um estudo histórico que culmina em um resumo do posicionamento de Sócrates e Platão como precursores dos mais elevados ideiais cristãos e, em suas filosofias, de vários tópicos do espiritismo, como bem fica evidenciado no diálogo Fédon, de Platão. Já em O Livro dos Espíritos, Kardec tece comentários sobre a ancestralidade das idéias básicas do espiritismo (c.f. capítulo V da obra citada) e como os fenômenos ditos espíritas são universais.

Os fenômenos que caracterizam o espiritismo, especialmente o da comunicação entre vivos e "mortos", são mencionados e reconhecidos como existentes em todas as épocas da humanidade, qualquer que seja a cultura considerada. Um dos mais antigos e claros registros a este respeito, dentro de nossa tradição judáico-cristã, é a referência bíblica que está em 1 Samuel 28,7-19, onde Saul visita a pitonisa (médium) de En-Dor, que lhe possibilitou a comunicação com o espírito do profeta Samuel. Os fenômenos referentes ao Novo Testamento, mais apropriadamente aos Evangelhos, podem ser consultados na Home Page sobre Jesus.

A idéia da reencarnação, por exemplo, é tão antiga e universal quanto a própria humanidade (ver o capítulo V de O Livro dos Espíritos), e é a base de diversas tradições filosóficas e religiosas do oriente, como o Budismo e o Hinduismo, por exemplo, e a das religiões pré-cristãs da Europa, como a dos Druidas, ou, posteriormente, baseados no cristianismo, o posicionamento de alguns pais da Igreja antes do concílio de Constantinopla, em 533, quando a doutrina da reencarnação foi abolida por motivos políticos, mas que é encontrada em figuras excepcionais da igreja, como em Orígenes de Alexandria, só para citar um exemplo. Ainda houve a presença de alguns movimentos fortemente contestatórios da ação da Igreja de Roma, como a dos Cátaros, embora os conhecimentos antropológicos, históricos e sociológicos de seu tempo não permitissem a Kardec ir muito além na análise destas tradições, filosofias e ocorrências históricas. Além do mais, diferentemente de outras escolas espiritualistas, Kardec fez absoluta questão de expor seus estudos de forma racional, sem cair nas armadilhas do discurso místico ordinário, mais levado pela emoção e pela fantasia que pela razão, a partir de fatos, fenômenos e percepções reais, com o máximo zelo à análise e ao cuidado da descrição dos fenômenos a partir de sólidos referenciais lógicos. Seu trabalho seria, então, de trazer ao nível intelectual moderno alguns fenômenos que sempre acompanharam o homem em sua história e que foram negligencados pela ciência mecanicista moderna, principalmente a partir do legado mecanicista de Descartes e de Newton, apesar de ambos terem sido pessoas espiritualizadas, principalmente o segundo, que foi o primeiro grande cientista da era moderna e o último grande mago dos tempos alquímicos.

Em 1º de Janeiro de 1858, Allan Kardec publica o primeiro número da Revista Espírita, que serviu como poderosa auxiliar para os trabalhos ulteriores e para a divulgação da Doutrina Espírita na Europa e América. Segundo Henri Sausse, "em menos de um ano (...)", a Revista Espírita "(...) estava espalhada por todos os continentes do Globo. (...) De tal maneira aumentou o número de assinantes, que Kardec, a pedido destes, reimprimiu duas vezes as coleções de 1858, 1859 e 1860 (...)".

Dentre os mais célebres admiradores, amigos e estudiosos de Kardec ou do espiritismo, destacamos o famoso astrônomo francês Camille Flammarion, o filósofo H. Bergson, o psicólogo e filósofo William James, o físico William Crookes, o biólogo Alfred Russel Wallace, o físico Oliver Lodge, o escritor Arthur Conan Doyle, dentre inúmeros outros.

Podemos expor a importância do trabalho de Kardec por estas palavras do pai da moderna Parapsicologia, o fisiólogo Charles Richet: "Allan Kardec foi o homem que no período de 1857 a 1871 exerceu a mais penetrante influência, e que traçou o sulco mais profundo na ciência metapsíquica" (Charles Richet in "Traité de Métapsychique", p. 34). Da mesma forma, vários outros estudiosos confirmam a importância de Allan Kardec no desenvolvimento dos estudos psíquicos no mundo inteiro. Camille Flammarion, um dos maiores astrônomos da história, sempre lhe foi grato pelos estudos que eram correntes na Sociedade de Estudos Espíritas de Paris, e foi ele quem fez o discurso fúnebre de Kardec, e a lista poderia se alongar com o nome de vários outros célebres pesquisadores, como Ernesto Bozzano, César Lombroso, dentre vários outros.

Em 1º de abril de 1858, Allan Kardec funda a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que tinha por objetivo "(...) o estudo de todos os fenômenos relativos às manifestações espíritas e suas aplicações às ciências morais, físicas, históricas e psicológicas. (...)" - Não era intenção de Kardec fundar uma religião, como ocorreu posteriormente a partir do seu legado. Para ele "A ciência espírita compreende duas partes: uma experimental, relativa às manifestações em geral; a outra, filosófica, relativa às manifestações inteligentes e suas conseqüências" (Kardec, in O Livro dos Espíritos, tópico XVII da Introdução). Discutiremos sobre isso mais adiante, tomando o próprio Kardec e outros autores como referência.

Em outubro 1861 ocorreu um patético acontecimento, para não dizer repulsivo. Trata-se do famoso "Auto-de-Fé", promovido pela Igreja Católica na cidade de Barcelona, Espanha, onde foram queimadas em praça pública cerca de trezentas publicações espíritas. Estas obras, encomendadas a Allan Kardec pelo bibliotecário e livreiro Maurício Lachâtre, foram enviadas de forma comum, nas condições alfandegárias normais, tendo as taxas de importação sido pagas pelo destintário às autoridades espanholas; porém a entrega das encomendas não foi realizada. Elas foram confiscadas pelo Bispo de Barcelona, com a seguinte justificativa: "A Igreja Católica é universal, e estes livros são contrários à fé católica, não podendo o governo (veja só, voltamos a ter a mistura do poder temporal com o religioso, sendo este último mais forte) permitir que eles passem a perverter a moral e religião de outros países".

Talvez com saudades dos áureos tempos de absoluto domínio das consciências humanas, à base de ferro e fogo, o douto Bispo de Barcelona, em doentia demonstração de esnobismo típicas de quem se acha no direito pertencer à seleta instituição dos únicos representantes da vontade de Deus na Terra, fez reacender as fogueiras que tantas vítimas inocentes fizeram em séculos anteriores, onde, pelas mãos de um carrasco, as obras foram queimadas certamente no lugar das pessoas que deveriam lá estar: os espíritas franceses em geral, e um homem em particular: Allan Kardec. Em tudo a pantomima seguiu as regras de uma execução inquisitorial, como podemos ler pelos autos do processo:

"Assistiram ao auto-de-fé:

"Um padre, com seus hábitos sacerdotais, tendo, em uma das mãos, a cruz e, na outra, uma tocha;

"Um tabelião encarregado de redigir o processo verbal do auto-de-fé;

"O assistente do tabelião;

"Um funcionário superior da administração das alfândegas;

"Três serventes da alfândega, com a função de alimentar o fogo;

"Um agente da alfândega, representando o proprietário das obras condenadas;

"Uma incalculável multidão se fez presente, enchendo os passeios, cobrindo a esplanada onde ardia a fogueira;

"Depois de o fogo ter consumido os trezentos volumes e brochuras espíritas, o sacerdote e seus auxiliares retiraram-se cobertos pelas vaias e maldições dos inúmeros assistentes, que bradavam: Abaixo a Inquisição!

"Depois, muitas pessoas, em protesto, aproximaram-se e apanharam as cinzas".

E, graças a esta demonstração de brutalidade da religião de Roma, o espiritismo acabou tendo uma grande repercussão em toda a Espanha, granjeando inúmeros adeptos. De certa forma, este ato alçou o Espiritismo ao mesmo patamar de outros mártires da liberdade de espírito, incluindo Jacques DeMolay, Galileu, Giordano Bruno e aquela que, com toda a infalibilidade papal, foi condenada como bruxa à fogueira para, quatro séculos depois, ser elevada à categoria de santa, Joana D'Arc (demorou bastante para a infalibilidade papal reconhecer o erro).

Eis uma observação de Kardec, na Revue Spirite de 1864, p. 199, com respeito à divulgação do Espiritismo como uma religião pelos doutores da Lei da era moderna: "Quem primeiro proclamou que o Espiritismo era uma religião nova, com seu culto e seus sacerdotes, senão o clero? Onde se viu, até o presente, o culto e os sacerdotes do Espiritismo? Se algum dia ele se tornar uma religião, o clero é quem o terá provocado".

Kardec passou o resto da de sua vida no mister de divulgar os resultados de seus estudos e os de outros colegas. Empreendeu inúmeras viagens pela França e pela Bélgica entre 1859 a 1868, e escreveu várias brochuras e pequenos artigos para a divulgação do Espiritismo.

Kardec escreveu ainda muitos outros livros, entre eles se destacam O Livro dos Médiuns, de 1861; em 1864, O Evangelho Segundo o Espiritismo; em 1865, o maravilhoso O Céu e o Inferno, ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo; em 1868, A Gênese. Sempre lúcido e lógico, soube como enfrentar a oposição e difamação de inimigos gratuitos com dignidade e nobreza, reconhecendo quando algum argumento oposto tinha um valor sério e sincero. Manteve-se à frente da Societé Parisiene D'Études Spirites, além de escrever outros livros e artigos para a Revista Espírita, até seu desencarne, ocorrido em 31 de março de 1869, aos 65 anos de idade, causado por um colapso cardíaco.


Princípios básicos da Doutrina Espírita

- Deus –

1. Existe uma Inteligência Suprema, Absoluta, não cogniscível, Causa Primária de todas as coisas, que se chama Deus, Jeová, Iavé, Alá, Brahman, O Uno, Grande-Espírito, etc. Não há efeito sem causa. A causa de um universo ordenado é, pois, uma causa acima do universo. Deus, portanto.
2. Deus está acima de qualquer definição. Como nos fala Plotino, Deus está, por ser Absoluto, acima de qualquer definição, pois Ele/Ela é infinito em seus atributos e perfeições. Além, portanto, das limitações do pensamento intelectual humano. Qualquer que seja a palavra usada para se ter uma idéia de Deus, ela sempre estará expressando algo de limitado, humano. Mas, ainda assim, podemos dizer, numa etapa didática de analogia possível ao homem, que Deus é eterno, imutável, imaterial, único, soberanamente justo e bom e Infinito em todas as suas perfeições. Mesmo estas definições são coisas sem muito sentido para se definir Deus. Expressam pálidas idéias humanas, e seu sentido pode variar de uma para outra pessoa. E é por isso que assim falam os espíritos: "Creia, não queiras ir além do fato intuitivo da existência de Deus. Não vos percais num labirinto que vos confundirá e do qual não podereis sair. Isso não vos tornará melhores, mas um pouco mais orgulhosos, porque vocês acreditaram saber sobre algo que, na verdade, vos escapa e do qual nada, em realidade, sabes. Deixai, pois, de lado todos estes sistemas que apenas vos dividem; tendes bastante coisas que vos tocam mais de perto, a começar por vós mesmos. Estudai as vossas próprias imperfeições, a fim de vos libertar delas, o que vos será mais útil e mais benéfico do que pretenderes penetrar com vossas limitações no que é impenetrável" (Resposta dada pelos espíritos à pergunta nº 14 de O Livro dos Espíritos)

- O Espírito -

3. Há no homem, ou melhor, É o homem, em sua essência, um princípio inteligente, a que normalmente chamamos "Alma" ou "Espírito", independente da matéria, em íntimo contato com o corpo, que é-lhe instrumento de aperfeiçoamento, e que possui todas as faculdades morais e psíquicas inerentes ao ser humano.

4. As doutrinas materialistas são, em grande parte, responsáveis pelo estado de náusea e desesperança que aflige, em grande parte, a humanidade. Veja-se o tópico sobre Holismo para um maior aprofundamento sobre esta afirmação.

5. O Espiritismo, enquanto Ciência (aspecto tão enfatizado por Allan Kardec, mas, atualmente, um tanto negligenciado pelos espíritas brasileiros, que transformaram a doutrina em quase que unicamente uma religião), o Espiritismo prova a existência da alma por meio dos atos inteligentes do homem e pelos atos inteligentes das manifestações mediúnicas.

6. A alma humana, ou espírito, sobrevive ao corpo, embora traga em si traços deste corpo, e conserva a sua individualidade após a morte deste.

7. A alma do homem é ditosa ou infeliz depois da morte em conseqüência direta de seus atos durante a vida, que se inscrevem em sua consicência moral.

8. A existência de um Ser Supremo, Deus, a alma e a sobrevivência e individualidade da alma após a morte do corpo, bem como o estado de felicidade ou infelicidade futuras, constituem princípios básicos fundamentais de, praticamente, todas as religiões. Por isso todas as religiões são válidas. Elas representam modalidades do entendimento do transcendente de acordo com os diversos estados de consciência do ser humano.

9. Todas as criaturas vão, sucessivamente, evoluindo no plano moral e intelectual, pelas diversas etapas por que passam nas várias reencarnações, num continuum que vai surgindo em progressão dos reinos inorgânicos até os mais incorpóreos e espirituais.

10. A Terra não é o único planeta habitado, e nem o mais aperfeiçoado. Existem uma infinidade de mundos habitados, que oferecem vários âmbitos de evolução e aprendizado para os espíritos.

11. Há uma lei de causalidade moral, conhecida como Lei do Carma, que interliga as várias vidas sucessivas do espírito, de modo a lhe dar o meio condizente com os atos praticados anteriormente, mas onde pode atuar agora, por meio de seu livre-arbítrio.

Comentários

O aspecto moral da doutrina, resultante da filosofia espírita, foi posteriormente confundido e amalgamado com um aspecto religioso. Por possibilitar, através de sua filosofia, uma religação efetiva com a dimensão espiritual do homem, o espiritismo permite usufrir ao seu estudioso um sentimento de religiosidade, no sentido latino do termo (religare, ou seja de se religar com algo superior, transcendente) que vai muito além do sentido atual da palavra religião. A Religiosidade, que é sentimento superior ao estreito rótulo da religião, é que preenche de fato a doutrina espírita.

É o próprio Kardec quem também nos fala que o espiritismo, por ser uma ciência e uma filosofia, "é, pois, a mais potente auxiliar da religião" (Kardec, O Livro dos Espíritos, página 111 da edição da FEB), sendo, pois, algo que, se não é uma religião em si, a não ser que se queira isso, respeita todas as religiões, pois elas são a expressão da ânsia humana pelo sublime e pelo transcendente, e são válidas, assim como cada teoria de personalidade, na Psicologia, é válida de acordo com o posicionamento e maturação psicológica e emocional de cada indivíduo. Infelizmente, fizeram do espiritismo o que bem quiseram, do mesmo modo como fizeram o que bem quiseram dos ensinos do Cristo, de Sócrates, e outros....

Um estudo realmente aprofundado e sistematizado da obra de Kardec esclareceria a todos sobre estes pontos, que acredito ser de fundamental importância para a maturação da tolerância entre as diferenças religiosas e uma vacina contra qualquer tipo de dogmatismo que, vez por outra, parece brotar no posicionamento religioso de alguns espíritas e dirigentes espíritas brasileiros que, por força da tradição católica em nossa cultura, têm transformado alguns centros - que deveriam ser casas sérias de estudos psíquico-espirituais - em verdadeiras igrejas - e sem a competência destas, pois algumas pessoas passam a dar palestras sem mínimo de aprofundamento na doutrina ou nas ciências psíquicas, como em psicologia e psiquiatria, além das leituras básicas da codificação kardequiana, tirando conclusões apressadas e/ou equivocadas de alguns fenômenos psicológicos que incidem sobre parte de nossa população, taxando-os de obsessão e outras coisas mais. Ora, nem todos os problemas são causados por pertubações espirituais - isso é acusar os espíritos injustamente -, ou, se existe alguma parcela disto, foi por algum desajuste primeiro do sujeito encarnado, desajuste de cunho íntimo e pessoal que precisa de tratamento mais dirigido ao aspecto psicológico, mudando seu padrão de pensamentos e seus hábitos mentais imediatos, que são a causa de atração do espírito desencarnado, por sintonia psíquica. Sendo assim Kardec apontou para o fato de que muitos de nossos desajustes se devem à causas pisicossomáticas e espirituais interligadas, pondo-se, portanto, bem à frente do desenvolvimento da psicologia de seu tempo, apontando para as teorias correntes agora, nos meios acadêmicos sobre o papel da medicina psicossomática na dinâmica das doenças e distúrbios mentais.

Kardec tinha plena consciência do fato de que os conhecimentos adquiridos em seus estudos eram apenas o primeiro passo de uma longa jornada, e, como nos fala o grande escritor Léon Denis em sua obra "Depois da Morte", no capítulo XX, "A doutrina de Allan Kardec, nascida - não será demasiado repeti-lo - da observação metódica, da experiência rigorosa, não se torna um sistema definido, imutável, fora e acima das conquistas futuras da ciência. Resultado combinado de conhecimentos dos dois mundos, de duas humanidades de planos paralelos penetrando-se uma na outra, ambas, porém, imperfeitas e a caminho do entendimento de verdades mais profundas, do desconhecido, a Doutrina dos Espíritos transforma-se sem cessar, pelo trabalho e pelo progresso, e (...) acha-se aberta às retificações, aos esclarecimentos do futuro". E é isto que tem de ficar bem claro para o movimento espírita brasileiro, com alguns setores cristalizados e dogmatizados. A verdade é muito ampla para estar contida apenas nas obras do primeiro período da codificação, e as ciências evoluem para uma compreensão mais holística do homem e do universo que deve estar presente também nas nossas casas de estudo espíritas. E se há ainda pessoas que se realizam apenas no aspecto religioso do movimento, muitas outras há, especialmente entre os jovens, que anseiam por ver novos horizontes onde possam se lançar à altos vôos com as duas asas, como nos fala Emmanuel, da razão e a do coração.

Neste sentido é bom relembrar mais algumas palavras do próprio Kardec:

"O Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos como qualquer filosofia espiritualista, pelo que forçosamente vai encontrar-se com AS BASES FUNDAMENTAIS DE TODAS AS RELIGIÕES: DEUS, A ALMA E A VIDA FUTURA. MAS NÃO É UMA RELIGIÃO CONSTITUÍDA, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre seus adeptos reais, nenhum tomou o título de sarcedote ou de sumo sarcedote" (...) "O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural; proclama-a para seus adeptos assim como para todas as pessoas. Respeita todas as convicções sinceras e faz questão de reciprocidade". (Kardec, in "Obras Póstumas" - Ligeira Resposta aos Detratores do Espiritismo, páginas 260 e 261 da 21º edição da FEB, com destaques meus).

Ora, é muito lamentável que algumas instituições que se dizem espíritas tenham em seus meios pessoas com a pseudo-sabedoria de se arvorarem donas de todo o conhecimento e evitem o contato com outros sistemas de pensamento ou com as novas descobertas científicas. Esquecem-se, em nome do dogmatismo e da vaidade, os dois mandamentos essenciais do espiritismo: "Espíritas, amai-vos, eis o primeiro mandamento; instruí-vos, eis o segundo", e põem um limite quase instransponível entre a mesa, com seus dirigentes, e a assembléia, num arremedo de hierarquia, arremate de um nível de poder político comum às religiões institucionalizadas. Ainda há tempo de retomar a seara da forma como foi planejada por Kardec, basta humildade e solidariedade, nada mais, junto com um sincero desejo de estudar e de instruir-se. Felizmente nas fileiras espíritas brasileiras existem lumiares de alto valor dentro do aspecto científico e filosófico, como Hernani Guimarães Andrade, Henrique Rodrigues, Hermínio C. Miranda, Clovis Nunes, Jorge Andrea, Raul Teixeira, Divaldo P. Franco e, por meio de sua mediunidade maravilhosa, Francisco Cândido Xavier. De forma mais ou menos indireta, também temos a obra fantástica de Pietro Ubaldi que, com a sua A Grande Síntese demonstrou algumas das temáticas só agora mais ou menos popularizadas ou divulgadas como consequência da evolução da Física Quântica ou da concepção Holística da filosofia da ciência que foram divulgadas em grande parte nas obras de Fritjof Capra. Mas isto é um outro assunto.

Acho que o precioso trabalho de Allan Kardec ainda há de ser reconhecido pelas gerações vindouras. O sucesso que sua obra logrou a ter na segunda metade do século XIX foi, de certa forma, ofuscada pelas crises e guerras sucessivas por que passou a Europa, que acabou por entrar numa fase de descrença existencial, com a perda de seus ideais mais espirituais, bem exemplificada pelo niilismo e mecanicismo do século XX, bem como pelo surgimento de outras correntes espirituais mais esotéricas, de sabor fortemente ocultista e, por isso mesmo, mais atraentes para algumas pessoas às quais o mecanicismo de nossa época desagrada, como a Teosofia de H. P. Blavatisk, e outras. Mas só o tempo, como agora parece ocorrer, dirá o que de fato é a obra de um dos homens mais universais do século XIX.


Bibliografia Sugerida


Atenção: Alguns dos livros espíritas aqui indicados podem ser retirados (por download) pela Internet

Enciclopédia Mirador-Britannica, 1992.Kardec, Allan A Codificação da Doutrina Espírita - Coletânea das Obras básicas de Kardec, Instituto de Difusão Espírita, São Paulo, 1997.

Kardec, Allan O Livro dos Espíritos, Federação Espírita Brasileira, São Paulo, 1990.Kardec, Allan O Que é o Espiritismo, Federação Espírita Brasileira, São Paulo, 1990.Kardec, Allan O Livro dos Médiuns, Lake, São Paulo, 1988.Kardec, Allan O Céu e o Inferno, Lake, São Paulo, 1988.Kardec, Allan Obras Póstumas, Federação Espírita Brasileira, São Paulo, 1990.Wantuil, Zeus & Thiesen, Francisco Allan Kardec, vol. I, II e III, Fed. Espírita Brasileira, 1984.Sausse, Henri Biografia de Allan Kardec em Allan Kardec, Ed. Opus, São Paulo,1982.

João Pessoa, Paraíba, 02/01/1997

Revisto e ampliado em 10 de março de 1998

Gregg Braden - O DNA e as Emoções


(Como o artigo anterior está em espanhol e traz um apanhado de diversas descobertas, algumas até um tanto polêmicas, como é o caso de Berrenda Fox, coloco aqui em separado e em português estas três experiências relacionando o DNA com nossas emoções, a fim de que não corram o risco de passarem desapercebidas.)

Experiências e respostas do DNA em relação às nossas emoções (por Gregg Braden). A seguir, três assombrosos experimentos com o DNA (ADN) que provam as qualidades e sua autocura em consonância com os sentimentos da pessoa.

EXPERIMENTO 1

O primeiro experimento foi realizado pelo Dr. Vladimir Poponin, um biólogo quântico. Nessa experiência começou-se por esvaziar um recipiente (quer dizer que se criou um vazio em seu interior) e o único elemento deixado dentro foram fótons (partículas de luz).

Foi medida a distribuição desses fótons e descobriu-se que estavam distribuídos aleatoriamente dentro desse recipiente. Esse era o resultado esperado. Então foi colocada dentro do recipiente uma amostra de DNA e a localização dos fótons foi medida novamente. Dessa vez os fótons haviam se ORGANIZADO EM LINHA com o DNA. Em outras palavras, o DNA físico produziu um efeito nos fótons não-físicos.

Depois disso, a amostra de DNA foi removida do recipiente e a distribuição dos fótons foi medida novamente. Os fótons PERMANECERAM ORDENADOS e alinhados onde havia estado o DNA. A que estão conectadas as partículas de luz? Gregg Braden diz que estamos impelidos a aceitar a possibilidade de que exista um NOVO campo de energia e que o DNA está se comunicando com os fótons por meio desse campo.

EXPERIMENTO 2

Esse experimento foi levado a cabo pelos militares. Foram recolhidas amostras de leucócitos (células sanguíneas brancas) de um número de doadores. Essas amostras foram colocadas em um local equipado com um aparelho de medição das mudanças elétricas. Nessa experiência, o doador era colocado em um local e submetido a “estímulos emocionais” provenientes de videoclipes que geravam emoções ao doador. O DNA era colocado em um lugar diferente do que se encontrava o doador, mas no mesmo edifício.

Ambos, doador e seu DNA, eram monitorados e quando o doador mostrava seus altos e baixos emocionais (medidos em ondas elétricas) o DNA expressava RESPOSTAS IDÊNTICAS e AO MESMO TEMPO. Não houve lapso e retardo de tempo de transmissão. Os altos e baixos do DNA COINCIDIRAM EXATAMENTE com os altos e baixos do doador.

Os militares queriam saber o quão distantes podiam ser separados o doador e seu DNA e continuarem observando este efeito. Pararam de experimentar quando a separação atingiu 80 quilômetros entre o DNA e seu doador e continuaram tendo o MESMO resultado. Sem lapso e sem retardo de transmissão. O DNA e o doador tiveram as mesmas respostas ao mesmo tempo. Que significa isso? Gregg Braden diz que as células vivas se reconhecem por uma forma de energia não reconhecida anteriormente. Essa energia não é afetada pela distância e nem pelo tempo. Essa não é uma forma de energia localizada, é uma energia que existe em todas as partes e todo o tempo.

EXPERIMENTO 3

O terceiro experimento foi realizado pelo Instituto Heart Math e o documento que lhe dá suporte tem este título: Efeitos locais e não locais de freqüências coerentes do coração e alterações na conformação do DNA (Não se fixem no título, a informação é incrível!) Esse experimento relaciona-se diretamente com a situação com o antrax. Nesse experimento tomou-se o DNA de placenta humana (a forma mais prístina de DNA) e colocou-se em um recipiente onde se podia medir suas alterações. 28 amostras foram distribuídas, em tubos de ensaio, ao mesmo número de pesquisadores previamente treinados. Cada pesquisador havia sido treinado a gerar e SENTIR sentimentos, e cada um deles podia ter fortes emoções.

O que se descobriu foi que o DNA MUDOU DE FORMA de acordo com os sentimentos dos pesquisadores.

Quando os pesquisadores sentiram gratidão, amor e apreço, o DNA respondeu RELAXANDO-SE e seus filamentos esticando-se. O DNA tornou-se mais grosso. Quando os pesquisadores SENTIRAM raiva, medo ou stress, o DNA respondeu APERTANDO-SE. Tornou-se mais curto e APAGOU muitos códigos. Você há se sentiu alguma vez “descarregado” por emoções negativas? Agora já sabe por que seu corpo também se descarrega!

Os códigos de DNA conectaram-se novamente quando os pesquisadores tiveram sentimentos de amor, alegria, gratidão e apreço. Essa experiência foi aplicada posteriormente a pacientes com HIV positivo.

Descobriram que os sentimentos de amor, gratidão e apreço criaram RESPOSTAS DE IMUNIDADE 300.000 vezes maiores que a que tiveram sem eles. Assim, temos aqui uma resposta que nos pode auxiliar a permanecer com saúde, sem importar quão daninho seja o vírus ou a bactéria que esteja flutuando ao redor. Mantendo os sentimentos de alegria, amor, gratidão e apreço.

Essas alterações emocionais foram mais além de seus efeitos eletromagnéticos. Os indivíduos treinados para sentir amor profundo foram capazes de mudar a forma de seu DNA. Gregg Braden diz que isso ilustra uma nova forma de energia que conecta toda a criação. Essa energia parece ser uma REDE ESTREITAMENTE TECIDA que conecta toda a matéria. Podemos influenciar essencialmente essa rede de criação por meio de nossas VIBRAÇÕES.

RESUMO:

O que tem a ver os resultados dessas experiências com nossa situação presente?Essa é a ciência que nos permite escolher uma linha de tempo que nos permite estar a salvo, não importa o que aconteça. Como Gregg explica em seu livro O EFEITO DE ISAÍAS, basicamente o tempo não é apenas linear (passado, presente e futuro), mas também é profundidade. A profundidade do tempo consiste em todas as linhas de tempo e de oração que possam ser pronunciadas ou que existam. Essencialmente, suas orações já foram respondidas. Simplesmente ativamos a que estamos vivendo por meio de nossos SENTIMENTOS.

É assim que criamos nossa realidade, ao a escolhermos com nossos sentimentos. Nossos sentimentos estão ativando a linha do tempo por meio da rede de criação, que conecta a energia e a matéria do universo. Lembre-se que pela Lei do Universo atraímos aquilo que colocamos em nosso foco. Se você focar em temer qualquer coisa, seja lá o que for, estará enviando uma forte mensagem ao Universo para que te envie aquilo a que você mais teme.

Em troca, se você puder se manter com sentimentos de alegria, amor, apreço ou gratidão e focar-se em trazer mais disso para sua vida, automaticamente conseguirá afastar o negativo. Com isso, você estaria escolhendo uma LINHA DE TEMPO diferente com esses sentimentos.Pode-se prevenir o contágio do antrax, ou de qualquer outra gripe ou vírus, ao se permitir sentimentos positivos que mantêm um sistema imune extraordinariamente forte. Sendo assim, essa é uma proteção para o que vier.Busque algo pelo qual você possa estar alegre todos os dias, cada hora se possível, momento a momento, ainda que sejam alguns poucos minutos. “Esta é a mais fácil e melhor das proteções que você poderá ter.”

*

Há séculos o poder terapêutico dos sons tem sido utilizado por curadores, místicos e xamãs em suas práticas de cura, através da utilização de cânticos, mantras, preces e músicas sagradas, com o objetivo não só de estabelecer a conexão com a Divindade, mas de auxiliar os indivíduos na restauração do bem-estar físico, emocional e espiritual. Desde tempos imemoriais sabe-se que determinados tipos de sons podem produzir alterações de estados de consciência, permitindo aos indivíduos vivenciarem não só sentimentos de um profundo relaxamento, mas também de transcendência espiritual. Nesse sentido, a música tem sido utilizada por xamãs de todo o mundo e de todas as épocas, como um meio que permite aos indivíduos atingirem níveis bastante elevados de conexão com planos espirituais. A comprovação daquilo que tem sido demonstrado pelas tradições espirituais ao longo de tantos séculos, que os sons podem interferir positiva ou negativamente nos estados mentais e emocionais dos indivíduos, começa agora a ser validada por pesquisas que utilizam imagens gráficas computadorizadas obtidas por equipamentos de ressonância magnética e pelos traçados de ondas cerebrais obtidos por aparelhos de eletroencefalografia (EEG). Os resultados obtidos por esses equipamentos permitem uma melhor compreensão da relação existente entre diferentes freqüências sonoras, e nisso se incluem a música e a linguagem, e os conseqüentes estados mentais e emocionais por elas produzidos. Músicas utilizadas para meditação, por exemplo, produzem uma lentificação das ondas cerebrais e um maior relaxamento, enquanto que músicas de batida mais intensa levam a uma alteração das ondas cerebrais que produzem um estado de maior excitação emocional. Ao que parece a relação existente entre os sons, o funcionamento cerebral e o comportamento emocional dos indivíduos, é muito maior do que poderíamos pensar.

Tom Kenyon em seu livro “Brain States” nos fala a respeito de um interessante estudo conduzido pela dra Sue Chapman no hospital de Nova York, onde bebês prematuros internados na unidade neonatal foram divididos em dois grupos. O objetivo de tal pesquisa era avaliar a influência da música no desenvolvimento desses bebês. Ambos os grupos de bebês recebiam cuidados idênticos, a não ser pelo fato de que o grupo experimental ouvia várias vezes ao dia a canção de ninar de Brahms, enquanto que o grupo de controle não escutava essa canção. Os resultados foram surpreendentes. Os ‘bebês Brahms’ apresentaram um menor número de complicações, ganharam peso mais rapidamente, desenvolveram-se melhor, obtendo alta do hospital em média uma semana antes dos bebês do grupo de controle. Os resultados falam por si mesmos. Segundo os pesquisadores, tendo em vista o quanto a música pode afetar áreas difusas do cérebro, a canção de ninar de Brahms teria presumivelmente provocado alterações benéficas do ponto de vista cerebral, o que permitiu melhores resultados no estado geral desses bebês.

Em um outro estudo realizado em um monastério de monges beneditinos na França, Alfred Tomatis, um médico francês, foi chamado para atender monges que apresentavam sinais bastante claros de depressão, apatia e falta de apetite. Ao chegar ao monastério, Tomatis soube que o novo monge superior que havia assumido suas funções alguns meses antes, considerava-se um homem ‘moderno’ e passou a proibir a realização dos tradicionais cânticos gregorianos, por considerá-los ‘medievais’. Quando tal hábito foi restaurado, o estado de ânimo dos monges sofreu radical transformação, desaparecendo por completo os sinais de depressão. Os cânticos gregorianos eram os únicos estímulos sonoros presentes na vida desses monges e sua ausência demonstrou, sem dúvida alguma, sua importância fundamental para esses indivíduos.

A influência que os sons exercem na vida dos seres humanos apresenta desdobramentos ainda mais desafiadores, se entendermos que a linguagem é som, e que enquanto tal, dependendo da forma como é empregada, significativas alterações no comportamento dos indivíduos podem ocorrer. Recentes pesquisas no campo da genética têm demonstrando de forma surpreendente, que a chave para o entendimento da estreita relação entre sons, linguagem, estados emocionais e comportamento, encontra-se na estrutura do código genético humano.

A forma como a linguagem é utilizada apresenta uma importância fundamental para profissionais como terapeutas, advogados, políticos, clérigos e profissionais de vendas, que sabem que as palavras certas, empregadas no tom apropriado e da forma mais adequada, se tornam o fator que faz toda a diferença. Mas quais os mecanismos responsáveis pelo impacto causado pela linguagem? Experimentos e pesquisas científicas têm comprovado aquilo que as tradições místicas e esotéricas já falam há séculos: que os sons podem interferir positiva ou negativamente nas vidas dos indivíduos. As razões pelas quais isso acontece começam a serem encontradas através de interessantes pesquisas no campo da genética. Sabe-se que somente 10% do DNA humano é o responsável pela formação do corpo físico e pela determinação de características como cor dos olhos e cabelos, sendo que os restantes 90% foram por muito tempo tradicionalmente considerados como “sem função”. Todavia, ao que parece, é mais especificamente essa significativa porção de DNA que apresenta uma estreita relação com os processos da linguagem. Tal fato foi comprovado através de pesquisas realizadas por um grupo de geneticistas e lingüistas russos, liderados por Peter Gariaev, Ph.D, e Vladimir Poponin, Ph.D; ambos pesquisadores Sênior do Instituto de Física e Bioquímica da Academia de Ciências Russas. Esse grupo de pesquisadores trouxe ao conhecimento da comunidade científica algo absolutamente surpreendente: a comprovação de que o poder de influência das palavras (e da linguagem) sobre o ser humano, está relacionado à influência que os sons exercem sobre o DNA. Segundo os resultados obtidos através de pesquisas nos campos da genética e da linguística, tanto a linguagem quanto o DNA possuem uma estrutura idêntica, como se estivéssemos diante de um ‘texto lingüístico’ e de um ‘texto genético’, estabelecendo uma relação entre esses dois sistemas. Da mesma forma como a seqüência das palavras em uma frase é o que dá sentido ao que se quer dizer, uma seqüência específica de genes é o que determinará as características físicas dos indivíduos.

Até muito recentemente acreditava-se que a manipulação genética poderia ser realizada somente através do corte de material genético e inserção de genes. As pesquisas conduzidas pelos pesquisadores russos, têm demonstrado a possibilidade de uma medicina genética completamente nova, onde por mais incrível que possa parecer, o DNA pode ser ‘re-programado’ através da utilização de freqüências sonoras específicas! Para nosso assombro e surpresa, foi demonstrado que a utilização de vibrações sonoras adequadas, produziu alterações em amostras de DNA vivo! Pelo fato de ser completamente natural ao nosso DNA reagir aos sons, torna-se compreensível as razões pelas quais o comportamento humano sofre tamanho impacto através das sugestões hipnóticas, das afirmações místico-religiosas, da oratória de determinados profissionais, e até mesmo e principalmente através do que é dito pelos pais no processo de educação. O que esses pesquisadores mostraram é que existe uma relação entre linguagem e DNA mais estreita do que se poderia pensar.

A importância dos sons para a vida dos seres humanos não pára por aí. Autores como Tom Kenyon nos falam que tudo o que existe no Universo, desde os planetas até o jornal que você segura em suas mãos, encontra-se em constante estado de vibração. Ainda que não possamos perceber claramente, essa ‘realidade vibratória’ dá origem a ondas sonoras de freqüências variáveis. Isso também se aplica ao corpo humano, onde cada órgão apresenta uma freqüência vibratória (sonora) específica para seu funcionamento saudável. É como se nosso corpo tocasse uma ‘sinfonia’ inaudível para nossos ouvidos, onde cada órgão apresenta um tipo específico de vibração sonora. Nesse sentido, alterações nas ‘freqüências saudáveis’ dos órgãos vão dar origem ao surgimento dos mais variados tipos de doenças orgânicas. Da mesma forma, sons adequadamente produzidos poderiam restabelecer as freqüências saudáveis dos órgãos.

As implicações futuras para tais descobertas são muitas. Acredito que estejamos no limiar do surgimento de um novo tipo de Medicina Preventiva onde através de uma “Ciência dos Sons”, grandes avanços possam ser obtidos em relação à prevenção e cura de certas doenças, através da utilização de freqüências sonoras especificamente adequadas. As possibilidades ao que parece são inúmeras, e só nos resta aguardar com expectativa e curiosidade o desenrolar de descobertas que permitam os conseqüentes benefícios físicos e emocionais tão necessários a uma vida equilibrada e saudável, através da utilização de procedimentos mais naturais aos organismos dos indivíduos.

Monica Guberman Raza
Psicóloga Clínica Terapeuta Holística
mcrstar@hotmail.com